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Abaixo assinado propõe alterar significado da palavra ‘madrasta’ no Google

Escritora encabeça luta para mudar definição pejorativa

21 jun 2022 - 16h11
(atualizado em 9/8/2022 às 12h17)
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Mariana Camardelli criou perfil para troca de experiências entre mulheres e já soma quase 50k seguidoras
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Foto: Reprodução/Instagram

Má, incapaz de sentimentos afetuosos e amigáveis; aquilo que provêm de vexames e dissabores em vez de proteção e carinho. Quem lê essas palavras imagina que se trata da descrição do vilão de uma história em quadrinhos ou de algum sociopata perigoso. Só que não. Essa é a descrição do termo “madrasta” no Google. Por si só, o substantivo já traz uma carga bem negativa, incentivado em grande parte pelos desenhos da Disney e pela cultura pop.

Mariana Camardelli, autora do livro “Madrasta também educa?”, criadora do perfil @somos.madrastas no Instagram, e do podcast com mesmo nome, encabeça a luta para que a Oxford Languages (parceira do Google Brasil para dicionários) e a Melhoramentos (editora do dicionário Michaelis) mudem as definições de madrastas em seus dicionários.

“Um em cada três casamentos termina em divórcio. Desses casais separados, muitos têm filhos. Quando casam novamente, padrastos e madrastas assumem papeis nas famílias. Mas por que ainda temos tanto preconceito com madrastas? Começar com má não pode ser um bom motivo, senão, madrinha também deveria ser algo associado a maldade. Chega desse estereótipo”, afirma Mariana na descrição do abaixo-assinado, que até o fechamento dessa matéria, contava com 5.477 assinaturas.

Ao digitar a palavra ‘madrasta’ no Google, aparecem três descrições principais: madrasta (substantivo feminino) - 1 - mulher em relação aos filhos anteriores da pessoa com quem passa a constituir sociedade conjugal; 2 - pejorativo/ figurado/sentido: diz-se de mulher má, incapaz de sentimentos afetuosos e amigáveis; 3 - Por extensão: aquilo de que provêm vexames e dissabores em vez de proteção e carinho. Ao pesquisar ‘padrasto’, aparece apenas uma única descrição: padrasto - substantivo masculino. 1 - homem em relação aos filhos anteriores da mulher com quem passa a constituir sociedade conjugal.

No dicionário Michaelis, não é diferente: madrasta (substantivo feminino): 1 - mulher casada em relação aos filhos que seu marido teve de casamentos anteriores; 2 - linguagem figurada: Mulher má, incapaz de revelar gestos de ternura; Adjetivo/linguagem figurada- Diz-se de algo que não oferece benefícios, apenas dissabores e tristezas: Vida madrasta. Já padrasto (substantivo masculino), aparece: homem em relação aos filhos que teve sua mulher em matrimônio ou relacionamento anterior.

Para Mariana, o dicionário só confirma o preconceito. “Quando eu fui estudar mais a fundo sobre o tema, me deparei com essas definições e fiquei chocada, especialmente pela desigualdade gênero: o padrasto é só o cara que casou com alguém que tinha filho”.

O propósito do abaixo-assinado é tentar construir uma mudança de mentalidade sobre a percepção social com a figura da madrasta. “Vamos começar a tirar, limpar essas mensagens de preconceito, começando pelo lugar que confirma as nossas vivências como sociedade”.

Na mídia 

Notícias sobre madrastas que cometem crimes contra os enteados – quem esquece da Isabela Nardoni ou de Cíntia Mariano Dias, que recentemente envenenou os enteados no Rio de Janeiro? – também reforçam o imaginário da mulher má. Mas na verdade, essas mulheres são uma exceção à regra. De acordo com dados do Disque 100, 78% dos crimes de abuso sexual infantil são cometidos por homens próximos das vítimas e o pai ou padrasto é o responsável por 40% das denúncias (as pesquisas não fazem a distinção dos autores). 

“Quando a mídia fala que uma madrasta tentou envenenar o seu enteado, é como se ela tivesse feito isso porque ela é madrasta, mas ela fez porque ela é uma assassina.” No caso de crimes cometidos por homens, as manchetes mudam a nomenclatura. “Quem matou Henry Borel não foi um padrasto, foi o Jairinho. A mídia é machista e misógina”, defende Mariana.

Ela reforça ainda a importância da mudança de percepção social em relação às madrastas e ao fato de que cuidar das crianças é um papel da sociedade.“Se os adultos forem responsáveis e fizerem a sua parte, as crianças não vão sofrer abuso sexual, não vão ser envenenadas, não vão viver em litígio, não vão ver pai/mãe falando mal um do outro”.

“Antigamente, os casais precisavam ficar casados até que a morte os separasse, hoje temos uma opção: o divórcio pode uma saída e não um fracasso e é provável que uma nova pessoa apareça e surja a oportunidade de reconstruir a vida. E que bom! São mais pessoas para somar na vida dessa criança”, finaliza.

Paraíba Feminina
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