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Desfile - Primavera / Verão
2002 - 2003 |
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Desfile de Herchcovitch é aclamado
o melhor da Fashion Week
Alexandre Herchcovitch se propôs a ir à praia, um lugar que não
freqüenta nem em pensamento, para produzir aquela que talvez seja a melhor
coleção de sua vida. Ele anunciou um verão alegre e luminoso,
no qual associa a praia às cores dos bonecos Teletubbies e às burcas
das mulheres afegãs.
"Diante do mundo incerto em que estamos vivendo, ele
quis trazer o lúdico, o real e a guerra", disse
o produtor de moda David Pollak sobre o desfile candidato
a número um de toda a semana de moda.
A apresentação começou ao som de vidrilhos
balançando ao vento, uma introdução da
ópera Branca de Neve, de Heinz Holliger. Aos poucos,
todos os elementos que definem a moda de Herchcovitch apareceram
juntos - o jogo entre o feminino e o masculino, a alfaiataria,
as referências às lingeries, o sportswear e as
múltiplas sobreposições de peças.
Desta vez, porém, vieram aliados a muitas cores e a
pitadas étnicas em amarrações de blusas.
As modelos, todas muito jovens e ainda desconhecidas, usaram
bonés estilo Legião Estrangeira numa passarela
larga e branca com três núcleos de círculos
coloridos. Ao longo do desfile, os bonés ganhavam uma
espécie de minivéu frontal que escondia o rosto
das meninas, numa clara referência às burcas
das mulheres afegãs. "É uma burca tropical,
de uma mulher que se assume", disse a editora de moda
Regina Guerreiro.
A maquiagem remetia à praia e ao surfe, com uma faixa
fluorescente aplicada sobre o nariz e as maçãs
do rosto, como os protetores solares dos surfistas dos anos
1980, com lábios besuntados de manteiga de cacau.
As calças jeans cor de hortênsia vinham manchadas
e acompanhadas de blusinhas levíssimas de seda cheias
de recortes. Sobre elas havia sutiãs de biquínis
que funcionavam como colar. Aos poucos, a trilha sonora começou
a dar voz às canções-poema estridentes
de Yoko Ono para anunciar uma explosão colorida.
Surgiram então peças multicor em verde, branco,
magenta, coral e preto com megaretalhos costurados que pareciam
patchworks em forma de ameba. Essas peças eram de tecido
nobre como a seda ou o crepe de seda finíssimo, mas
às vezes apareciam com a forma das roupas esportivas
ou eram acompanhadas de peças jeans.
Era o caso da calça de jogging com lista colorida
na lateral, toda de georgete de seda em verde com elástico
nos calcanhares. As blusas de seda, por exemplo, ganharam
capuz. Por toda parte havia uma profusão de tiras pendentes
definindo volumes em pernas, braços e marcando cinturas
- uma tendência clara da nova temporada, onde as peças
trazem bolsos em lugares inusitados.
Herchcovitch também fez uma viagem profunda ao mundo
dos armarinhos. Os aviamentos, principalmente as fitas e os
elásticos com tiras nas cores do arco-íris,
tão populares nos anos 1980, chamavam a atenção
em microsuspensórios e delimitavam as extremidades
das roupas.
A alfaiataria, um item fundamental em seus desfiles, apareceu
vazada em num blazer branco acinturado com imensos recortes
embaixo dos braços. As mangas, presas por zíperes,
permitiam que a peça se transformasse num colete.
O artista plástico Mauricio Ianês, editor do
desfile e parceiro criativo de Herchcovitch desde o início
da carreira de ambos, resumiu bem o espírito da coleção.
"Nos reunimos e dissemos: vamos fazer o que nunca fizemos,
mesmo que a gente não goste", disse ele à
Reuters ao se referir à temática praiana. "Vamos
fazer algo que seja alegre e que leve uma mensagem boa para
as pessoas".
Pela reação emocionada da platéia, que
aplaudiu de pé, a proposta funcionou. "O Alexandre
brinca com a seriedade e por isso ele é genial",
dizia a atriz Cristiana de Oliveira, desfilando um vestido
preto do estilista.
A sensação de paz, alegria e otimismo ficou
clara no final da apresentação, quando as modelos
voltaram à passarela de mãos dadas e formaram
três pequenas rodas, girando em ciranda. Ao fundo, a
música de Yoko Ono dizia "stay alive, get a life,
anywhere, everyday" (fique vivo, arrume sua vida, em
qualquer lugar, todos os dias).
Reuters
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