Ativistas apontam racismo na exposição de Wallace por Carol Nakamura
Atriz e o marido Guilherme Leonel usaram redes sociais para atacar decisão de Wallace, de 12 anos, em retornar para mãe biológica
A atriz Carol Nakamura e o marido, Guilherme Leonel, deram uma aula do que não fazer quando o assunto é guarda, adoção e proteção de menores. Em seus perfis no Instagram, publicaram uma série de mensagens na última terça-feira, 31, falando sobre a decisão de Wallace, de quem tinham a guarda, de retornar para a casa da mãe biológica. As queixas públicas expuseram uma criança e sua família de origem e foram criticadas por ativistas que apontaram racismo nelas.
Nas mensagens, apesar de dizer respeitar a decisão de Wallace, Nakamura chamou a criança de "sem vergonha" em texto e, ao relatar a relação em vídeo, afirmou que o menino era manipulador, além de expor uma série de detalhes da família biológica, inclusive a sorologia da avó do menino, algo proibido pela lei 14.289, de 2022.
Já Guilherme, em texto de uma postagem, afirmou que ao retornar para a família biológica, Wallace "dificilmente terá um futuro", dando a entender que a única perspectiva positiva seria estar com os pais adotivos.
Além da sorofobia, o racismo
A partir das publicações do casal e da repercussão do caso em páginas de fofocas, muitos usuários e usuárias passaram a atacar… Wallace, a criança exposta.
Isso fez com que a jornalista Lola Ferreira destacasse em seu perfil no Twitter alguns dos comentários, sinalizando como o racismo se aplica: "Os comentários nos IGs de fofoca sobre a volta do filho da Nakamura para a mãe biológica expõem o que a gente tanto fala de meninos negros não poderem ser crianças".
Os comentários nos IGs de fofoca sobre a volta do filho da Nakamura para a mãe biológica expõem o que a gente tanto fala de meninos negros não poderem ser crianças.
“Ingrato”, “quer ficar à toa”, “vai se arrepender”, “já sabemos o fim, tá no sangue” (sim rs)
Ele tem 12 anos.
— Lola Ferreira (@lolaferreira) May 31, 2022
Depois da repercussão, Carol retornou às redes pedindo que não atacassem o filho ou a família biológica.
Ao contrário do que vem sendo noticiado, Carol e Guilherme não tinham adotado Wallace, e contavam apenas com a guarda da criança, algo, em geral, temporário. Chamada "entrega direta", quando a família biológica permite que a criança viva com possíveis pais adotivos, o caso de Nakamura não é legal e inclusive é desaconselhável, pois não garante a segurança de nenhuma das partes.
A ativista e assessora parlamentar Morena Mariah classificou o caso como desumano, reforçando que as burocracias para adoção são essenciais "para a preservação da dignidade, tanto da criança, quanto da família biológica."
O racismo explícito no caso da adoção ilegal da n*k*m*r* deixa nítido que a burocracia que envolve adotar uma criança é NECESSÁRIA para a preservação da dignidade, tanto da criança, quanto da família biológica.
O que aconteceu com essa família foi algo desumano.
— A Morena do Afrofuturo (@morenamariah) May 31, 2022
Adoção não é caridade e exposição de menor
A influenciadora Gabi Oliveira, que passou por um processo de adoção tardia, ou seja, de crianças mais velhas e não bebês, como é a grande maioria, ressaltou como o discurso de Carol tem um viés muito grande de caridade, e reforçou a importância do curso preparatório para adoção.
Eu fui ver os stories da Carol Nakamura e só piora. Fala de que o menino tava safado, malandro…além disso detonando adoção tardia tirando uns dados não sei de onde. Sendo q a maior parte dos problemas q ela enfrentou você aprende sobre eles no CURSO PREPARATÓRIO PARA ADOTANTES
— Gabi Oliveira (@depretas) May 31, 2022
No vídeo abaixo, Gabi explica com mais detalhes os processos, além de reforçar que, por não terem a guarda definitiva da criança, Carol e Guilherme não poderiam, em nenhum contexto, divulgar imagens de Wallace: