Já faz muito tempo que a moda empresta da arte algumas referências e as encaixa em suas modelagens e estampas. Nestes últimos desfiles europeus (Outono/Inverno 2002-2003), vemos claramente a influência do art decô - e dos anos 60 - com suas formas geométricas arredondadas em recortes e aplicações.Courrèges, o arquiteto francês, grande inovador dos anos 60, tratava a roupa com o cuidado de uma construção. Bolsos aplicados, zíperes grossos, jumpers, golas olímpicas, tecidos plásticos, sintéticos... Tudo isso foi uma grande revolução na época. Grandes cílios, delineador nos olhos, boinas; quem não se lembra da magérrima Twiggy, manequim inglesa, que melhor representou essa virada do estereótipo feminino?
Outro revolucionário da moda foi Paco Rabanne com suas roupas metálicas em placas montadas como malhas. Vestidos curtinhos, barulhentos; botas, meias brilhantes; tudo muito sexy, revelando uma mulher que já não se contentava em fazer o papel de dona de casa por trás dos bastidores.
Vivemos, hoje, na moda, um mix de tendências resgatadas dessas décadas passadas. Convivem juntos: final do século retrasado (ano 1890 com seus dandies); anos 30 com art decô; anos 40 com a nostalgia da guerra numa mulher elegante e extremamente feminina; anos 60 com os geométricos plásticos, anos 70 com o power flower romântico, anos 80 com a era sintética/dancing/yuppie.
Sem falar, é claro, do minimalismo/natural dos anos 90, que deixou sua marca. Tudo isso numa só estação. É óbvio que tudo foi bem repaginado, transformado, modernizado, e com uma dose de glamour que nos obriga a desejar loucamente "aquele jumper novo da MiuMiu, com cara de Courrèges".
Dentro desse tema, da arte e dos geométricos, trabalharam as marcas:
- Versace, Marni e MiuMiu (Itália);
- Custo (Espanha);
- Marithé&François Girbaud (França);
- Balenciaga (Espanha).
A última grife, de origem espanhola, que desfila em Paris e agora pertence a Gucci Group, tem como estilista o francês Nicolas Ghesquière, visto como um dos mais importantes destaques dos últimos 3 anos na moda mundial. "Seu trabalho tem notas de sofisticação inesperada", como cita a revista francesa L'Officiel. O francês relançou o patchwork de maneira absolutamente original e com extremo bom gosto. Gucci aposta suas fichas nesta marca, conhecida, entre outros acontecimentos, inclusive, por ter vestido a Sra Eva Peron no auge de sua vida.
Maria Helena Lodi