Assucena e suas ancestrais
Prestes a realizar um tributo a Gal Costa, a artista conta sobre sua relação com a cantora e outras mulheres da música brasileira
A cantora Assucena mergulhou na música logo no início da faculdade de história. A vontade de ser artista chegou de mansinho mas, quando ela se deu conta, já estava entregue. A artista, ex-integrante do grupo As Baías, segue em carreira solo e está pronta para lançar um disco.
No mês de março, acompanhamos seu show intimista na Casa Clã, evento produzido por quatro marcas da Editora Abril: Elástica, Claudia, Bebê e Boa Forma. A ideia de celebrar o mês da mulher veio com reflexões sobre os desafios do cotidiano e a potência feminina. Durante a apresentação, ela refletiu sobre o tributo a Gal Costa e a importância das cantoras que a acompanharam desde a infância.
"Assucena"
Gal me pariu como artista, principalmente com o disco 'Fa-Tal - Gal a Todo Vapor', que me impressionou e me fez perceber o quão incrível ela era. Estamos em um ano de luto, e por isso precisamos celebrar essa obra"
Abaixo, confira a entrevista completa:
Qual é a sua relação com a Gal Costa e o que você sente quando ouve suas músicas?
A Gal sempre foi uma cantora que esteve no meu imaginário, assim como ela esteve no imaginário social por conta de sua popularidade. As gerações modernas não têm noção disso - ela enchia estádios e tinha até um programa de TV. Quando passei a pesquisar sua obra, em 2011, tive a dimensão do quão monumental ela era. Ao ouvir suas canções, entramos num Brasil profundo. Há músicas de Dalva de Oliveira, Carmen Miranda, Dona Ivone Lara, enfim… Ela se debruça sobre o passado de forma interessante.
Tudo isso para dizer que Gal me pariu como artista, principalmente com o disco Fa-Tal - Gal a Todo Vapor, que me impressionou e me fez perceber o quão incrível ela era. Estamos em um ano de luto, e por isso precisamos celebrar essa obra.
O que a música dela faz você pensar o que você quer ser enquanto artista?
A obra dela me ensina sobre um país diverso, colorido, exuberante, refinado e plural - onde a gente reivindica o amor. E isso me faz querer cantar um Brasil bonito e verdadeiro.
Como outras cantoras também abriram caminhos para você se colocar nesse mercado?
Para você ter ideia, tive problemas com meu pai na infância porque só ouvia cantoras mulheres - ele dizia: "você não é menino? Então tem que escutar homem". Mas eu não gostava, era aquela criança viada que cantava Whitney Houston. Sempre adorei o poder da interpretação da voz da mulher. Assim como, por exemplo, sinto que a voz do Ney Matogrosso tem signos femininos - independente dele não ser trans. E isso é lindo. A Maria Bethânia, a Elza Soares e a Elis Regina também fazem parte dessa minha construção.
Lembro que a minha relação com a Elza foi muito profunda desde quando a ouvi cantar " O meu guri" , de Chico Buarque, em uma versão mais lenta. Fiquei completamente embasbacada.
E agora você inspira outras artistas que te veem cantar. Como você leva essas pessoas junto com você?
A música é uma rede. Tenho as minhas ancestrais e a geração mais recente é a da Céu, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Anelis Assumpção… São cantoras que eu tenho contato, inclusive, a Céu está me dirigindo artisticamente e isso é incrível porque ela é um fundamento de sofisticação. E quando vejo muitas artistas novas me buscando, fico muito feliz - não pela reverência, mas como reconhecimento de uma música que se propõe como defesa da brasilidade. Defender nossa raiz é muito importante porque cantar as entranhas é o que me deixa feliz e o que me conecta com todos esses artistas amados.
Qual é o seu momento de agora?
Estou no processo de terminar meu primeiro disco solo. Lancei o primeiro single no ano passado, que foi "Menino pele cor de jambo" e o segundo agora, "Nu". Estou muito feliz com a possibilidade de lançar uma obra com meu nome e minha assinatura, algo autoral. É muito difícil ser artista por muitas questões, mas é o que amo fazer com todas as minhas forças. Como diz a Bethânia: o ideal é cantar, namorar e sorrir.