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5 influenciadoras negras e plurais que revolucionam a internet

Mulheres negras produzem conteúdos diversos e criativos mesmo diante do desestímulo e desigualdade do cenário comercial para elas

25 jul 2024 - 15h14
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Foto: AzMina

Por volta dos anos 2010, ser uma adolescente envolvia o fascínio por youtubers a ponto de se imaginar sendo algum deles – mesmo que pouquíssimos parecessem com você, geralmente estavam naquele padrão estético que já conhecemos (brancas, magras, loiras...). Mas eis que uma menina falante, do interior de São Paulo, com vontade de ser ouvida, ligou a câmera e começou a gravar uma série de vídeos sobre o assunto que ela tinha mais propriedade: Beyoncé. 

Essa é a história de Anne Caroline, modelo e produtora de conteúdo de 26 anos. Ela conta que sempre foi muito comunicativa e, apesar da falta de referências como ela atrás das telas, encarou a jornada online em 2021.  Ainda bem que a experiência de Anne se repetiu com outras influenciadoras negras Brasil adentro, mudando apenas a localidade e o tema escolhido, e fazendo crescer outras referências nesse cenário de influências. 

Anne Caroline, modelo e produtora de conteúdo
Anne Caroline, modelo e produtora de conteúdo
Foto: AzMina

Mais um exemplo é Bruna Carvalho ou Preta Direta - sua alcunha digital. Nascida em Torres, no litoral gaúcho, e criada em Porto Alegre, Preta não encontrou muitas mulheres negras e lésbicas produzindo conteúdo em 2018. 

Hoje, aos 25 anos, sua comunicação se transformou, mas o propósito se mantém. Ela compartilha trechos do seu dia a dia "simplesmente vivendo" e gera referências para mulheres e meninas como ela. "A Preta Direta é vida real em uma busca constante de permanecer viva e fazendo algo pelas pessoas", explica. 

Bruna Carvalho ou Preta Direta
Bruna Carvalho ou Preta Direta
Foto: AzMina

Outra pioneira nas telas de celulares foi Ros4, natural do Distrito Federal. Ela espera que muitas pessoas trans negras de periferia a encontrem nas redes e percebam quem elas podem ser.

"Acredito que muitas pessoas se identificaram com o conteúdo que eu produzia porque eu tentava ser eu mesma", conta. Ela recorda os primeiros vídeos, de quando abria a câmera e falava sobre suas vivências e perspectivas. "Era quase uma terapia." 

Mais blogueiras e mais seguidores 

Ao longo dos últimos anos, programas e imersões ajudaram a impulsionar pequenos produtores de conteúdo negros, como aconteceu com Preta. Ao participar do Black Creator Program da Google com a startup Creators LLC, além do auxílio financeiro, a blogueira gaúcha recebeu uma capacitação sobre produção de conteúdo que a inseriu no mercado publicitário. 

Atualmente, a representatividade de blogueiras negras é maior, o que aumenta a diversidade de conteúdo. A pesquisa Creator e Negócios, realizada pela Brunch e YOUPIX, aponta que, de 2021 para 2022, o percentual de criadores identificados como negros cresceu de 27,3% para 30,6% - sendo 16,9% pretos e 13,7% pardos. 

Assessora e blogueira sobre autoestima e cabelo no 'Dias de Cacho', desde 2017, Bruna Dias, 29, presenciou essa mudança. Para a influenciadora da Rocinha, favela do Rio de Janeiro, a pandemia do coronavírus deu ênfase nas pautas raciais e induziu o crescimento das produtoras de conteúdo negras. Ela própria fez mais parcerias no período e chegou à marca de 10 mil seguidores. 

Bruna Dias fala de autoestima e cachos
Bruna Dias fala de autoestima e cachos
Foto: AzMina

O momento impactou positivamente também a rondoniense Eliziane Berberian, 33, que a partir de então teve a internet como um pula-pula capaz de projetá-la para novas conquistas. Além da questão racial e de gênero, a sua localização geográfica chamou atenção das marcas. Mas, com o fim da pandemia e a "volta da normalidade", Eliziane reparou que o marketing de influência retomou a centralização das oportunidades no Sudeste e ela precisou se mudar para São Paulo. 

A diversidade regional ainda não é vista como importante pelas empresas. Uma gama de produtoras de conteúdo segue fora do campo de visão das grandes marcas, tendo em vista que apenas 7,6% dos criadores são mulheres não-brancas que vivem em capitais fora do Sudeste, conforme a pesquisa Creator e Negócios.  

Do que falam as blogueiras negras? 

Ao acessar o Instagram de Eliziane, onde ela mais se diverte produzindo conteúdo, a primeira postagem fixada que encontramos é um vídeo apresentando aos visitantes novos tudo que pode ser encontrado no seu feed. Ela tenta explicar o nicho da blogueira que não tem nicho no reel. 

Eliziane Berberian é uma influenciadora rondoniense
Eliziane Berberian é uma influenciadora rondoniense
Foto: AzMina

Na conversa com AzMina, Eliziane revela se sentir encaixotada e presa por nichos, por isso define o seu conteúdo como múltiplo e natural na intenção de se mostrar para além da raça. "Eu quero sorrir, porque fazendo humor, já estou lutando. Não preciso falar, a minha pele já fala." 

A pesquisa indica que a moda é o tema de produção de 1/5 dos influenciadores não-brancos. E esse é um dos assuntos apresentados pela baiana Wladia Goes. A figurinista de profissão traz para a timeline tudo que a interessa, de moda a beleza e relacionamento. Além disso, aos 48 anos, Wladia tem introduzido quadros sobre climatério, menopausa e saúde da mulher no Instagram e TikTok. 

