Aldeia luta pelo direito a alfabetização em guarani
Em Mogi das Cruzes (SP), crianças da aldeia M’Boiji são alfabetizados na língua nativa de forma exclusiva até os seis anos de idade.
Em uma área de 32 mil m², um espaço especial é reservado para o aprendizado na aldeia indígena tupinambá M’Boiji, em Mogi das Cruzes (SP). Pelo menos 11 kiringués (crianças em tupi-guarani) se encontram diariamente para aprender o dialeto da família linguística do tronco tupi, língua indígena mais falada no País. Segundo o cacique da tekoa (aldeia), Luis Wera Jyekupe Lima, a comunidade tenta manter o ensino da língua originária de forma exclusiva para crianças até os seis anos de idade. As crianças também são alfabetizadas na Língua Portuguesa na rede regular de ensino, mas o objetivo é conseguir fundar uma escola indígena reconhecida pela rede de ensino municipal dentro da aldeia. Outros 15 adultos indígenas que cresceram em áreas não aldeadas também fazem aulas para aprender a língua nativa.
A aldeia M’Boiji começou a ganhar forma em 2017. Antes disso, as famílias indígenas moravam em outras aldeias ou em áreas urbanizadas. “Quando as primeiras famílias vieram para cá, os pais começaram a ensinar a lingua para as crianças dentro de casa. Depois ensinávamos na primeira estrutura comunitária que fizemos dentro da aldeia, a casa do rezo. Agora temos a escola”, explicou o cacique.
Além de tupi-guarani, as crianças aprendem cantos, danças e rezos tradicionais, além de botânica, cultivo e fauna. “Temos três professores. Dois dão aula de Guarani Mbyá, ensinam os cantos tradicionais e todo conhecimento ancestral sobre as plantas medicinais e os animais. É importante ensinar nossas crianças a proteger a natureza, a conhecer os remédios que vem de determinados insetos, plantas e animais também. Esse conhecimento, escola nenhuma lá fora ensina”, defendeu o cacique.
Desde o começo do ano, a comunidade tem solicitado à Secretaria de Educação de Mogi das Cruzes o reconhecimento da escola indígena na rede municipal de ensino. Com isso, a comunidade teria direito a outras estruturas como profissionais de educação, alimentação escolar, limpeza, materiais didáticos e outros. “Tenho ido a reuniões, encaminhado ofícios, sempre nos recebem bem, mas ainda não tivemos avanço”, destacou.
Direito
A Constituição Federal de 1988 garante aos povos indígenas uma educação escolar intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária, além de prever acesso aos conteúdos mínimos para o ensino fundamental, a fim de assegurar a educação básica comum da população. Também é garantido às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
Em nota a Secretaria de Educação de Mogi das Cruzes informou que "está em estudo a vinculação da escola indígena a uma escola municipal, que atende Educação Infantil e Ensino Fundamental I e está localizada próxima à aldeia. Esta medida permitirá que os alunos recebam, na própria aldeia, os mesmos benefícios dos estudantes da rede municipal, incluindo a oferta de atividades em período integral. O trabalho deve ter início no segundo semestre e, enquanto isso, terão continuidade as tratativas burocráticas e materiais para a criação e reconhecimento da escola indígena, processo que está sendo acompanhado pela Divisão de Legislação e Normas e o Departamento Pedagógico da Secretaria de Educação".