A trajetória de luta da cacica trans Majur Traytowu
Perfil publicado pela revista "Piauí" conta desafios e acolhimento encontrado na comunidade indígena
Majur Traytowu, da etnia Bororo, líder da aldeia Apido Paru, enfrenta um desafio a mais do que as lideranças indígenas do Brasil que lutam para preservar suas comunidades e territórios: o processo de transição de gênero. O jornalista João Batista Junior e o fotógrafo Victor Moriyama viajaram até Rondonópolis, interior do Mato Grosso, para ouvir e publicar na edição de maio o perfil da cacica na revista "Piauí".
Em publicação no Instagram, o jornalista contou que Majur se reconhece mulher desde criança: filha de mestre de canto e neta de pajé, ela sempre realizou as tarefas designadas às meninas, como as cerimônias de choro durante os rituais de luto. "Ela jura nunca ter enfrentado preconceito dentro da aldeia", relata João na postagem.
“O preconceito é coisa de branco, não existe isso entre o nosso povo Bororo”, afirmou Majur, explicando que os desafios da transição são ligados à falta de dinheiro para seguir com o processo de hormonioterapia sem interrupção, como já aconteceu, e fazer a retificação de nome e gênero em seus documentos.
Liderança da etnia, a cacica tem lutado politicamente para levar melhorias para a aldeia. Só recentemente a prefeitura da cidade construiu uma caixa d´água de 15 mil litros, mas que ainda não funciona. Com ensino médio completo, Majur domina o português e a língua de sua etnia, adora matemática e é ex-agente de saúde indígena, cargo que renunciou para se dedicar integralmente ao posto de cacica.