Trump zera incentivos a carros elétricos, mas a transição seguirá
Washington Post diz que Trump “vai desacelerar – não parar – a transição de longo prazo para veículos elétricos”; veja reação das montadoras
“Com minhas ações de hoje, encerraremos o Green New Deal e revogaremos o mandato do veículo elétrico, salvando nossa indústria automobilística e mantendo minha fiel promessa aos meus grandes trabalhadores automobilísticos americanos”, disse Donald Trump ao assumir a Presidência dos EUA pela segunda vez.
“Em outras palavras, vocês poderão comprar o carro de sua escolha. Construiremos automóveis na América novamente a uma taxa que ninguém poderia ter sonhado ser possível há apenas alguns anos.” Trump foi aplaudido por encerrar as políticas de incentivo aos carros elétricos introduzidas por seu antecessor, Joe Biden.
Como as montadoras estadunidenses reagiram? Segundo o jornal The Washington Post, a Ford se calou. A GM se manifestou por meio de uma declaração no X de sua CEO, Mary Barra, dizendo que a empresa “espera trabalhar em conjunto em nosso objetivo compartilhado de uma forte indústria automotiva dos EUA”.
Só a Stellantis aplaudiu. Dona das marcas Jeep, Chrysler, Ram e Dodge, chamou a abordagem de Trump de “extremamente positiva” em uma declaração ao The Washington Post e disse que a empresa está “bem posicionada para se adaptar às mudanças de política promulgadas pela nova Administração”.
Das montadoras americanas, a Stellantis é a que está mais atrasada na eletrificação – e no ano passado a Ram teve uma queda importante em seu mercado-chave.
O jornal também ouviu especialistas da indústria automotiva e concluiu que a ordem de Trump encerrando o “mandato de veículos elétricos” de Biden “vai desacelerar – não parar – a transição de longo prazo para veículos elétricos”. A reportagem do Washington Post é assinada por Lauren Kaori Gurley.
“Essa transição não pode parar”, disse Venkatesh Prasad, do Center for Automotive Research. “Vimos investimentos de longo prazo em EVs. Essas coisas não mudam.”
“Os ciclos presidenciais são de quatro anos. Essas [fábricas] são investimentos de 20 a 30 anos. Quando você constrói uma fábrica, ela não vem e vai”, disse Prasad. Ele acrescentou que as medidas de Trump terão efeito de curto prazo, aumentando a ênfase na comercialização de veículos híbridos ou em elétricos com extensores de alcance (motor a combustão acoplado).
Nenhuma montadora vai virar o jogo e deixar para lá o que é um caminho sem volta no mundo automotivo. Até porque as marcas estadunidenses também enfrentam feroz concorrência em outros mercados, como Europa e Ásia.
The Washington Post ouviu também um analista do Bank of America, John Murphy. Ele acredita que a transição mais lenta para os carros elétricos pode ser benéfica para a manutenção de empregos, mas só a curto prazo.
“Se a transição desacelerar, há menos risco de emprego imediatamente”, disse Murphy. “Mas se em 10 anos os EVs realmente estiverem decolando e não tivermos feito os investimentos necessários, isso pode realmente prejudicar os empregos nos EUA.”