Um aparelho de ressonância magnética projetado por cientistas americanos pôde detectar pela primeira vez a atividade cerebral do feto quando este percebe luz no exterior do ventre materno, publica hoje, sexta-feira, a revista britânica The Lancet.
De acordo com o relatório, quando for aperfeiçoada, a nova técnica poderá contribuir para detectar indícios de anomalias cerebrais e permitirá medir as respostas dos fetos a estímulos externos tais como a voz materna, a vibração ou a música. A técnica, conhecida como magnetoencefalografia (MEG), mede as mínimas alterações que acontecem nos campos magnéticos cerebrais como resultado da atividade mental. Segundo a neurologista pediátrica Giovanna Spinella, do Instituto Nacional de Desordens Neurológicas de Bethseda (Maryland, EUA), "embora esta investigação seja preliminar, dá um sinal alentador de como a MEG pode ajudar os especialistas a entender o cérebro do feto". A equipe liderada pelo doutor Curtis Lowery, da Universidade de Arkansas de Ciências Médicas, testou a técnica em 10 fetos entre as 28 e as 36 semanas de gestação.
Suas mães tiveram que sentar-se no aparelho e inclinar o corpo para frente, para um dispositivo côncavo dotado de 151 sensores, enquanto um cabo de fibra óptica transmitia impulsos de luz ao exterior do ventre materno. O aparelho detectou respostas relevantes da atividade cerebral em quatro dos 10 fetos.
De acordo com Lowery, a falta de resposta dos demais pode ser explicada porque sua posição no útero materno os impedia de ver a luz ou porque estavam dormindo nesse momento. "Neste teste preliminar demonstramos que mediante o uso de MEG em fetos humanos é possível registrar a resposta cerebral aos estímulos visuais", explica o especialista, que acrescenta que "novas pesquisas com métodos de estimulação e mecanismos de provisão de luz mais aperfeiçoados permitirão melhorar a técnica".
As medições das respostas cerebrais aos estímulos visuais e aos auditivos poderão tornar-se, acrescenta Lowery, em um "novo método para estudar o desenvolvimento neurológico do feto". Os pesquisadores planejam ampliar estas provas e efetuá-las em um maior número de fetos para determinar que tipo de respostas cerebrais podem revelar a existência de um problema. Também pretendem efetuar estas medições em bebês com anomalias para determinar como diferem suas respostas em relação às do resto das crianças.