Saiba por que o Fusca chinês seria um tiro no pé da GWM Brasil
Exibido para jornalistas e clientes de todo o mundo na pista da Haval na China, o Fusca chinês Ora Ballet Cat está fora de cogitação
BAODING, China -- Entre as novidades que está apresentando para o mundo, a GWM Brasil não queria ver o modelo Ora Ballet Cat – que ganhou o apelido de Fusca chinês – exibido na pista da Haval em Baoding, na China. Chegou a pedir aos organizadores que o carro não estivesse lá. Mas estava. E todo mundo correu para ver.
Apesar de algumas soluções bizarras para diferenciá-lo do Volkswagen Fusca original, como os faróis com formato de lanterna do Fuscão e as quatro portas, a silhueta do carro mais famoso do mundo exerceu uma atração fatal sobre jornalistas e clientes. Restou à GWM Brasil, portanto, explicar por que não tem planos para importar o Ora Ballet Cat, que, por enquanto, é vendido exclusivamente na China.
O próprio apelido do carro já diz o porquê da rejeição da GWM Brasil. “Fusca chinês” é uma expressão que remete a um modelo de outra montadora, no caso a alemã Volkswagen. E no Brasil a chinesa GWM tem planos mais ambiciosos: ela se autodenomina uma "autotech", ou seja, uma empresa de automóveis e tecnologia.
O Ora Ballet Cat é 100% elétrico, mas não deixa de ser a releitura de um carro lançado antes da Segunda Guerra Mundial, um projeto dos anos 1930, quase um século atrás. E o século da GWM não é o 20, mas o 21.
Por isso, por mais que o Ora Ballet Cat – que ganhou este nome porque tem um apelo “feminino” na China – tenha seu charme e seus encantos, vendê-lo no Brasil seria apenas criar um problema onde não existe.
Primeiro, pela rejeição que causaria pelos amantes do VW Fusca original, que tem apenas duas portas e motor traseiro. Segundo porque nem a própria Volkswagen conseguiu relançar o Fusca com o volume que teve na geração original. E mesmo que o Ora Ballet Cat tivesse um grande volume, não é este o objetivo da GWM Brasil no momento.
O que a montadora chinesa quer – e está conseguindo – é obter lucratividade com volumes modestos e atuando em áreas nas quais traz inovação. Nesse ponto, o Haval H6 inovou ao trazer três versões híbridas: uma com bateria de 2 kWh, outra com 34 kWh e outra com a pegada esportiva do Grã-Turismo (GT).
Da mesma forma, o Ora 03 inovou ao trazer um design inovador e aspiracional num carro elétrico muito interessante, superior até mesmo ao BYD Dolphin na opinião de muitos especialistas. Nos dois casos, a GWM ganhou mais dinheiro do que previa porque vendeu muito mais do que esperava. Deu muito certo!
Agora, a GWM Brasil se prepara para uma nova fase: lançar as marcas Tank (off-road) e Poer (picape) com o mesmo sucesso que obteve com os modelos Haval e Ora. Além disso, considera fortemente a ideia de levar para o Brasil sua marca de SUVs de luxo na China, a Wey, que tem carros elétricos, muita sofisticação e um design limpo, ao estilo do que virou padrão no século 21.
O Fusca chinês, portanto, cabe muito bem para o mercado da China, onde a Great Wall Motor (GWM) é uma potência que está fazendo (com certo atraso, mas com firmeza) o percurso dos carros a combustão para os carros elétricos. Os modelos exibidos na majestosa pista de Xushui, nos arredores de Baoding, a duas horas de carro de Pequim, esses sim, são o futuro.
No Brasil, a GWM está trilhando um caminho que já incomoda alguns fabricantes de peso, tanto que a Anfavea correu ao governo para pedir uma mãozinha nas leis que dificultam o crescimento das marcas chinesas no mercado. Por isso, apesar de sua graça, de seu charme meio desengonçado, e da sua petulância em existir, o Fusca chinês é mesmo para chinês ver.
Um carro interessante e que também serve de recado para a Volkswagen: se ela própria não quer fazer uma terceira releitura de seu maior clássico, qual é o problema de outras montadoras fazerem? Se o Fusca é tão caro para a Volks e se existe uma nostalgia em relação a ele, por que não pensar num Fusca elétrico?
A GWM pensou, ora. E ele é irresistível, mesmo com todas as suas contradições. Mas, para o bem de seu negócio, a GWM não quer olhar para trás, e sim para frente, para o futuro próximo: dos novos Haval, do crescimento da Ora, dos interessantes SUVs off-road da Tank e da provocativa picape híbrida plug-in da Poer.
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O jornalista Sergio Quintanilha viajou á China a convite da GWM Brasil.