Brasileirão Feminino: times sofrem para pagar transmissões
Com jogos que podem acontecer às cegas, CBF já recusou mais de uma proposta da plataforma de streaming que era responsável pelo campeonato
O Brasileirão Feminino pode não ter transmissões ao vivo de todas as partidas na edição 2022, que começou na última sexta-feira, 4 de março. Isso porque a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) repassou os direitos de transmissão para o Grupo Globo e para a TV Band, mas os contratos não contemplam todas as partidas. Dos 134 jogos que totalizam a competição, somente 40 estão previstos para serem exibidos na Globo e no Sportv, além de um por rodada na Band.
Conforme apurou o Papo de Mina, a CBF negocia, há pelo menos oito meses, com a plataforma de streaming Eleven Sports para as demais coberturas. Neste meio tempo, mais de uma proposta foi feita pela empresa à entidade, mas ainda não há acordo e nem previsão para que este seja concretizado.
Enquanto isso, os confrontos que ficarem de fora da televisão estão a cargo das equipes mandantes, que já começaram a arcar com as transmissões, com dinheiro do próprio bolso. O panorama não é favorável economicamente falando, uma vez que equipes menores precisam desembolsar valores acima do que os cofres permitem.
Os participantes da liga não têm qualquer envolvimento nesses acordos.
O caso da Esmac, que subiu nesta temporada para a Séria A-1, é um dos mais problemáticos. Sem ter sido contemplado em nenhuma das transmissões previstas até agora, segundo documento de grade programada até a 8ª rodada, o time ainda não tem uma saída para realizar a cobertura ao vivo.
“Queremos fazer a transmissão, mas precisa ser pelo canal do próprio clube. Quando o clube tem a estrutura e dinheiro para isso, fica mais fácil. No nosso caso, não podemos fazer nenhuma parceria com emissoras aqui da região, e isso dificulta muito”, afirmou Ivanildo Cardoso, Diretor Geral de Esportes da Esmac, à coluna.
“Os clubes deveriam participar, deveriam ter voz ativa nesses acordos. E a gente nem tem como dizer que não vai aceitar, porque não vai adiantar nada.”
Já o Avaí Kindermann, por exemplo, terá que contratar uma produtora para cobrir as partidas, uma vez que o elenco feminino fica alocado em Caçador, cidade a 400km da capital Florianópolis, sede do clube. O gasto extra terá um impacto financeiro para o time.
Jogos às cegas e menos visibilidade
Em 2019, 2020 e 2021, a Eleven foi responsável por veicular os jogos na internet, com o nome de CBF TV. Durante os três anos em que firmaram parceria, todas as partidas do Brasileirão contaram com algum tipo de cobertura em vídeo. Inclusive, em 2021, em parceria com o canal Desimpedidos, os jogos foram transmitidos também no TikTok.
Um dos principais entraves burocráticos entre CBF e Eleven é o pacote de competições da negociação, do qual o Brasileirão Feminino faz parte. Este pacote diz respeito a outros torneios realizados pela entidade, incluindo alguns de base.
Se o acordo não for firmado pela CBF a tempo, há a possibilidade de jogos acontecerem às cegas, ou seja, sem nenhuma cobertura em vídeo.
Este cenário abre a discussão a respeito das cotas milionárias do futebol masculino, que são, inclusive, fonte importante de renda para os clubes - especialmente no maior campeonato do País, o Brasileirão.
Porém, o ponto fundamental é que, sem transmissão, seja ela na TV ou na internet, as equipes femininas são prejudicadas também com falta de visibilidade. Isso dificulta para que elas encontrem parcerias financeiras, que não têm interesse em expor suas marcas nas camisas ou nas placas dedicadas aos patrocinadores nos estádios.
“Nós não fomos contemplados com nenhuma transmissão até agora. Isso dificulta conseguir patrocínio, conseguir apoio. Todas as equipes deveriam ter pelo menos uma partida em canal aberto. É muito seletivo, e não há o pensamento de que se os outros clubes [menores] não têm transmissão, fica mais difícil a vida deles dentro da competição”, disse Ivanildo.
“A gente vai ter que dar um jeito de transmitir os jogos, ainda não sabemos como, e mostrando as placas dos patrocinadores nacionais [da CBF], porque as nossas placas ficam no canto atrás do gol, onde a câmera quase não pega”, concluiu.
Através da assessoria, a CBF confirmou que as negociações com a plataforma de streaming já duram há algum tempo, mas nenhum detalhe a respeito da conclusão dos trâmites foi informado.