"Agrogay": Ivan Rangel fala sobre luta e vida LGBTQIA+ "na roça"
Para agricultor, conservadorismo do campo é desculpa para homofobia: "Já ouvi que estava 'estragando a tradição do agro'"
Conhecido como "agrogay" nas redes sociais, Ivan Rangel, de 29 anos, é do interior de Minas Gerais, mais precisamente São Pedro do Suaçuí, onde fica localizada a fazenda dos pais. Formado em fotografia, ele já realizou outros cursos, mas não se encontrou em nenhuma dessas profissões. Para ele, a roça – como ele mesmo chama – é o seu lugar. "Me sinto realizado aqui na roça, trabalhando na agricultura com a minha família", disse ao Terra NÓS.
Perguntado sobre o apelido pelo qual é conhecido, Ivan contou que surgiu de forma indireta, há 5 anos, quando um vídeo seu ganhou repercussão no TikTok. "Eu estava montado em meu cavalo, tocando o gado, e dublei um áudio afirmando que era gay".
"As pessoa acharam diferente um cara, aparentemente, trabalhador rural e sujo de chapéu falando abertamente sobre sua sexualidade. Assim, eles me apelidaram de 'agrogay'", afirmou Ivan.
"Eu entendi que era gay muito cedo"
Entretanto, ele precisou percorrer um longo caminho repleto de preconceito até, finalmente, se assumir para o mundo, aos 19 anos de idade. Antes disso, Ivan se relacionou com algumas mulheres até conseguir se aceitar como um homem gay. "Eu entendi que era gay muito cedo, aos 13 anos de idade notei que sentia algo por garotos. E isso me causou um certo medo, pois cresci ouvindo que ser gay não era algo bom", contou.
O seu primeiro relacionamento homoafetivo foi há oito anos, Ivan se casou com seu parceiro e, juntos, enfrentaram a rejeição por parte da família do agricultor. Eles se separaram este ano. "Ele foi e é uma peça muito importante na minha vida", afirmou.
Ivan enfrentou desafios que quase o fizeram desistir de ser quem ele é de verdade – por exemplo, com a família. "Minha família, muito tradicional, não entendia muito bem, demorou alguns anos para que eu conseguisse o respeito deles", disse. Hoje, a família o respeita e entende que sua orientação sexual não mudou quem ele é.
O conservadorismo do meio rural
Ainda assim, o meio rural é muito mais conservador e tradicional que o meio urbano, algo que Ivan sabe bem e vivencia todos os dias. "Existem muitos obstáculos ainda, como não sermos tratados como iguais. Não colocam fé no meu trabalho, é como se eu tivesse deixado de ser homem", declarou.
Ivan já teve que ouvir diversos comentários preconceituosos depois que se assumiu gay, como "isso não combina com você" e "está estragando a tradição do agro". Isso o machucava muito, agora não mais.
"No início, eu ficava completamente triste, pensando que eu deveria procurar algo em outras áreas para trabalhar. Cheguei a sofrer de depressao", desabafou.
Hoje, através dos seus vídeos, Ivan tem conseguido conscientizar as pessoas sobre o papel do homem gay no meio rural. "Acredito que estou conseguindo mostrar para muita gente que nós, homens gays, temos a mesma capacidade como qualquer outro homem. Somos iguais e temos a mesma capacidade de exercer qualquer função aqui no campo", afirmou ele.
"Abracei essa luta com toda minha garra, pois sou prova viva que nós, homens gays, somos desacreditados nessa realidade que é a vida no interior, nas zonas rurais, onde o conservadorismo e a tradicionalidade são usadas para esbanjarem homofobia e preconceito sobre nós", finalizou Ivan.