Apenas um em cada quatro brasileiros casados espera fidelidade do parceiro. Isso significa que 75% das pessoas comprometidas acreditam que, mais cedo ou mais tarde, podem ter de encarar a traição. Os dados são de uma pesquisa que ouviu mais de mil pessoas casadas (ou com parceiro fixo) no Brasil."Parece que ter um relacionamento extraconjugal já foi incorporado pela nossa cultura, mesmo que isso não seja o que as pessoas almejam", diz a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e coordenadora do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, que fez a pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro, em 2000.
Para Abdo, o companheirismo resume todos os anseios que esses casais ouvidos têm de respeito, carinho, compreensão. "As questões afetivas são muito valorizadas pelos brasileiros, até na relação sexual", diz a psiquiatra.
O estudo mostrou que, num relacionamento sexual, o mais importante é a "dupla" afeto/carinho (71,3% das mulheres e 63,3% dos homens). Os entrevistados com 18 anos e mais, preferiram esse componente à atração, ao respeito mútuo, à qualidade do parceiro, à beleza física, à atração física, à experiência sexual prévia, à estabilidade econômica do parceiro e à possibilidade de gerar filho.
"Isso surpreende quando você pensa que o Brasil é um país supererotizado" diz Abdo. "Mas o brasileiro não desvincula o relacionamento sexual do afeto."
Essa "tolerância" velada aos casos extraconjugais pode ser, na opinião da psicóloga Maria Tereza Maldonado, a saída encontrada por muitas pessoas que percebem a dificuldade de se manter fiel à monogamia por muito tempo. "É o jogo do 'eu sei que você sabe, você sabe que eu sei, mas vamos fazer de conta que ninguém sabe" explica Maldonado, autora dos livros Lições de Vida para Casais e Casamento, Término e Reconstrução.
Se, por um lado, a infidelidade, que envolve a traição da confiança e pode representar o fim de anos de convívio, está prevista por muitos dos que embarcam na vida a dois, por outro, um componente muito mais nobre reina na opinião dos entrevistados para o sucesso da relação: o companheirismo.