Bocejos, licença para tomar remédio, discussão sobre jiu-jitsu: saiba como foi o depoimento de Brennand

No início desta semana, o empresário Thiago Brennand, de 43 anos, prestou depoimento em um processo que tem como vítima uma modelo pernambucana de 38 anos. De acordo com denúncia do Ministério Público, ele cometeu contra a mulher crimes como estupros, tortura, lesão corporal, cárcere privado e constrangimento ilegal durante um breve relacionamento que tiveram em 2021. 

No interrogatório virtual de quase duas horas, a que o jornal O Globo teve acesso, Brennand negou todos os crimes atribuídos no caso. "Todas as relações que eu mantive com ela foram consensuais", afirmou o empresário quando questionado sobre atos sexuais não autorizadas com a vítima. 

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Segundo relatos da mulher no processo, ela conheceu Brennand há 10 anos, quando ainda moravam no Recife (PE), mas foi abordada pelo empresário no Instagram em 18 de agosto de 2021. Eles iniciaram um namoro virtual e, após 10 dias de contato online, ele comprou uma passagem para que ela viajasse de Miami para São Paulo. Ela viajou e ficou hospedada na mansão dele, em Porto Feliz (SP). Conforme O Globo, tanto a mulher quanto Brennand relatam a mesma história até aqui.

Depois disso, ela conta que no primeiro dia a relação sexual foi consensual, mas que ele gravou o ato sem consentimento. Já Brennand diz que ela sabia da gravação. No segundo dia, a vítima afirma que Brennand viu que ela tinha uma tatuagem preta na lateral das costas com a inscrição BAD, supostamente as iniciais do nome do ex-namorado dela. Com a descoberta, ele começou com as ações violentas, como desferir tapas em seu rosto e pegar o celular para ver conversas com o ex-companheiro.

No depoimento, o empresário se defende dizendo que "não encostou um dedo nela" e que "ela passou o telefone espontaneamente". Após esse episódio, a mulher afirma que foi obrigada "sob forte ameaça" a fazer uma tatuagem com as iniciais de Brennand em cima do desenho associado ao ex. Na ocasião, segundo a denúncia, Brennand disse: "Essa tatuagem é o meu presente para você. Agora, você é minha. Está marcada". O empresário, no entanto, afirma que a ideia da tatuagem partiu dela.

Todas as acusações contra Thiago Brennand

Outras reações

Ainda conforme O Globo, durante o depoimento, Brennand não se mostrou abalado com as acusações. Ele bocejou várias vezes e chegou a pedir licença para tomar um remédio e até se desculpou por isso. Quando foi perguntado sobre os oito estupros que teria cometido contra a mulher, Brennand disse que não é adepto de violência na cama.

"Excelência, eu nunca toquei nela nem no sexo. Não sou adepto de violência na cama. Sou muito comedido. Isso pode ser conferido no vídeo anexado aos autos". Esse vídeo que ele diz se refere ao primeiro ato sexual, que foi consentido.

"Excelência, com todo o respeito, queria falar. Mesmo depois que a minha relação com ela desandou, eu não a deixei desamparada. Fomos jantar, levei ela no meu flat em São Paulo, mas ela pediu para voltar à minha casa, em Porto Feliz, porque tinha esquecido algo. Aí nós transamos mais uma vez. Ela até reclamou que não havia mais amor no sexo. Não havia energia. Ela disse que era como se eu tivesse transando com uma prostituta ou mulher outra qualquer", acrescentou ele.

Irritado com perguntas

De acordo com o jornal, além de buscar responsabilizar ou atacar a mulher, Brennand assumiu um papel de homem magoado no interrogatório. No entanto, ele começou a se irritar quando passou a ser questionado pelos assistentes de acusação, que representam a vítima.

Um dos questionamentos que contrariou o réu foi sobre quais esportes de luta ele praticava. Brennand consultou o juiz: "Devo responder isso?". O magistrado respondeu: "Fica a seu critério". O empresário disse: "Tá bom, então: neste ano, vou para o sexto grau de faixa preta de jiu-jitsu, sexto grau de faixa preta em kickboxing e segundo grau em judô".

O assistente depois perguntou: "Quanto tempo demora para chegar ao sexto grau de faixa preta em jiu-jitsu?". Brennand respondeu: "O senhor sabe a resposta, pois também é faixa preta".

"Mas queria que o senhor explicasse para todo mundo saber também", pontuou o assistente. "O senhor mesmo pode dar essa explicação", disse Brennand, mas depois acrescentando: "Eu peguei a faixa preta em 1999. O senhor sabe dessa contagem e essa pergunta tem como finalidade me constranger".

No ano passado, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou legítimo o aumento da pena-base em crimes de lesão corporal cometidos por praticante de artes marciais.

Se o empresário for condenado neste ano ano, as penas, somadas, podem superar os 50 anos de detenção, pelos cálculos do Ministério Público.

3ª condenação de Brennand

Na última semana, o empresário foi condenado a mais oito anos de prisão por estupro em outro caso. Essa já é a terceira condenação dele, que soma 20 anos e dois meses de prisão por outros crimes de cunho sexual e agressão física. 

Além da prisão, o empresário foi condenado a indenizar a mulher em R$ 50 mil. Ele teria forçado uma relação sem camisinha com a vítima, uma massoterapeuta.

Brennand está preso desde abril do ano passado, quando foi extraditado dos Emirados Árabes para o Brasil. O empresário também recebeu pena de 10 anos e seis meses em um caso de estupro envolvendo uma norte-americana; e de um ano e nove meses por ter agredido a modelo Alliny Helena Gomes, em uma academia de São Paulo.