Angela Davis: a mulher que virou ícone na luta contra o racismo
Filósofa, escritora e ativista política, Angela Davis ficou conhecida pela sua forte atuação na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos
Angela Davis é uma renomada ativista afro-americana, feminista e acadêmica, conhecida por seu trabalho incansável na luta pelos direitos civis, especialmente nas décadas de 1960 e 1970. Ela foi uma das principais figuras do movimento pelos direitos das mulheres negras, destacando-se por seu ativismo contra a opressão racial, de gênero e de classe.
Angela Davis é, sem dúvida, um dos maiores nomes do ativismo pelos direitos humanos do mundo. Desde o tempo da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, onde participou ativamente como integrante do Partido dos Panteras Negras e do Partido Comunista, seu nome ressoa como um símbolo de resistência, justiça e luta incansável.
Professora, filósofa, escritora e ativista política, nasceu no Alabama em 1944 e, desde muito cedo, viveu a opressão, a brutalidade policial e o que chamamos de “apartheid racial”, que ocorreu após as leis Jim Crow, que impunham a segregação no país.
Com essa extensa bagagem, ela marcou a história e a política mundial e, até hoje, segue sendo uma grande referência, tendo diversos livros publicados, como “Mulheres, Raça e Classe” e “A Liberdade é uma Luta Constante”.
Quem é Angela Davis?
Angela Yvonne Davis é uma das maiores ativistas a favor do anticapitalismo, antirracismo e do feminismo negro, além de criticar a opressão sistêmica e o encarceramento em massa.
Nasceu em 26 de janeiro de 1944, na cidade de Birmingham, Alabama, no sul dos Estados Unidos, em um período histórico onde a segregação racial era lei. Isso fica explícito no lema de um dos governadores do Alabama, George Wallace, que dizia: “segregação agora, segregação amanhã, segregação para sempre”.
Nesse cenário, Angela nasceu em uma família bem posicionada politicamente. Era filha de professores que faziam parte de movimentos contra o racismo e flertavam com o Partido Comunista.
Tudo isso tornou ainda mais fácil que a filósofa iniciasse no mundo político durante a década de 60, já que cresceu imersa em discussões políticas, antirracistas e, principalmente, em meio a uma das maiores organizações supremacistas brancas já existentes, a Ku Klux Klan.
Foi durante os estudos que Angela Davis começou a se organizar politicamente. Aos 15 anos começou a estudar sobre marxismo, ainda no ensino médio, ao conseguir uma bolsa na escola de Elisabeth Irwin em Nova York.
Após o ensino médio, foi estudar filosofia em Paris, onde se uniu a organizações pacíficas contra a segregação racial.
Ao voltar aos Estados Unidos se associou aos Panteras Negras, um grupo revolucionário afro-americano que buscava confrontar o racismo estrutural e promover os direitos da comunidade negra. Angela se destacou no grupo pelo seu envolvimento com o Movimento dos Direitos Civis dos afro-americanos.
Hoje em dia, aos 80 anos, além do seu ativismo político, Angela Davis também é conhecida por seu trabalho acadêmico como professora de Estudos Feministas e Estudos Afro-Americanos na Universidade da Califórnia. Angela também é autora de vários livros que abordam questões de raça, classe, gênero e justiça.
A luta contra a segregação racial
Em 1963 houve um dos piores atentados já registrados contra a comunidade negra nos Estados Unidos. No dia 15 de setembro daquele ano, a Igreja Batista da Rua 16th foi atacada com uma bomba detonada durante um culto de domingo. Muitas pessoas ficaram feridas e a explosão acabou matando quatro meninas negras, todas amigas da irmã mais nova de Angela.
Esse fato fez com ela decidisse se unir a organizações políticas que pediam o fim da segregação racial de forma mais radical, como o Partido dos Panteras Negras. Nele, atuou nas atividades mais pacíficas, com foco na educação e principalmente no apoio de membros presos do partido. Dali em diante, tornou-se uma defensora ativa na luta anti-encarceramento.
