Alvo de racismo, Daiane dos Santos luta por mulheres negras
Em live do Papo de Mina, ex-ginasta destaca importância da representatividade no esporte
Primeira atleta negra a conquistar a medalha de ouro em um Mundial de ginástica, Daiane dos Santos aprendeu desde cedo a ter orgulho de sua raça, e hoje faz questão de empoderar outras meninas e mulheres.
“Essa é a minha bandeira, é quem eu sou, e quero que outras meninas negras tenham oportunidade que eu tive”, diz, em live exclusiva do Papo de Mina.
Racismo e preconceito são assuntos que a ex-ginasta, hoje “influenciadora esportiva”, faz questão de comentar e reforçar. “Vivemos uma jornada de extermínio desse mal [preconceito]. É como uma erva daninha, que a gente tem que arrancar na raiz para que não cresça de novo e não venha tomando todo o espaço do nosso jardim, que é para ser tão belo”, define.
Com essa forma doce, mas firme, Daiane superou episódios indigestos, inclusive na própria seleção brasileira, com atletas e até treinadores evitando frequentar os mesmos ambientes que ela - uma segregação. E ela agradece muito aos pais, que a prepararam para esse ambiente hostil de preconceito racial presente na sociedade com conversas de empoderamento e respeito desde a infância.
“Eu lembrei muito das palavras dos meus pais, de dar valor a quem me dava valor, a quem queria meu crescimento, e a não olhar para quem não gostava de mim… algo que era direito delas, ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas é obrigado sim a respeitar”, conta.
Daiane defende que essa conversa seja replicada a todas as crianças e adolescentes, como uma forma de fortalecer o ego, e prepará-las para o mundo, que “não é só carinho, abraço e afeto, é um mundo que vem aí com bagagem amarga de preconceito”, segundo a campeã mundial.
O PAPEL DA REPRESENTATIVIDADE
Fundamental para a expansão da ginástica no Brasil, Daiane se emociona ao relembrar a conquista de Rebeca Andrade, prata e ouro em Tóquio-2020, e que sempre foi fã de Daiane. E não apenas pelo feito dentro do cenário esportivo, mas por toda a presença que existe por trás, como ela mesma define.
Se Daiane foi a primeira medalha de ouro do Brasil em um Mundial de ginástica, e negra, Rebeca foi a primeira medalha de ouro do Brasil em ginástica em Olimpíadas, negra.
“Ela era eu hoje. Ela era todas nós mulheres brasileiras ali, representantes de tantas questões, de gênero, racial, mãe solo, étnica. Tantas bandeiras carregadas por uma menina tão jovem”.
Otimista, Daiane é enfática ao afirmar que a conquista do ano passado representa uma “porta que não vai se fechar para outras meninas que querem ser Rebeca”.
Assim como Rebeca aproveitou a porta aberta por Daiane. É o papel da representatividade da mulher, e principalmente da mulher negra no esporte.