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Advogado negro é abordado por PM com arma na cabeça na zona oeste de SP e aponta racismo; veja vídeo

Alexandre Marcondes levou o caso à Corregedoria da Polícia Militar e à OAB; ele ia à padaria no Alto da Lapa, onde mora, quando foi parado

5 out 2022 - 08h34
(atualizado às 09h33)
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Câmera de segurança flagrou a abordagem de policial militar ao advogado em rua do Alto da Lapa
Câmera de segurança flagrou a abordagem de policial militar ao advogado em rua do Alto da Lapa
Foto: Reprodução

O advogado Alexandre Marcondes, morador do Alto da Lapa, bairro de alto padrão de São Paulo, tinha acabado de sair de casa e caminhava para a padaria, na manhã de domingo, 2, quando um policial militar desceu de uma viatura gritando, com a arma apontada para o seu rosto. Marcondes obedeceu a ordem para pôr as mãos sobre a cabeça e virar-se de costas para ser revistado. Quando perguntou a razão da abordagem, pois achou que tinha havido algum assalto no bairro, o policial respondeu apenas que ele estava em atitude suspeita. O advogado, que é negro, acredita que foi alvo de racismo.

Ele conta que chegou a dar bom dia ao policial que dirigia a viatura e se assustou quando o colega dele surgiu na rua apontando a arma e dando ordens, "Fiquei realmente com medo e nem lembro se era para colocar as mãos para cima ou para trás. Depois, eu disse que nunca tinha tido a experiência de ter uma arma apontada para o meu rosto e o policial disse que para tudo sempre tem uma primeira vez. Até me perguntou se eu preferia que fosse ele ou um bandido apontando a arma."

Só depois de uma revista bastante minuciosa, o policial pediu os documentos. "Depois que dei a minha carteira da OAB, ele mudou o tom e disse que eu estava em atitude suspeita porque viu um rapaz na frente e um casal de idosos atrás. Também considerou suspeito o fato de eu estar de máscara em ambiente aberto. No mesmo momento passaram duas mulheres de máscara e questionei se ele iria abordá-las também, mas ele respondeu que não. Eu sugeri então que o motivo da abordagem era minha cor e ele disse que eu estava sendo deselegante." O policial apontou a câmera corporal que usava no uniforme, como justificando a sua ação.

Marcondes está convencido de que só foi abordado por ser negro e decidiu levar o caso à Corregedoria da PM e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Sei que moro em um bairro de classe média e experiências racistas são quase diárias (colocaram casca de banana na frente da casa da minha mãe, que mora em rua próxima), mas me deparar com uma arma apontada para o meu rosto foi assustador e fiquei pensando que minha filha poderia ter presenciado, já que a abordagem foi a menos de 50 metros de porta da minha casa."

Grupo de moradores

O advogado teve outra surpresa quando as imagens da abordagem, captadas por uma câmera de monitoramento, passaram a circular no grupo de moradores pelo aplicativo WhatsApp. Um membro do grupo chegou a perguntar se alguém conhecia "aquele sujeito". "Recebi o apoio de alguns moradores da rua criticando a abordagem, mas outros apoiaram a atuação policial e desaconselharam a adoção de medidas sob o argumento de que procurar a corregedoria implicaria em menos policiamento na rua e prejudicaria o coletivo, sugerindo o vitimismo de minha parte."

A esposa de Marcondes, Tainá Nakamura, que também é advogada, o encorajou a denunciar publicamente o ocorrido. "A despeito de vários episódios constrangedores de racismo já vivenciados por meu marido e por minhas filhas desde que nos mudamos para o bairro há sete anos, nunca havíamos vivenciado algo tão violento quanto essa abordagem", afirmou. "Diante do aumento de assaltos de casas no bairro, os moradores têm exigido das autoridades mais policiamento ostensivo e isso vem se traduzindo em abordagens mais violentas em pessoas consideradas suspeitas, no caso, pessoas negras, mal vestidas, ou seja, pessoas que não se adequam ao perfil dos moradores. Somos uma família de afrodescendentes vivendo em um bairro de classe média alta de São Paulo."

Ouvidoria da PM

Nesta terça-feira, 4, Tainá enviou a denúncia com pedido de apuração à Ouvidoria da Polícia Militar. "Sabemos que os policiais poderão abordar qualquer cidadão e revistá-lo quando verificar alguma atitude suspeita, o que não ocorreu no episódio relatado. A atitude suspeita do meu marido é ser um homem negro circulando em uma rua de classe média alta, com residências de alto padrão, não se adequando ao perfil do morador local", escreveu.

A ouvidoria informou que o caso será apurado. O vídeo foi encaminhado para a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo e a Polícia Militar com questionamentos sobre a abordagem. A PM informou que analisa as imagens apresentadas pela reportagem e busca informações sobre as narrativas apresentadas pelo advogado Alexandre Marcondes.

Estadão
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