O TikTok é a terceira rede com mais produtores de conteúdo (11,8%) atrás de Instagram (59,6%) e YouTube (12,7%), aponta a pesquisa Creator e Negócios. É por meio dessa plataforma de vídeos dinâmicos que Anne Caroline divulga seu quadro de maior sucesso, o Cheers. 

Nele, Anne e Mari, amiga com quem divide apartamento há 3 anos, tomam uma taça de vinho e conversam sobre vivências que as atravessam como jovens negras. "A gente acompanha muito o processo uma da outra. Então eu falei: 'cara, por que a gente não leva essa conversa para o público?'" O primeiro episódio, lançado em 3 de junho de 2024, soma 93.4K de visualizações (e contando) e 752 comentários. A sensação é tipo: "quem deixou você assistir a minha sessão de terapia?". 

Já Ros4 faz do YouTube uma extensão da sua expressão artística. A rapper e artista plástica já teve seu canal solo, onde compartilhava suas reflexões, e hoje produz vídeos com o coletivo Maloka Imponente. 

No canal é possível encontrar de entrevistas com artistas de diferentes áreas até "vídeos de guerrilha", como na marcha do orgulho LGBTQIAPN+ de São Paulo. Na ocasião, a equipe foi para a rua com R$ 10, um sonho e uma câmera. No fim, para Ros4, "o mais importante é conseguir passar a mensagem".  

Novos velhos desafios 

Dentro do universo criativo das blogueiras negras há uma grande diversidade de conteúdos. No entanto, essas influenciadoras ainda se sentem vistas como um nicho único, que é contratado somente quando as empresas entendem ser comercialmente favorável parecerem "diversas". 

Preta Direta diz que, como uma mulher negra e lésbica, enxerga avanços para as produtoras de conteúdo, "mas precisamos melhorar muito, porque ainda ficamos reféns das datas comemorativas". 

Bruna Dias lembra que a internet não está dissociada dos problemas da sociedade. Se a intolerância política tem sido recorrente na vida fora das telas, dentro delas essa é a segunda violência mais frequente direcionada às mulheres (37,8%) atrás apenas de comentários machistas e sexistas (43,1%) de acordo com a pesquisa Creator e Negócios.

Quando Ros4 virou alvo de conteúdos mentirosos, que colocavam a artista como  "uma terrorista financiada pelo Bradesco", ela acabou perdendo a parceria com o banco e se distanciando da vida online. O episódio a fez perceber a facilidade de ter seu trabalho trocado enquanto travesti negra do centro-oeste. 

"Já vi vários influenciadores sendo racistas, transfóbicos, pedirem uma desculpa e segue o fluxo. Às vezes até ganham mais seguidores", lamenta Ros4, que, ao contrário, perdeu vários e teve que se afastar das redes sociais. Para ela, o hiato da produção de conteúdo foi como perder a voz.

Ros4 é uma influenciadora trans da periferia
Ros4 é uma influenciadora trans da periferia
Foto: AzMina

Publicidade conveniente

Outro desafio é a inserção no mercado: 60,5% dos criadores veem o mercado de marketing de influência como excludente, de acordo com a pesquisa. Anne diz que a publicidade é conveniente. "Eu sou uma mulher preta e gorda, eu não sou interessante para a publicidade se não for quando eles querem mostrar que são inclusivos". 

A graça de ser criadora de conteúdo, fala Anne, está justamente em se mostrar para além do que esperam de pessoas com a sua pele e corpo. Mas, infelizmente, ainda existe diferença na remuneração: "a gente faz um trabalho com muito mais excelência e menos recurso". 

Com uma lista extensa de programas, cursos e imersões que participou dentro e fora do país para impulsionar sua carreira, Ros4  reconhece a maior abertura para profissionais negras em campanhas, mas vê os marcadores de raça e gênero determinarem o alcance dos conteúdos. 

As contribuições para a manutenção desse cenário problemático estão em fatos como a centralização do mercado no Sudeste e o perfil 69% branco dos profissionais do mercado de marketing de influência. Foi isso que apontou a pesquisa Influence Skills realizada pelo YOUPIX em 2022. Afinal, se os contratantes e pensadores das campanhas não são diversos, o que esperar do casting (influenciadores contratados)?

O poder da boa influência 

Desafiando o horizonte comercial, as blogueiras negras trabalham seus conteúdos além das expectativas estereotipadas e realizam seus sonhos de menina. "Quando eu era criança, eu não tinha referência e hoje em dia poder ser referência para meninas, adolescentes e mulheres é muito importante para mim", compartilha Anne. 

Eliziane acredita que a boa influência tem o poder de causar "pequenas revoluções" com conteúdo humanizado, responsável e empático, sobretudo diante de tantos casos de informações incorretas ou fraudulentas divulgadas por influenciadores. 

Preta Direta concorda que a produção de conteúdo responsável ajuda a pavimentar caminhos prósperos para mulheres negras. "Eu quero estimular que elas sintam que podem estar nos espaços e lugares que quiserem." 

Criadoras de conteúdo negras pelo Brasil adentro se fazem vistas cada dia mais. "Porque falar muda vidas", reflete Ros4, "ainda mais na trajetória de pessoas negras, periféricas e que às vezes não têm espaço para se expressar". E você, quantas influenciadoras negras segue?

Clique aqui para acessar a reportagem original. 

AzMina
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