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Maternidade encarcerada
Sexta, 02 de julho de 2004, 09h04

Maternidade encarcerada
» Introdução
» Sofrimento das mães
» Dor e saudade nas celas
» Abandono
Detentas relatam a tristeza de perder a convivência com seus filhos após o período do aleitamento

O pequeno Rafael completa hoje três meses de vida atrás das grades. Sétimo filho de Rita de Cássia Gomes, 36 anos, que cumpre pena de 7 anos e 4 meses por tráfico de drogas na Penitenciária Feminino de Salvador, o bebê foi gestado e está sendo criado na unidade carcerária. O convívio com a mãe detenta não vai durar muito. Pela Lei de Execução Penal, as crianças podem permanecer na penitenciária por, no máximo, seis meses, período em que o aleitamento materno deve ser alimentação exclusiva.

"Se ele pudesse ficar comigo seria melhor, mas sei que não dá. Vou ter que me separar mesmo", resigna-se Rita de Cássia, com o bebê Rafael no colo. Terminado o prazo, o serviço social da penitenciária entra em contato com as famílias das detentas para avaliar a possibilidade de a criança ficar com um parente. Quando isso não é possível por falta de condições financeiras, os bebês são encaminhados para instituições de amparo que as abrigam até a liberdade das mães. "Prefiro que meu filho vá para uma creche, mas ninguém vai roubar ele lá fora não, né, doutora?", preocupa-se a mãe.

Por conta de complicações no pós-parto, Rita de Cássia não amamenta mais. No tempo em que permaneceu hospitalizada para retirada do ovário, o recém-nascido ficou sob os cuidados das outras detentas. Na lei que vigora entre as presas maltratar crianças é inaceitável. Não é à toa que quem cumpre pena por este tipo de crime tem que ficar no isolamento. Na unidade, além dos mimos das companheiras de cela, as crianças se tornam xodó das agentes e funcionárias. "Já fizemos até festa de aniversário para as crianças daqui. Quando a creche não existia, agentes as levavam para casa nos finais de semana", conta a diretora da penitenciária, Silvana Selem, mostrando o mural que decora o serviço médico e que reúne fotografias de todos os bebês que já viveram no presídio.

Há um ano, uma das detentas deu à luz na prisão. A chegada prematura de um bebê de sete meses não permitiu o deslocamento até uma maternidade. Apesar da precocidade do nascimento, o bebê não precisou de incubadora ou cuidados especiais. "Os meninos daqui são todos parrudinhos", fala, orgulhosa, a diretora. Assim como Rafael, outras crianças que vivem na prisão recebem todos os cuidados necessários, como avaliação médica e aplicação de vacinas.

"Temos obrigação de cuidar dos filhos das que chegam grávidas da melhor forma possível, mas tentamos conscientizar as internas de que uma unidade prisional, por melhor que seja, não é o lugar ideal para ter um filho", explica Silvana. Por isso, só têm direito a encontros íntimos aquelas que se comprometem a fazer uso de preservativos nas relações e usar contraceptivos.

Correio da Bahia

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