Mas, foi em 1970 que Davis ganhou destaque nacional e internacional, quando sofreu fortes perseguições, sendo acusada de ser comunista e de ter participado do sequestro e assassinato de um juiz, após um tiroteio em um tribunal em Marin County.
Apesar de não haver evidências da participação de Angela na morte do juiz, ela entrou para a lista dos dez criminosos mais procurados pelo FBI e foi presa como terrorista.
Angela fugiu da prisão, mas foi capturada, ficando presa por um ano e meio. Durante os meses de prisão foram organizadas várias manifestações em prol de sua liberdade.
A mídia foi extremamente importante nesse momento, já que colocou em evidência a realidade que os negros norte-americanos viviam e transmitiu ao mundo todo o movimento pela liberdade de Angela Davis, chamado de “Free Angela”.
Em 4 de junho de 1972, Angela Davis foi absolvida de todas as acusações e voltou a ser uma mulher livre.
Angela Davis e o feminismo negro
Não há como negar a importância de Angela Davis para o feminismo negro ao redor do mundo, principalmente por mostrar a importância de uma interseccionalidade na luta pela igualdade de gênero.
Isso trouxe para o movimento uma nova afirmação, já que mostra que uma mulher negra não vive apenas a opressão de gênero, mas também sofre diariamente as mazelas do racismo, além de muitas vezes sofrer a opressão de classe.
Em um dos seus principais livros, “Mulheres, Raça e Classe”, explora essas intersecções, fornecendo uma estrutura teórica essencial para compreender o feminismo negro e quais são as principais reivindicações de uma mulher negra na sociedade.
Mas, o ativismo da filósofa não se limita apenas aos Estados Unidos. Angela é uma figura globalmente reconhecida pela sua luta por justiça social e direitos humanos, sendo convidada por inúmeras universidades e organizações para falar sobre seus estudos e lutas.
Inclusive, Angela Davis já veio diversas vezes ao Brasil. E foi na Universidade Federal da Bahia (UFBA), durante discurso emocionante sobre a participação das mulheres negras na luta política e contra o encarceramento em massa, que uma de suas frases mais importantes ficou conhecida:
“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo”.
Principais obras de Angela Davis
Angela Davis é uma das principais escritoras da contemporaneidade e seus livros já foram até leitura obrigatória em vestibulares, como é o caso da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Além disso, o Brasil é um dos países que mais compra suas obras.
Suas análises críticas convidam toda a sociedade a ter um olhar mais igualitário. Seus livros são amplamente lidos e debatidos, e têm influenciado gerações de estudiosos e ativistas ao redor do mundo. Quer conhecer algumas obras de Angela Davis? Confira a lista:
Mulheres, Raça e Classe (1981)
Este livro é uma obra que examina as intersecções entre raça, gênero e classe na sociedade americana. Davis argumenta que as lutas feministas e antirracistas devem ser entendidas como inseparáveis e enfatiza a importância de uma abordagem interseccional para alcançar a justiça social.
Estarão as prisões obsoletas? (2023)
Neste livro, Davis questiona a eficácia e a moralidade do sistema prisional nos Estados Unidos, argumentando que as prisões não apenas falham em resolver problemas sociais, como também perpetuam a desigualdade e a opressão. Ela defende a abolição do sistema prisional e propõe alternativas mais humanas e eficazes.
A Liberdade é uma Luta Constante” (2016)
Ao longo dessa obra, Davis examina os movimentos de justiça social em todo o mundo, destacando os paralelos entre o ativismo em Ferguson, nos Estados Unidos, e a luta palestina por liberdade. Ela argumenta que os movimentos de resistência devem se unir em solidariedade contra todas as formas de opressão.
Angela Davis: Uma Autobiografia” (1974)
Em sua autobiografia, Angela Davis narra sua infância, educação e envolvimento no movimento dos direitos civis e na luta pela libertação negra. Ela também discute sua prisão e o julgamento altamente polêmico que enfrentou na década de 70.
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