Pesquisadores anunciaram ter encontrado um marcador biológico que pode identificar mulheres com risco de desenvolver depressão pós-parto. Estima-se que cerca de 15 por cento das gestantes sejam afetadas por essa forma de depressão, que é mais grave que a "melancolia". Por esse motivo, os cientistas acreditam que dispor de um teste precoce seja útil.Segundo Victor Pop, da Universidade de Tilburg, na Holanda, um estudo mostrou que as mulheres que apresentam determinados anticorpos de tireóide durante a gestação são quase três vezes mais propensas a ter depressão pós-parto. A presença de anticorpos peroxidase na tireóide também indicou a ocorrência de um distúrbio auto-imune na glândula. No entanto, os receptores cerebrais afetados eram semelhantes aos envolvidos na depressão, explicou Pop.
A pesquisa foi apresentada no encontro anual do Colégio Real de Psiquiatras, realizado em Cardiff, capital do País de Gales (Grã-Bretanha). Durante o trabalho, os pesquisadores visitaram 310 mulheres na 12a. semana e na 32a. semana de gestação. Eles examinaram as pacientes novamente 4, 12, 20, 28 e 36 semanas após o parto. Em cada consulta, realizaram um teste para detectar a presença de anticorpos e uma avaliação para diagnosticar depressão.
Na análise, foi possível utilizar os dados de 291 mulheres. Os resultados dos testes mostraram que 41 pacientes (14,1%) apresentavam anticorpos no sangue em um exame ou mais e que 117 mulheres (40,1%) estavam deprimidas em ao menos uma das vistas feitas após o parto.
Os autores constataram que os anticorpos estavam relacionados de forma independente à depressão na 12a. semana da gestação e na 4a. e na 12a. semana após o nascimento do bebê. Mesmo após excluir da pesquisa 51 pacientes que haviam sofrido de depressão numa fase anterior da vida, a presença dos anticorpos no início da gravidez foi associada a uma probabilidade 2,9 vezes maior de a paciente ter depressão pós-parto.
Os pesquisadores afirmam que o exame para detectar os anticorpos não é um instrumento para fazer o diagnóstico da depressão. A técnica, porém, pode auxiliar os médicos a identificar as mulheres que apresentam risco de desenvolver o distúrbio como parte da rotina de exames das primeiras 12 semanas de gestação.
Para os especialistas, o principal problema da depressão é que muitas pacientes nunca procuram ajuda e, mesmo quando vão ao médico, o diagnóstico deixa de detectar metade dos casos.
O teste também pode ser útil porque a presença do anticorpo está associada ao aumento do risco de disfunção da tireóide. Os filhos de mulheres que tinham anticorpos durante a gestação apresentam probabilidade maior de sofrer problemas de desenvolvimento.