Cartilha da Gestante do governo indica práticas duvidosas
Nova edição do material recomenda manobra de Kristeller, associada à violência obstétrica, além de amamentação para contracepção
O Ministério da Saúde lançou no último dia 4 a 6ª edição da Caderneta da Gestante, com alterações que promovem práticas duvidosas e também relacionadas à violência obstétrica durante o parto natural, como a manobra de Kristeller, a episiotomia e o incentivo à amamentação como método contraceptivo. O conteúdo significa um evidente retrocesso em relação ao direito das mulheres de recusarem intervenções que violem sua integridade física e emocional.
O Conselho de Enfermagem (Cofen) emitiu parecer que alerta profissionais e gestantes sobre esse conteúdo contido na Caderneta da Gestante, recomendando, inclusive, que o “material seja recolhido e reelaborado, de acordo com as evidências científicas disponíveis”. Isso porque a nova edição contraria o que prega o protocolo Diretriz do Parto Normal (2017), pactuada pelo próprio MS em concordância com a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Organização Panamericana da Saúde (OPAS/OMS) e a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).
Um dos pontos controversos da nova cartilha é a indicação da manobra de Kristeller - quando o médico pressiona o útero da gestante com as mãos, o braço ou o cotovelo para auxiliar na expulsão do bebê. Essa prática pode acarretar danos à mulher e ao bebê, como fraturas e hemorragia, além de lesões graves e, por isso, já foi proibida em vários países e também pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O conteúdo estimula também a episiotomia, um corte feito no períneo durante o parto, para facilitar a expulsão do bebê. Porém, a prática é considerada uma mutilação genital, por isso também já entrou na lista de contraindicações da OMS desde 2018.
Outro disparate da cartilha é apontar a amamentação como método contraceptivo para prevenir a gravidez nos primeiros seis meses após o parto. Sabe-se que a amamentação reduz a fertilidade, mas usá-la como para evitar nova gestação é comprovadamente pouco eficaz, por isso deve ser combinada a outro método.