Terça, 28 de janeiro de 2003, 16h02
Hotel Unique se une ao Fashion Week com modernidade e mimos
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Reuters
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Com um cheque de R$ 825 reais é possível passar a noite no quarto mais simples de um dos novos e modernos hotéis de São Paulo, o Unique, na região do Parque do Ibirapuera -sem café-da-manhã, diga-se. Inaugurado em setembro de 2002, o hotel criado pelo arquiteto Ruy Ohtake recebe nesta semana modelos, cabides e convidados para alguns desfiles do São Paulo Fashion Week. Com um formato de meio-círculo e janelas redondas lembrando as de um navio, o Unique já foi carinhosamente apelidado de Arca de Noé ou "melancia" pelos paulistanos menos iniciados na arte do conceitual. Mas o espaço não poderia ser mais perfeito para a apresentação das novidades do mundo da moda. A decoração do lobby elaborada por João Armentano privilegiou preto e branco em móveis contemporaneamente clean, em um ambiente mais parecido com as salas de exposição da Casa Cor do que as usuais áreas de recepção de hotéis. O toque clássico ficou por conta de dois recém-chegados anjos de Aleijadinho, colocados afrontosamente ao lado de 15 superprateleiras de bebidas no bar do térreo, chamado de The Wall. Uma porta de sete metros separa a rua deste mundo exclusivo, que é mantido isolado do vai-e-vem dos frequentadores do restaurante do hotel, o Skye, cujo acesso é feito por uma entrada separada. "É como uma torre de marfim. Você não tem que lidar com o lado exterior, com a pobreza, os problemas", avalia o artista Sawan Yawnghme, 31 anos, visitando o Brasil pela primeira vez com sua exposição no São Paulo Fashion Week de tecidos pintados com os rostos de modelos. Para este integrante do grupo Dormice, da Itália - hospedado no hotel -, o Unique representa "nosso desejo como seres humanos de nos removermos de nós mesmos". MIMOS DA TECNOLOGIA A privacidade e a não necessidade de interação com o próximo são mesmo marcas do hotel, que para livrar os hóspedes de "incômodos" como o check in ou out elaborou um sistema baseado no uso de palm tops. Assim, em qualquer poltrona de chenille do lobby ou no conforto de uma cama queen-size com edredon de penas de ganso, o convidado aperta meia dúzias de comandos e resolve a burocracia da partida. No quesito segurança, o acesso aos 95 apartamentos do Unique só pode ser feito via elevador por pessoas em posse do cartão-chave de seus quartos. Aviso aos claustrofóbicos: o elevador fica praticamente escuro uma vez que suas portas se fecham. "Tem gente que só entra nesse elevador acompanhada por um de nós", conta o atendente Bruno Zamponi, 22 anos, vestido todo de preto, com uma criação do estilista Alexandre Herchcovitch para os funcionários do hotel. Foi Herchcovitch também quem elaborou o roupão dupla face moleton-felpa encontrado nos banheiros de todos os quartos. Para que os clientes não se resfriem nem por um segundo, o banheiro tem ainda um sistema de aquecimento constante de toalhas. Para os mais voyeurs, um janelão que separa o quarto do banheiro pode ser levantado, abrindo espaço para uma vista direta da banheira para a cama. EM BUSCA DO PÛBLICO-ALVO Só que com tanta tecnologia, o Unique parece ter criado um empecilho para seu público-alvo - o custo. O apelo óbvio do estilo de hotel é para jovens bem-sucedidos e amantes das novidades, mas que precisam possuir uma carteira para lá de recheada para uma estada de tão alta classe. Segundo Bruno, o hotel tem tido ocupação média de 20 por cento e precisa chegar aos 70 por cento para se equiparar a seu concorrente mais próximo em São Paulo, o Emiliano. Há cerca de um mês o Unique vem fazendo campanhas de divulgação, e o patrocínio à mais importante semana da moda no país é parte desta estratégia. Mas pelas gorjetas que Bruno vem recebendo de alguns fashionistas hospedados por cortesia no hotel, não será tão cedo que estes passarão a ser pagadores assíduos das diárias que podem chegar a R$ 6,5 mil (pela suíte presidencial). "Eu carrego as malas de muita gente que diz muito obrigada e vai embora sem dar nada. Já ganhei também um real pelo serviço", revela marotamente o funcionário.
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