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"Aqui é um negócio mais descarado", diz Alfred Enoch sobre racismo no Brasil

Ator de 'Harry Potter' protagoniza filme 'Medida Provisória', o primeiro dirigido por Lázaro Ramos, e revela o racismo que sofreu no Brasil

9 abr 2022 - 08h13
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Alfred Enoch é um dos protagonistas do filme 'Medida Provisória'
Alfred Enoch é um dos protagonistas do filme 'Medida Provisória'
Foto: Lucas Ramos / AgNews

A desenvoltura com a língua portuguesa em um "carioquês" inconfundível é só um dos esforços de Alfred Enoch para provar sua brasilidade. Filho de mãe brasileira e pai inglês, o ator da saga 'Harry Potter' e da série 'How to Get Away With Murder' é também o protagonista de um filme nacional, 'Medida Provisória', que estreia em 14 de abril.

No longa, o primeiro dirigido por Lázaro Ramos, Alfred interpreta o advogado Antônio que, junto com Capitú (Taís Araújo) e André (Seu Jorge), estimula o debate em torno de questões sociais de um Brasil do futuro parecido com o país do presente e do passado. O convite surgiu do próprio Lázaro, após assistir a uma entrevista em português do ator anglobrasileiro. 

"Na entrevista eu falo sobre a importância dessa brasilidade, que era importante pra mim falar em português com minha mãe (...) e o Lázaro viu isso e resolveu me dar esse presente, essa oportunidade de protagonizar um filme brasileiro, do cinema nacional. Depois de ter lido três páginas, disse: 'Essa história precisa ser contada'. E eu percebi que Lázaro queria contar de uma forma divertida", lembra Alfred.

A história de 'Medida Provisória' é uma adaptação da peça 'Namíbia, não!', escrita entre 2009 e 2011 pelo roteirista e ator baiano Aldri Anunciação, com direção de Lázaro Ramos. A peça virou livro, premiado com o Prêmio Jabuti em 2013, e filme, com roteiro adaptado em 2015. Quatro anos depois, as gravações começaram com um elenco que conta ainda com Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Xavier e Emicida.

Conheceu o racismo cedo

O filme era para ser um alerta, segundo Lázaro Ramos. Nesse futuro distópico, o governo brasileiro decide reparar o passado escravocrata com uma medida provisória que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África. Uma expulsão inusitada, mas não rara, uma vez que cotidianamente pessoas pretas são excluídas, discriminadas e subjugadas pela cor da sua pele.

E, assim como 56,2% da população brasileira que se autoidentifica negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Alfred Enoch já viveu as perversidades do racismo "à brasileira". Aconteceu quando ele tinha em torno de seis anos de idade, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. 

Ele visitava uma amiga da sua mãe que estava hospedado no hotel. Vestindo bermuda e calçando chinelos, foi impedido pelo segurança de entrar no hotel. Dizer que estava acompanhando os pais, que haviam acabado de entrar, não adiantou muito. Foi preciso que sua mãe voltasse para confirmar o que ele, ainda menino, falava.

"O racismo estrutural existe tanto na Inglaterra quanto no Brasil. Não quero dizer que lá seja um paraíso, porque é mentira, não existe. Mas eu diria que aqui acho que é um negócio mais descarado, mais explícito. A desigualdade quanto a isso é maior", observa Alfred.

'Medida Provisória', filme de Lázaro Ramos, estreia em 14 de abril
'Medida Provisória', filme de Lázaro Ramos, estreia em 14 de abril
Foto: Divulgação

O ator reconhece na história de Brasil e Inglaterra o principal motivo para essa forma diferente de o racismo ser expressado. Embora os ingleses tenham lucrado com o comércio de negros escravizados, não houve uma população de pessoas que foram libertadas da noite para o dia, sem qualquer indenização.

"O que as pessoas fazem para se tirar dessa miséria? É um processo assim… A escravidão é uma chaga aberta em toda a sociedade, uma coisa que a gente ainda tem que tratar", defende. 

Atuar sob direção de Lázaro Ramos, em um filme como 'Medida Provisória', é a oportunidade que Alfred diz sempre ter buscado para colaborar na luta por uma sociedade mais justa. Segundo ele, faz parte do ofício do ator ir além do entretenimento e abordar assuntos difíceis, embora necessários.

"A gente conta a história, propõe outro caminho, outra maneira de ver as coisas. É isso que encontrei nesse roteiro", acrescenta.

Fonte: Redação Terra
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