400 mortes de indígenas por Covid-19 não foram computadas
Por não viverem em terras homologadas, indígenas não tiveram etnia reconhecida pelo estado após óbito
A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que acompanha os casos de Covid-19 na população indígena, contabiliza em seu site, no portal do Governo Federal, 914 óbitos e 65.695 casos de Covid-19. As informações obtidas nos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) foi atualizada pela última vez em 30 de maio e difere dos dados levantados pelos próprios indígenas.
A articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que organizou um levantamento próprio sobre como sua população vem sendo afetada pela pandemia, aponta 71.592 casos confirmados e 1.310 óbitos entre indígenas brasileiros.
A discrepância se dá pelo fato da Sesai trabalhar exclusivamente com dados de indígenas que vivem em terras homologadas. Para indígenas que vivem nas cidades, os dados de casos confirmados e óbitos são registrados pelas Secretarias Municipais de Saúde e consequentemente entram na contabilidade geral da população divulgada pelo SUS.
Para além do apagamento das identidades indígenas e o reforço do estereótipo de que indígenas são apenas os que vivem em aldeias, a subnotificação interfere diretamente na execução do Plano de Enfrentamento da Covid-19 para os Povos Indígenas Brasileiro, que inclusive sofreu uma interferência do Supremo Tribunal Federal (STF), quando o ministro Luís Roberto Barroso exigiu melhorias no plano apresentado inicialmente pelo governo Bolsonaro.
De acordo com o último Censo, realizado em 2010, no Brasil existem, aproximadamente, 897 mil indígenas. Entre essas pessoas, cerca de 517 mil vivem em terras indígenas. No total, são 305 etnias e 274 línguas indígenas faladas no país.