A Marinha do Chile, considerada a mais machista das instituições militares desse país, decidiu abrir suas portas às mulheres, que a partir de 2003 poderão iniciar uma limitada carreira em suas filas. Os navios de guerra continuarão vedados às mulheres por um tempo ainda não definido, segundo declarou hoje, quarta-feira, na cidade de Valparaíso o comandante-em-chefe da instituição, almirante Miguel Angel Vergara."No final de 2003 haverá na Marinha mulheres em qualidade de oficiais, nos quadros da Justiça e da Saúde Naval; também haverá mulheres na categoria de marinheira da Saúde", explicou o almirante. "Gradualmente iremos incorporando mulheres de uniforme em outros quadros, como Litoral e Abastecimento", acrescentou.
No Chile, onde todos se orgulham de ter uma ministra da Defesa (Michelle Bachelet), já em 2001 a Força Aérea abriu às mulheres a possibilidade de se tornarem pilotos de guerra e aspirar as mais altas patentes, incluindo a de general. Uma mulher poderá ser no futuro comandante-em-chefe, afirmou nessa ocasião o atual titular desse cargo, general Patricio Ríos.
Na polícia militarizada já existe uma general: Mireya Pérez, primeira mulher no Chile a chegar à patente mais alta em uma instituição militar. O Exército não quis ficar atrás e a partir deste ano as mulheres que ingressarem em suas filas poderão fazer carreira em igualdade com os homens e chegar também ao grau de general. A Marinha, com o anúncio do almirante Vergara, começou também sua abertura ao "sexo frágil", mas ainda com alguns impedimentos, começando pelo fato de que, inicialmente, não poderão subir nos navios, salvo exceções.
"As mulheres podem subir a bordo dependendo da função que desempenhem: como convidadas, enquanto a embarcação estiver no porto e forem autorizadas por seu comandante", explicou Vergara.
Acrescentou que também podem ser passageiras nos navio de transporte, como especialistas técnicas, "cada vez que for requerido ou como enfermeiras".
Uma das razões alegadas pelo oficial é que os navios de guerra não estão preparados para receber mulheres, e pelo excesso de postulantes masculinos para esse tipo de atividade. "As marinhas de outros países que incorporaram mulheres nos navios de guerra; em geral o fizeram por falta de postulantes homens, o que afortunadamente ainda não é o nosso caso", disse Vergara.
O almirante acrescentou que em uma embarcação de combate os espaços são estreitos e a privacidade restrita, além de as pessoas conviverem um tempo prolongado afastados do porto-base, o que pode gerar tentações que talvez afete a disciplina a bordo.
A Marinha do Chile anunciou no final de 2001 que adequará suas futuras embarcações, que planeja construir em seus próprios estaleiros, para que no futuro as mulheres possam embarcar sem problemas. "Nesse processo de incorporar mulheres ao uniforme queremos ir passo a passo, sem pressa, mas sem descanso. As respeitamos muito e não gostaríamos que nenhuma experiência traumática frustrasse nosso programa", afirmou o almirante Vergara.