Toyota corre para não virar uma "Kodak dos carros elétricos"
Avanço das marcas chinesas e crescimento rápido do mercado de carros elétricos fez a Toyota se mexer e prometer 30 novos modelos
A Toyota decidiu acelerar sua entrada no mercado de BEVs para não se tornar uma Kodak dos carros elétricos a bateria. Para quem não sabe, a Kodak dominou o mundo da fotografia e fez a primeira câmera digital, em 1975, mas insistiu no filme e foi ultrapassada. Faliu em 2012, numa das histórias mais chocantes do capitalismo.
A Toyota não quer ser uma Kodak, mas corre o risco de ser. Pioneira e líder dos carros híbridos (Prius) e a hidrogênio (Mirai), a Toyota demorou a perceber que os consumidores querem carros elétricos a bateria. Por isso, foi ultrapassada pela Tesla, pela BYD e até pela Renault e Nissan nesse mercado.
O antigo CEO, Akio Toyoda, liderou a inovação da Toyota, mas em abril deste ano foi substituído por Koji Sato, que já decidiu modificar a montadora japonesa. Considerando que o Mirai a hidrogênio fracassou e que os híbridos têm prazo de validade, Sato lidera o plano de lançar 10 novos veículos elétricos até 2026 e 30 novos veículos elétricos até 2030.
É uma virada e tanto, considerando que a dupla Toyota-Lexus tem apenas três carros elétricos no mercado atualmente. Assim, a Toyota vai tentar passar de uma pífia venda de 25 mil unidades/ano para 1,5 milhão de unidades/ano num primeiro momento e para 3,5 milhões em 2030.
“A linha cobre uma ampla variedade de tipos de veículos, incluindo um carro esportivo (Toyota Sports EV), um SUV que parece ser inspirado no extinto Toyota FJ Cruiser (Toyota Cruiser EV) e um conceito Toyota Pickup EV que pode prever uma futura versão elétrica do Toyota Tacoma”, noticiou o site Green Car Reports.
A Toyota também se baseia em outros exemplos de empresas que eram dominantes e faliram ou perderam relevância, como a Blockbuster (aluguel de vídeos), Nokia (telefones celulares), Xerox (copiadoras), Yahoo (internet), IBM (computadores) e Blackberry (smartphones). Por isso, vai apostar em bateria muito mais eficientes.
O objetivo desta nova Toyota – que não esconde que se rendeu aos carros elétricos a bateria – é que seus veículos elétricos tenham alcance de 1.600 km com uma carga a partir de 2028. Assim, espera chegar aos 3,5 milhões de BEVs no início da próxima década.
O que acendeu o sinal vermelho na direção global da Toyota foi a cooperação feita com a chinesa BYD no desenvolvimento do Toyota bZ3, que é um carro totalmente elétrico. Os executivos da Toyota que estiveram na China ficaram chocados com a forma como a BYD não apenas aplica as novas tecnologias, mas também transforma rapidamente os processos de fabricação.
Ainda mais para a Toyota, reconhecida mundialmente por sua qualidade, mas também por sua lentidão nas decisões, o relato caiu como uma bomba atômica.
“Ao ver equipamentos que eu nunca tinha visto no Japão e sua fabricação de última geração, fui atingido por uma sensação de crise: estamos com problemas!”, disse Takero Kato, novo presidente da fábrica de baterias da Toyota, ao informativo Toyota Times. (Inside EVs, Motor 1)
Os chineses não tiveram dificuldades em refazer a parte inferior da carroceria para adaptar uma nova bateria 2,5 cm mais estreita. “No Japão isso teria paralisado o desenvolvimento”, disse Sato. O executivo japonês entendeu que no novo mundo dos carros elétricos não basta ter qualidade, é preciso ser rápido nas mudanças.
Segundo a mídia especializada, os novos veículos elétricos da Toyota terão como característica oferecer uma condição apaixonante, como os da BYD e da Tesla. A ideia é dar aos motoristas a sensação de estarem pilotando seus carros e não apenas dirigindo.
Recentemente, o ex-CEO, Akio Toyoda, disse que levou 14 anos para mudar a Toyota, mesmo sendo o manda-chuva empresa. Ele teme que a montadora japonesa se torne uma empresa comum, que apenas fabrica o que outras inventaram ou desenvolveram.
Por isso, a Toyota tem pressa. O desenvolvimento dos carros a hidrogênio continua, mas a Toyota (e também as montadoras europeias) já sabem que as estações de carregamento são caríssimas e inviáveis. A sonhada “Sociedade do Hidrogênio”, que a Toyota apresentou em 2017, ficou apenas no sonho.
Enquanto aposta em novos carros elétricos, a Toyota mantém os híbridos como fonte de receita presente e futura para os países mais atrasados, como o Brasil, que decidiu abrir mão de liderar a indústria de carros elétricos e vai apostar em alternativas de longuíssimo prazo, como o hidrogênio a partir do etanol.