“A referência que eu gostaria de ter tido seria a de um pai como eu”, diz Carmo Dalla Vecchia
O ator e modelo conversou com o Terra NÓS sobre os desafios da paternidade LGBTQIA+ e a falta de uma figura em que pudesse se espelhar
O mês de agosto concentra duas datas significativas para o ator e modelo Carmo Dalla Vecchia: o Dia dos Pais, celebrado neste domingo, 11, e também seu aniversário de 53 anos, no dia 21. A ideia de criar uma família foi minuciosamente planejada por Carmo e o marido, o diretor e autor de novelas João Emanuel Carneiro, juntos há 18 anos.
“É fundamental se preparar para ter uma criança, que você possa garantir a segurança e a felicidade dela”, diz ele, em entrevista ao Terra NÓS. A existência de mais leis que garantissem os direitos LGBTQIA+ no país, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, fez com que a vontade de ter um filho surgisse no casal.
E mesmo com preparação, a criação do filho, Pedro, de quatro anos, é uma aventura que Carmo tem aprendido sem tantas referências. “Apesar de ter tido uma história muito bonita com o meu pai, eu não tenho referência [de paternidade]. A referência que eu gostaria de ter tido seria a de um pai como eu”, revela.
Um pai atento, cuidadoso, mas ao mesmo tempo um pai que não deposita no filho a responsabilidade sobre a felicidade da sua própria vida.
Dois pais
“Geralmente casais homoafetivos pensam muito para serem pais. Nesse sentido, acho que as crianças [de pais LGBTQIA+] saem na frente porque são muito planejadas”, avalia o ator. Além disso, ele destaca a importância de tratar sobre diversidade de maneira mais natural e lúdica com o filho, respeitando as fases para introduzir determinados assuntos.
“Falamos que pessoas de pele escura, pele clara, cabelo liso, cabelo crespo, altas ou magras, todas devem ser respeitadas. Mas isso é um discurso meio indireto que você não entra na questão da orientação sexual, até porque ele [Pedro] não tem ideia sobre isso”, explica.
“Não se pula etapas, é preciso respeitar o que a criança tem entendimento e responder as perguntas. A criança absorve de uma maneira muito natural o que é diversidade.”
O viado da família brasileira
Com inspiração em Rogéria, ícone gay e primeira travesti a fazer sucesso na televisão, sendo considerada a “ travesti da família brasileira”, Carmo se intitula como o “viado da família brasileira”.
Carmo entende que alguns privilégios fazem com que ele seja mais “aceito” por um público geral, enquanto pai e pessoa assumidamente LGBTQIA+.
“Talvez porque eu seja branco, tenha uma carreira, seja casado há 18 anos, talvez porque tenha filho, essas e outras características que fazem com que as as pessoas ‘me aceitem’ porque ‘nem parece viado’". E por um lado, “essa passabilidade pode ser positiva”, aponta ele, “de servir de exemplo para que o preconceito diminua".
O ator também acredita que usar sua plataforma, como as redes sociais, dá visibilidade para a comunidade e suas narrativas. Quem o vê todo provocativo e carismático no Instagram, por exemplo, não imagina que Carmo já foi calado e estimulado a não ser ele próprio.
Me diziam que era melhor ficar calado para manter a paz e eu levei muito tempo para entender que essa paz não era necessariamente a minha paz e, sim, a dos outros.
“Hoje, tenho a cabeça muito colocada no lugar, depois de 20 anos de psicanálise. Agora, vocês vão me escutar e sei o que gosto e não gosto de expor”, afirma. Carmo nem se abala com xingamentos e comentários homofóbicos porque sua coragem está em se aceitar e amar sua família.
“Difícil alguém me machucar me chamando de ‘viado’ ou algo do tipo. A partir do momento que eu mesmo me chamo de ‘viado da família brasileira’, vão me xingar do quê?”, brinca.