Um atraso na maturação da conexão entre o cérebro e a bexiga pode explicar, no caso de algumas crianças, o problema de urinar na cama, informaram pesquisadores britânicos. Os cientistas enfatizaram, no entanto, que esse atraso, caso realmente ocorra, não representa um "grave problema de desenvolvimento". É possível que algumas crianças que persistentemente molham a cama ainda não tenham as "vias" que ligam o cérebro à bexiga completamente desenvolvidas, disse Philip C. Holland.Holland, que é da Enfermaria Geral Leeds, conduziu um estudo no qual crianças em idade escolar com problema crônico de molhar a cama à noite - conhecido como enurese noturna primária - passaram por um teste padrão de desenhar para avaliar o desenvolvimento neurológico.
Além disso, os pesquisadores mediram a resposta das crianças ao tratamento com uma forma artificial da vasopressina, hormônio liberado pela glândula pituitária (localizada no cérebro) e normalmente associado à redução da eliminação de urina. Algumas pesquisas haviam demonstrado anteriormente que as crianças afetadas pelo problema de enurese podiam não apresentar o aumento noturno da taxa de vasopressina, comumente observado na maioria das pessoas. Por esse motivo, algumas vezes, a forma sintética do hormônio, conhecida como desmopressina, é usada para tratar o problema.
No trabalho atual, a equipe constatou que, entre as 34 crianças analisadas, quem não respondeu à desmopressina apresentou mais erros na tarefa de desenhar. Nenhuma criança que cometeu mais de três erros obteve benefícios do tratamento com o hormônio, segundo as conclusões do estudo, publicadas na edição de setembro do Archives of Disease in Childhood.
"Sugerimos que crianças que cometeram erros no teste apresentam mais problemas que a simples falha da produção noturna de vasopressina", disse Holland. "As vias neurológicas entre o cérebro e a bexiga não estão completamente maduras." O ato de urinar na cama é comum entre as crianças em idade pré-escolar e não é considerado um problema. Quando elas atingem a idade escolar, o problema se torna menos prevalente, cerca de 5 por cento das crianças na faixa etária dos 7 anos ainda molham a cama com frequência. A maioria "supera" o problema sem tratamento.
A causa exata da enurese crônica em crianças mais velhas não está bem clara, embora a história familiar pareça ser importante. Os fatores que afetam a maturação da conexão entre o cérebro e a bexiga permanecem obscuros, observou Holland. A equipe informou, porém, que alguns estudos associaram o baixo peso ao nascer à probabilidade de ocorrência do problema, fato que também sugere o envolvimento de um atraso no desenvolvimento. Holland afirmou ainda haver algumas evidências de que bebês amamentados sejam menos propensos à apresentar enurese persistente na infância.