Alopecia se mantém sob os holofotes depois do Oscar
Episódio com Will Smith e Chris Rock resultou numa maior conscientização sobre a condição, que afeta 2% das pessoas
Milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pela alopecia areata, uma doença autoimune que causa queda de cabelo e foi colocada no centro das atenções depois que o ator Will Smith deu um tapa no comediante Chris Rock no Oscar. Isso veio depois que Rock fez uma piada insensível com Jada Pinkett Smith sobre sua perda de cabelo.
Defensores disseram na época que o aumento da conscientização sobre essa condição, que é bastante comum, mas pouco discutida, poderia ser uma consequência positiva do episódio. Na quarta-feira, 1.º, Jada Pinkett Smith dedicou um episódio de seu talk-show, Red Table Talk, ao transtorno. Entenda mais sobre a condição e como o cabelo se relaciona a beleza, raça, cultura e identidade.
O que causa alopecia?
A alopecia areata pode fazer o cabelo cair e também afetar outras partes do corpo, como sobrancelhas e pelos do nariz. A alopecia pode surgir rapidamente, é imprevisível e pode ser difícil lidar mentalmente com ela, revela Brett King, especialista em perda de cabelo da Yale Medicine. "Imagine se você acordasse hoje sem metade de uma sobrancelha", comentou. "Essa imprevisibilidade é uma das coisas que são mentalmente traiçoeiras e terríveis porque você não tem controle sobre isso... é uma doença que tira as pessoas de sua identidade."
Embora raramente discutida, a alopecia é bastante comum: a segunda maior causa de perda de cabelo, após calvície de padrão masculino ou feminino. Cerca de 2% das pessoas têm. Há casos em que ela pode ser tratada.
Como ela afeta as mulheres? E as crianças?
Embora não esteja claro se Rock estava ciente do diagnóstico de Pinkett Smith, o cabelo é uma grande parte da aparência de qualquer pessoa e, para as mulheres, está ligado a conceitos culturais sobre o que as faz parecer femininas. "Espera-se que a maioria das mulheres tenha um bom cabelo", lembrou William Yates, cirurgião certificado para queda de cabelo de Chicago. "Os homens perdem o cabelo e ficam 'calvos graciosamente', por assim dizer, mas uma mulher perder o cabelo é devastador."
A maioria é diagnosticada antes dos 40 anos, e cerca de metade dos casos é de crianças quando o distúrbio aparece pela primeira vez, contou o dermatologista Christopher English. Ter a condição é especialmente difícil para adolescentes, para quem a ansiedade pela aparência e a pressão dos colegas geralmente já estão em alta, observou Gary Sherwood, diretor de comunicação da Fundação Nacional de Alopecia Areata.
A piada de Rock foi difícil de ouvir para a designer de interiores Sheila Bridges. Ela falou com Rock para seu documentário de 2009 Good Hair sobre a importância do cabelo na cultura negra. Para muitos negros americanos, as escolhas de aparência e estilo estão entrelaçadas com o desejo de resistir ao que é considerado normal ou aceitável pela sociedade. De afros e trancinhas a perucas e extensões, cabelo é mais do que estilo.
Bridges falou sobre a vergonha e a humilhação de perder o cabelo para a doença, como seu penteado está entrelaçado com sua identidade racial e como a perda de cabelo afetou seu senso de feminilidade e moeda social. "Não é fácil para uma mulher navegar pela vida sem qualquer cabelo e em uma sociedade que é obcecada por cabelo."
Ela não usa perucas porque não quer, e também espera normalizar e desestigmatizar a aparência das mulheres carecas. Mas mesmo uma década depois que decidiu ficar careca em público, Bridges admitiu que ainda é difícil para alguns aceitarem: "Raramente consigo passar a semana sem alguém dizer algo que é muito, muito insensível".
Um cenário tenso para as mulheres negras, das quais se espera, há gerações, que alterem a textura natural do cabelo para se adequar a um padrão de beleza branco. As mulheres negras são 80% mais propensas a mudar seu cabelo natural para atender às normas sociais no trabalho, de acordo com um estudo de 2019 da divisão de cuidados pessoais Dove da Unilever USA.
Estudantes negros também são muito mais propensos do que outros a serem suspensos por códigos de vestimenta ou violações de cabelo, de acordo com a pesquisa que ajudou a convencer a Câmara dos EUA a votar para proibir a discriminação baseada em penteados naturais em março. "A única coisa boa que pode sair de tudo isso é que a alopecia está na frente e no centro", acrescentou Bridges sobre o episódio