Atleta brasileira relata pavor na Ucrânia: “Tremia o prédio”
Gabriela Zidoi tenta retornar ao Brasil após invasão russa
Isolada em um hotel junto a outras jogadoras do seu time, FC Kryvbas Women, Gabriela Zidoi espera apenas por uma notícia: a data do seu voo de volta para o Brasil ou para Portugal, onde seus pais vivem atualmente.
Aos 21 anos, a jogadora passa por momentos de tensão na Ucrânia, que desde a última quinta-feira (24) sofre com ataques russos. Em conversa exclusiva com o Papo de Mina, Gabriela destacou que está segura, recebendo todo o suporte necessário, mas que seu empresário e o clube estão fazendo o possível para tirá-la do país o mais breve possível.
“Ainda não tem uma data, não tem como dizer, mas eles estão procurando uma saída”, disse. Com alguns aeroportos atacados, o espaço aéreo ucraniano está fechado, e trens também se tornaram uma difícil opção. O que muitos moradores estão tentando fazer é chegar até a fronteira com a Polônia, para então buscarem voo para outros destinos, mas o deslocamento não é considerado seguro.
Hoje na cidade de Kryvyi rog, localizada mais ao centro, Gabriela relatou que já se sente mais tranquila, pois este é considerado um dos locais mais seguros da Ucrânia, já que ainda não sofreu ataques, mas a quinta-feira, 24, foi de bastante pavor.
"Estávamos em hotel perto de uma base militar, e houve explosões próximas de onde estávamos. Tremia o prédio onde estávamos, sentia como se fosse do nosso lado. Pessoas chorando, correndo, pegando mala, documentos. Foi complicado”, descreveu a atleta.
Depois da transferência, todos continuam isolados, e somente alguns responsáveis saem para buscar ou comprar coisas específicas. Fora isso, ninguém pode sair. Há ainda a recomendação de apagar as luzes à noite, por segurança, segundo relatos da jogadora.
“Mas aqui não ouvimos barulho de avião, de ataque, graças a Deus”.
As outras jogadoras e membros da comissão técnica, apesar de estarem seguras no hotel, com comida e suprimentos, não se sentem 100% tranquilas, preocupadas com familiares que estão em outras cidades alvos de ataques. “Assim como a minha família no Brasil e em Portugal está preocupada, eles também estão”, afirmou.
Brasileiros pedem auxílio à embaixada
Na quinta-feira, logo que foram noticiadas as primeiras explosões, um grupo de jogadores brasileiros dos principais clubes ucranianos divulgou vídeo pedindo apoio ao governo brasileiro e à embaixada para deixarem o país.
Segundo Gabriela, pessoas próximas a eles chegaram a contatá-la, mas pela distância entre as cidades (os atletas estão, junto de suas famílias, em um hotel em Kiev), não foi possível a junção, além de a cidade onde ela está - Kryvyi rog - ser considerada mais segura.
Em relação à embaixada, porém, a jogadora fez algumas críticas: "Têm dado suporte, mas não como a gente queria”. Segundo ela, não dão a resposta nem a ajuda que os brasileiros precisam no momento. “Deveriam estar mais preocupados conosco, porque não somos daqui”, reforçou.
Carreira
Nascida em São Paulo, Gabriela joga futebol desde os sete anos de idade - mas sempre em clubes masculinos. Aos 15, já morando na Bahia, começou a atuar pelo Atlântico, único time feminino da região. No ano seguinte, se mudou para o Espírito Santo, e jogou pelo Vila Nova. Depois de uma lesão no joelho, aos 16 anos, retornou ao clube, e ainda teve uma passagem pelo Serra, também de Vitória.
Aos 18 anos acompanhou os pais na mudança para Portugal, e não desistiu do sonho do futebol nem mesmo em outro continente. Jogou pelo Futebol Clube Benfica e pelo Atlético Clube Portugal, até conhecer seu empresário e receber uma proposta para atuar no atual clube, o FC Kryvbas Women, da Ucrânia - uma aposta, segundo ela.
As maiores dificuldades? Cultura, culinária e o idioma. “Já consigo sobreviver, mas não falo fluentemente", ela brincou.
Questionada sobre a possibilidade de deixar a Ucrânia assim que começaram as notícias sobre a crise entre Rússia e Ucrânia, ela explicou que cogitou muito voltar para o Brasil ou ir para Portugal, ou mesmo tentar outro clube.
“Tem a questão do contrato com o clube e o mercado de transferência, que não é tão fácil”, concluiu.