Pesquisadores do Centro do Câncer Sloan-Kettering Memorial, de Nova York, concluíram que o papel desempenhado pelas mutações genéticas no câncer de mama pode ter sido superestimado por alguns estudos. Eles alegam que as possibilidades de uma mulher desenvolver câncer de mama estão associadas a numerosos fatores de risco e não apenas a uma mutação genética específica.
Os cientistas, que publicaram os resultados de seus trabalhos na revista do Instituto Nacional do Câncer, se referem especificamente aos genes BRCA1 e BRCA2. Considera-se que o surgimento destes genes mutantes determina um alto risco de câncer de mama em mulheres com antecedentes familiares da mesma doença.
Os primeiros estudos sobre estes genes indicavam que, em famílias com vários casos diagnosticados da doença, o risco de desenvolver câncer de mama era de 71 a 85% maior para as mulheres com mutações nesses genes a uma idade de 70 anos.
Colin Begg, que dirigiu o estudo do Centro Sloan-Kettering, afirma, no entanto, que os cálculos de risco podem estar exagerados, inclusive em estudos mais modernos que rebaixaram consideravelmente essas cifras. Para o cientista, a possibilidade de uma mulher portadora de uma mutação desenvolver câncer de mama ao longo de sua vida, "não define completamente o risco".
Ele afirma que as mulheres diagnosticadas com câncer de mama e que são portadoras de mutação nos genes também têm mais possibilidades de ter outros fatores de risco de câncer do que as mulheres que apresentam as mutações mas não desenvolveram a doença. Isto, na sua opinião, põe em dúvida a exatidão de muitos estudos realizados.
Wylie Burke e Melissa Austin, especialistas em câncer da Universidade de Washington, em Seattle, afirmaram em um editorial que acompanha a publicação desta pesquisa que alguns fatores de risco não genético demonstraram ter a capacidade de influenciar os fatores genéticos. O fumo, a dieta ou os níveis de exercício, por exemplo, podem modificar o risco que entranham os fatores genéticos nas doenças cardiovasculares, afirmam no editorial.
"Sem um escrupuloso respeito pelos diferentes fatores de risco que podem influir na incidência, continuaremos calculando de modo excessivo o risco que conferem as mutações BRCA1 e BRCA2", informaram os especialistas. Begg, o autor do estudo, insistiu em que determinar de modo eficaz a probabilidade de que uma mutação influa na aparição de uma doença pode ser vital na hora de se escolher um tratamento preventivo. "Pode condicionar, inclusive, as decisões de uma mulher na hora de submeter-se a intervenções cirúrgicas preventivas, geralmente difíceis de adotar, como a mastectomia ou extirpação profilática das mamas", disse ele.