AM: polícia prende suspeito de envolvimento no sumiço de jornalista e indigenista
Conhecido como Amauri, detido tem histórico de ameaças contra indígenas na região
A polícia prendeu um homem que é suspeito de ter envolvimento com o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia, informa a jornalista Miriam Leitão, da TV Globo, nesta quarta-feira, 8.
A colunista obteve ainda uma foto do suspeito detido com forças policiais no que parece ser uma embarcação.
Segundo Miriam Leitão, o preso, conhecido como Amauri, tem histórico de ameaças contra indígenas na região.
"Ele estava fazendo, nesse momento, uma ameaça à equipe dos indígenas que estava em busca. Isso foi considerado um flagrante", explica a jornalista.
Entenda o caso
O servidor licenciado Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do The Guardian, desapareceram no domingo, quando faziam viagem a trabalho no Vale do Javari.
Um bilhete apócrifo com ameaças dirigidas a Pereira e a líderes indígenas foi deixado no escritório de advocacia que representa a organização para a qual ele vinha trabalhando voluntariamente, em Tabatinga.
"Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas", diz um trecho do bilhete, com a grafia corrigida, endereçado ao advogado Eliesio Marubo. "Sei que quem é contra nós é o Beto Índio, e o Bruno da Funai é quem manda os índios irem prender nossos motores e tomar os nossos peixes. (...) Se querem dar prejuízo, melhor se aprontarem. Está avisado."
Pereira foi visto pela última vez há três dias, quando voltava da Comunidade São Rafael em direção a Atalaia do Norte, na companhia de Phillips. O Comando Militar da Amazônia e a Marinha enviaram ontem dois helicópteros à região para reforçar as buscas.
O percurso da dupla pelo rio deveria demorar não mais do que duas horas e Pereira era um exímio conhecedor do trajeto. Ninguém sabe o que houve. "Temos muita esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro", disse Beatriz Matos, mulher do indigenista. "Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm de ser encontrados", afirmou Alessandra Sampaio, casada com Phillips.
Pouco depois de o Itamaraty divulgar nota, ontem, para dizer que o governo havia tomado conhecimento do assunto "com grande preocupação", o presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou o que chamou de "aventura" da dupla.
"O que nós sabemos, até o momento, é que, no meio do caminho, (eles) teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas pela Polícia Federal, estão sendo investigadas. (...) Duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente", afirmou Bolsonaro, em entrevista ao SBT News.
Pereira estava licenciado de suas atividades na Funai para coordenar um projeto sobre vigilância de terras indígenas na União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). A medida contraria narcotraficantes, garimpeiros e madeireiros que invadem a Terra Indígena do Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas com o tamanho de Portugal.
O advogado Eliesio Marubo, que recebeu o bilhete anônimo há cerca de um mês e meio, é nativo do Vale do Javari. Ele deixou o território aos 16 anos e se tornou um importante ativista nos tribunais. Marubo e Beto, citado no bilhete, também são líderes da Univaja.
"Não tenho a menor dúvida (que o sumiço de Pereira está relacionado com a ameaça). Era uma questão de tempo para acontecer. Infelizmente, é dessa maneira, até finalizarem o que eles têm de fazer. O Estado não está presente e deixa um espaço vazio. Onde o Estado não está, o crime está", disse Marubo.
Outra ameaça recente ocorreu na cidade. Um piloto de embarcações da Univaja e o consultor Orlando Possuelo, filho do sertanista Sydney Possuelo, foram intimidados. "Nosso piloto e o Orlando foram parados por pessoas dizendo que eles tinham de parar o que estavam fazendo, se não ia acontecer o mesmo que aconteceu com Maxciel", contou Marubo. Maxciel Pereira era um colaborador da Funai que atuava nas bases do Vale do Javari e foi assassinado, em 2019. Até hoje, o crime está impune.
* Com informações do jornal O Estado de S. Paulo