Atriz trans fará super-heroína em série nacional da HBO Max
Anne Mota, estrela de "Alice Júnior" (Netflix), viverá uma garota superinteligente em "O Beijo Adolescente", ainda sem data de estreia
Anne Mota é a prova de que a representatividade chegou para ficar no streaming - e, felizmente, se estende também às produções nacionais. Depois de arrasar como a protagonista do filme "Alice Júnior", disponível na Netflix, a atriz pernambucana agora aguarda ansiosa pela estreia de "O Beijo Adolescente". Ainda sem uma data confirmada, mas com gravações finalizadas, a série da HBO Max é baseada na trilogia em quadrinhos criada por Rafael Coutinho e lançada entre 2011 e 2015.
"Minha personagem, Nina, faz parte de um grupo de jovens com poderes chamado Beijo Adolescente. Ela é uma super-heroína e o grande poder dela é a inteligência. O mais interessante é que a história não especifica se ela é uma pessoas trans ou cisgênero, a ação não gira em torno da identidade da personagem", conta Anne.
Enquanto a HBO Max não bate o martelo sobre a data de estreia, Anne se dedica ao curso profissionalizante de atriz na Escola de Atores Wolf Maya, em São Paulo, e ao ativismo no Instagram, sempre buscando fazer posts didáticos e com um viés afirmativo. "Vidas trans importam e também são uma celebração", afirma. "Estou cansada de ver pessoas trans lembradas apenas por causa de narrativas tristes, pesadas ou violentas, com episódios de mortes ou estupros. Nós não somos diferentes das pessoas cis. Também vivemos nossas vidas com sonhos, amigos, família, temos relacionamentos e profissões. Não precisamos passar por questões pesadas para sermos quem somos", completa.
Para ela, "Alice Júnior" foi um divisor de águas no modo como as pessoas trans são representadas nas produções audiovisuais. O filme conta a trajetória de uma adolescente trans que se ama, prega o amor próprio e quer, como toda menina da mesma idade, dar o primeiro beijo. Pelo papel, Anne Mota conquistou diversos prêmios, como melhor atriz no 52º Festival de Brasília, melhor interpretação no Festival Mix Brasil (2019), melhor performance no IMAGE+NATION Festival Film LGBTQUEER Montreal (2020) e Prêmio Guarani de Melhor Atriz Revelação (2021).
Quando foi convidada para protagonizar "Alice Júnior", Anne fazia faculdade de teatro em Recife e precisou encarar seis meses de preparação de elenco bem intensas. "A cada cena, pensava: é isso o que eu quero fazer da minha vida", revela. Com o sucesso do filme e as impressões positivas por parte da crítica, decidiu trancar a matrícula e se mudar para São Paulo para investir na carreira artística.
Morando desde março na capital paulista, Anne diz que, embora esteja no casting de uma agência e fazendo muitos testes, a competição é muito acirrada para pessoas trans. "De cada cem personagens numa trama, por exemplo, apenas um é trans e em geral é representado de uma forma clichê. Ou não gosta do próprio corpo, ou quer mudar o corpo todo, ou a família não aceita sua identidade. E, no final, morre. Quero mudar esse cenário e mostrar que podemos encarar qualquer papel. Tenho diversos sonhos profissionais e um deles é fazer a primeira protagonista trans de novela. E eu vou conseguir", garante.