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Câmara da chacota

Respostas a comportamentos maquiavélicos e carreiristas comprovam se nosso parlamento respeita a própria instituição.

11 mar 2023 - 09h37
(atualizado às 10h04)
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O oportunismo para declarar todo tipo de bobagem é sempre disfarçado de liberdade de expressão.

Levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) mostra que 131 pessoas trans foram assassinadas e 20 tiraram a própria vida no Brasil em 2022, sendo que 65% dos casos foram por crimes de ódio e 72% dos suspeitos não tinham vínculo com a vítima.

As informações estão no dossiê 'Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras', apresentado em 26 de janeiro ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).

Há uma exigência cada vez maior de representatividade em todos os setores, todos os espaços, todos os debates, mas ainda é muito limitado o conhecimento sobre a diversidade, o que leva a um entendimento equivocado de que todas as diferenças fazem parte do mesmo universo.

Não é assim. O diverso é imenso e repleto de especificidades. As necessidades das pessoas cisgênero não são as mesmas das pessoas trans. As necessidades de homossexuais não são as mesmas das pessoas com deficiência. Pessoas de mesmo gênero e sexualidade, mas de etnias, culturas ou religiosidades distintas, têm reivindicações também diferentes.

Esse desconhecimento resulta em uma afronta ao protagonismo. A mistura de gente diversa sem entendimento claro sobre demandas específicas bagunça as pautas e constrói um tipo de discriminação muito difícil de quebrar porque essa se instala dentro da própria diversidade.

A participação, com protagonismo, de mulheres trans, de drags e travestis, em eventos alusivos ao Dia Internacional da Mulher gerou muitas reações e discussões a respeito do espaço que cada grupo deve ocupar. Opiniões sobre essa dinâmica podem ser interpretadas como preconceituosas, ainda que não sejam.

É nesse desconhecimento que navegam figuras como Nikolas Ferreira, deputado federal do PL/MG que fez um discurso na Câmara para zombar da transexualidade e usar do escárnio para declarar que "o lugar das mulheres está sendo roubado por homens que se sentem mulheres".

O oportunismo para declarar todo tipo de bobagem é sempre disfarçado de liberdade de expressão, como nesta afirmação estúpida e ignorante do parlamentar, mas o escárnio não pode ter espaço nessa discussão. E a resposta da Câmara ao comportamento maquiavélico e carreirista do deputado, seja qual for essa reação, vai comprovar se nosso parlamento federal e seus integrantes respeitam a própria instituição.

A violência contra pessoas trans, contra mulheres, contra pessoas com deficiência e outros grupos diversos não é piada ou tão pouco pode servir de combustível para chacota.

É urgente, imperativo, que o Congresso Nacional e as instituições do nosso País combatam de maneira muito severa as manifestações que geram morte por causa da diferença.

A história já mostrou que a tolerância e a inércia a essa conduta têm conclusões nefastas.

Estadão
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