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Se faltavam carros, agora já faltam clientes

OBSERVATÓRIO AUTOMOTIVO: Renda em queda, preços altos e crédito caro provocam queda nas vendas de varejo

19 set 2022 - 16h09
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Se antes faltavam carros, agora faltam clientes.
Se antes faltavam carros, agora faltam clientes.
Foto: Divulgação

Sem fábricas paradas e filas de espera sendo atendidas, o mercado brasileiro de veículos começa a mostrar sua cara real – e ela é um tanto quanto feia. Os resultados de emplacamentos de automóveis e comerciais leves até o meio de setembro apontam para queda de vendas em 2022. Se faltavam componentes eletrônicos e carros para entregar, agora o que começa a faltar são clientes.

Existem muitos fatores negativos que estão segurando a demanda e devem continuar a segurar no horizonte não menor que um ano à frente. A queda de renda da população, corroída pela inflação, contrasta com os preços altos dos veículos – o preço médio de venda de carros segue na casa de R$ 130 mil.

Em contrapartida o crédito, que poderia amenizar este fator em suaves prestações, segue caro e restrito: o juro médio dos financiamentos a pessoa física encosta nos 30% ao ano, segundo acompanhamento do Banco Central, enquanto a inadimplência sobe e chega a quase 5%.

Se antes faltavam carros, agora faltam clientes.
Se antes faltavam carros, agora faltam clientes.
Foto: Divulgação

Estes fatores estão espremendo a demanda para baixo e desafiam as projeções já revisadas para baixo em julho passado pelas associações que reúnem fabricantes, a Anfavea, e concessionários, a Fenabrave, ambas prevendo um honroso zero a zero este ano contra o anterior.

Mercado fraco

Na primeira quinzena de setembro, com dez dias úteis, foram emplacados 73,5 mil veículos leves, 7,3 mil por dia, segundo levantamento da Bright Consulting, que estima a venda de 178 mil unidades neste mês cheio.

Se isto de fato acontecer os primeiros nove meses de 2022 somarão quase 1,4 milhão de automóveis e utilitários vendidos. Faltarão, portanto, perto de 600 mil veículos a vender no último trimestre para alcançar, em número arredondado, os 2 milhões previstos pelas entidades.

Está difícil alcançar a meta de 200 mil veículos/mês em outubro, novembro e dezembro, tendo em vista que só se chegou perto deste número em agosto, mês com o maior número de dias úteis do ano, 23, quando se alcançou o melhor resultado dos últimos dezenove meses, com 194 mil emplacamentos de modelos leves.

Sem nenhuma fábrica parada por falta de componentes em agosto, algo que aconteceu pela primeira vez em dezoito meses, a produção atingiu o melhor resultado do ano e conseguiu atender parte dos pedidos atrasados.

Se antes faltavam carros, agora faltam clientes.
Se antes faltavam carros, agora faltam clientes.
Foto: Divulgação

Com falta de clientes no varejo das concessionárias, as montadoras começaram a divulgar promoções, algo que não acontecia desde 2019, e estão atendendo com produtos mais baratos as locadoras, que segundo estimativas do setor têm demanda para comprar de 600 mil a 700 mil veículos que não conseguiram adquirir em 2021 e 2022.

Comprova a maior demanda das locadoras a sensível mudança no mix de vendas em agosto e setembro. Se até o meio do ano modelos mais caros, principalmente SUVs acima de R$ 120 mil, ocupavam mais da metade dos lugares dentre os dez carros mais vendidos do País, nesses últimos dois meses a coisa mudou.

Dos dez modelos mais vendidos em agosto, por exemplo, sete podem ser considerados carros compactos de entrada – ainda que esta entrada esteja posicionada muitos degraus acima da capacidade da maioria dos consumidores – como Volkswagen Gol, Hyundai HB20, Chevrolet Onix e Onix Plus, Fiat Mobi e Argo, além do Renault Kwid, exatamente nesta ordem.

Se as fábricas conseguirem continuar produzindo no mesmo ritmo de agosto – o que é improvável, dado que a falta de chips e outros componentes continua a afetar a indústria – e a demanda de locadoras seguir em alta e for atendida, espera-se para este ano mercado mais próximo de 1,9 milhão do que de 2 milhões de veículos leves, o que configura queda em torno de 2% sobre 2021, em mais um ano sem evolução.

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