Campanha retoma pautas e dá voz à comunidade trans
Dados mostram que percentualmente as pessoas transgêneros, mesmo capacitadas, não ocupam as vagas oferecidas no mercado de trabalho
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania está promovendo uma campanha em alusão ao mês da visibilidade trans, celebrado anualmente em 29 de janeiro.
A campanha Construir para Reconstruir visa dar novamente destaque aos avanços legais em âmbito nacional, além de exemplos internacionais de referência para a comunidade trans no Brasil. Em nota divulgada no lançamento da campanha, o Ministério informa que durante a gestão passada, as pautas voltadas para essa parcela da população foram inviabilizadas.
Um outro foco da campanha, que acontece através de publicações digitais da pasta e de matérias especiais, é dar rosto e voz para pessoas trans que já ocupam espaços na saúde, educação, na justiça e nos mais diversos setores de tomada de decisão.
Dados mostram que percentualmente as pessoas transgêneros, mesmo capacitadas, não ocupam as vagas oferecidas no mercado de trabalho. Um estudo da Gestão Kairós, que realiza consultoria especializada em sustentabilidade e diversidade para grandes empresas, publicado em 2022, investigou a representatividade de travestis e transexuais no quadro funcional das empresas.
Na publicação Diversidade, Representatividade e Percepção - Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, realizado entre 2019 e 2021, 26 mil pessoas responderam ao questionário. Foi constatado que, tanto no quadro funcional, quanto no de gerentes e cargos acima, os percentuais de pessoas trans que ocupavam formalmente estas vagas de trabalho não chegavam a 1% do grupo entrevistado.
Um destes poucos exemplos é a própria Secretária Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat. De acordo com a pasta, é a primeira vez que uma travesti assume o cargo no segundo escalão do governo federal.
Ela coordena a campanha do Mês de Visibilidade Trans no Ministério e relata que o preconceito ainda é o principal entrave para garantia dos direitos e proteção para transgêneros.
"A gente está falando também de uma dificuldade de acesso à educação, ao trabalho e à permanência nesse local de trabalho. Porque as pessoas julgam a gente por ser quem somos. Elas diminuem a nossa capacidade por ser quem somos e já nos julgam".
O antropólogo Dan Kaio Souza Lemos, de 43 anos, relata que um dos ambientes que, em teoria, deveria ser o mais acolhedor, por estar centrado num cenário de leitura, discussão e produção de conhecimento, foi um dos mais excludentes na sua trajetória de transição iniciada 7 anos atrás.
"Na minha primeira graduação, no final da graduação quando eu já estava transitando, recebi um e-mail do coordenador pedindo para comparecer na coordenação. Ele veio conversar comigo em nome de uma professora que pediu para eu estudar a disciplina em um outro momento. Naquele momento, senti uma dor muito grande e percebi que aquilo era uma transfobia velada, silenciada".
No site e nas redes sociais do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, é possível acessar as ações da campanha e da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+. O endereço é gov.br/mdh.