Ator nega ter discriminado pessoas com síndrome de Down, mas casal abordado mantém denúncia
Em nota enviada ao blog Vencer Limites por meio de um advogado, Luciano Chirolli diz que acusações são "infundadas e inverídicas". Representante de Beatriz Campinho e Ariel Goldenberg confirmou que a famíla recusou novo contato com o artista.
Luciano Chirolli, de 60 anos, é acusado de discriminar e ofender Beatriz e Ariel, duas pessoas com síndrome de Down, dentro da TUCARENA, que faz parte do TUCA, o Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Segundo o casal, no último domingo, 21, no encerramento da peça, quando o elenco agradecia ao público, Chirolli saiu do palco e subiu as escadas da plateia até onde estavam os namorados.
"Ele veio diretamente na nossa direção, parou na nossa frente, disse que não deveríamos estar naquele lugar e que não tinhamos postura para assistir aquela peça", contam Beatriz e Ariel em entrevista exclusiva ao blog Vencer Limites. "Estava muito alterado, falando alto e batendo com uma bengala no chão. Todos ao redor viram e ouviram", relata o casal. "Ele chegou muito perto e pensamos que iria nos agredir", comentam.
De acordo com a advogada do casal, a denúncia apresentada na 1ª Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência de São Paulo está mantida. "A assessoria da peça entrou em contato dizendo que ele queria falar com a família, mas isso não foi aceito porque ele mantém a posição de que nada aconteceu", diz Isabel Campinho.
Humberto Campinho, pai de Beatriz, contou ao blog que a quantidade de provas obtidas pela família sustenta a acusação. "São muitos dados que não permitem a ele jogar a culpa sobre a Bia e o Ariel", diz.
O ator e escritor PC Marciano, que estava no teatro e presenciou a abordagem de Chirolli ao casal com síndrome de Down, contou com exclusividade ao blog Vencer Limites tudo o que viu e ouviu na Tucarena.
"Luciano Chirolli se afasta de seus colegas e vai em direção do casal. Nesse momento, eu saio do meu assento e também vou na direção deles, cheguo praticamente junto com Luciano e presencio na integra o que aconteceu. O ator se aproximou a centímetros de Beatriz, apoiou sua bengala no chão e começou a bater, e falava com raiva", conta Marciano.
"Ele olhou fixamente para Beatriz e disse as seguintes palavras: 'Vocês atrapalharam o espetáculo inteiro, isso aqui não é para vocês. Faça um favor, nunca mais vá ao teatro, isso não é para vocês'. Eu interrompi falando: 'Você tá louco?', ele não me olhou, virou as costas e desceu para o tablado. Isso aconteceu enquanto da atriz Ana Lucia Torre dizia que o teatro é para todos", detalha o escritor.
"Pedimos reparação da parte dele e ele (Chirolli) afirmou a sua posição gritando que não ira se desculpar, que estava correto, afirmou perante as pessoas que o teatro não era para eles. Ficamos indignados e ele tentou corrigir dizendo que eles não podiam estar ali sozinhos, teriam que estar acompanhados pelos pais", completou PC Marciano.
O blog Vencer Limites também recebeu relatos por escrito de mais quatro pessoas que estavam na plateia da Tucarena e presenciaram a abordagem de Luciano Chirolli a Beatriz Campinho e Ariel Goldenberg. Essas testemunhas, que pedem para não serem identificadas por medo de represálias, afirmam que já se colocaram à disposição da família e da polícia para eventuais depoimentos na delegacia que apura o caso. Todos os relatos destacam que a conduta de Ariel e Beatriz durante o espetáculo não atrapalhou o andamento da peça, que o tom de voz do casal não era diferente de outros presentes e confirmam que o ator disse "vocês atrapalharam a peça inteira, não têm condições de estarem aqui neste teatro".
Ator responde - Em nota enviada ao blog Vencer Limites nesta sexta-feira, 26, por meio do escritório de advocacia Casagrande, o ator e diretor Luciano Chirolli nega ter sido preconceituoso. Leia a íntegra abaixo.
"Em resposta às infundadas e inverídicas acusações de que estou sendo vítima em mídias sociais e meios de imprensa, venho esclarecer os fatos ocorridos no dia 20/8/2022, durante e após o Espetáculo "Longa Jornada Noite Adentro", em cartaz no Tucarena (PUC-SP).
Ao longo da referida apresentação teatral, da qual integro o elenco, notei duas pessoas na última fileira da plateia com comportamentos absolutamente inadequados com o ambiente, tais como manifestações diversas, diálogos entre si e comentários sobre as cenas, sempre em tons altíssimos de voz. Tais comportamentos, como é de conhecimento comum, atrapalham a atuação dos atores e prejudicam a experiência dos demais integrantes da plateia. Naquele momento, em razão da concentração no trabalho, não poderia distinguir se se tratavam de crianças, adultos, homens, mulheres ou qualquer outra condição pessoal.
Ao final do espetáculo, abalado emocionalmente por conta do barulho constante, dirigi-me exclusivamente àquelas duas pessoas da última fileira, as quais não conhecia anteriormente, e as orientei que aquele comportamento era inadequado e havia prejudicado toda a atuação do elenco.
Somente naquele momento notei que se tratavam de pessoas portadoras de Síndrome de Down. Tal condição pessoal em nada influenciou minha conduta, a minha repreensão foi exclusivamente por conta do comportamento inadequado para execução de qualquer espetáculo teatral. Em nenhum momento me comportei de forma preconceituosa, ou pronunciei quaisquer coisa que pudesse ser interpretada como tal.
Ressalto que nunca compactuei em minha vida pessoal e minha carreira profissional de 38 anos com qualquer ato discriminatório às minorias e/ou pessoas portadoras de deficiências, sejam elas quais forem. Muito pelo contrário: como ator, sempre militei em favor do direito de igualdade dos indivíduos e contra discriminações de quaisquer natureza, fato esse que pode ser facilmente confirmado por colegas de trabalho e demonstra a inverdade das recentes acusações contra minha pessoa.
Mesmo assim, caso minha conduta tenha, de alguma forma, sido interpretada como ofensiva e/ou desrespeitosa a quem quer que seja, manifesto as mais sinceras desculpas, ressaltando que minha intenção foi exclusivamente no intuito de orientar sobre o comportamento socialmente correto do público durante um espetáculo teatral. Estou inteiramente à disposição para conversar pessoalmente com as pessoas que se sentiram ofendidas e esclarecer qualquer mal entendido que possa ter provocado.
Por fim, esclareço que todo e qualquer excesso indevido nas manifestações públicas que atentam contra minha imagem e sólida reputação serão alvo de responsabilização nas esferas civil e criminal", diz a nota.