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“Casam com magras, mas têm fetiche por gordas”, diz garota de programa plus size

“Normalmente são homens inseguros, que se preocupam com a opinião alheia", diz ela sobre seus clientes

22 ago 2022 - 05h00
(atualizado às 16h08)
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Garota é formada em administração de empresas e vive em uma pequena cidade do interior de São Paulo
Garota é formada em administração de empresas e vive em uma pequena cidade do interior de São Paulo
Foto: iStock

Bruninha*, 28 anos, é modelo plus size e leva uma vida dupla, alternando o trabalho posando para catálogos de moda com o atendimento como garota de programa. Para ela, ser gorda nunca foi um problema.

“Se fosse magra, dificilmente seria modelo com 1,50m. Já o mercado plus size é mais democrático, baixinhas sempre tem vez como modelo. Como garota de programa, o meu diferencial é ser gorda, peso 100Kg, e é justamente um corpo grande que meus clientes procuram”, explica.

Em seus anúncios em sites de garotas de programa, ela exibe dezenas de fotos produzidas usando lingeries glamorosas. Com longos cabelos loiros, cintura fininha e um bumbum de 1,30 cm, não exibe nenhuma foto explícita, contrastando com os anúncios das demais gordinhas, a maioria em fotos caseiras, fazendo poses ousadas e explicitando, sem pudor, seus órgãos genitais. “Eles querem imaginar o que vão encontrar. Deixo um ar de mistério, não entrego tudo de mão beijada logo em um anúncio”, justifica.

Ela conta que não se importa em fazer parte da vida dupla desses homens. “Eu ganho para isso. E muito bem"
Ela conta que não se importa em fazer parte da vida dupla desses homens. “Eu ganho para isso. E muito bem"
Foto: Reprodução/iStock

Foi há 6 anos, formada em administração de empresas e vivendo em uma pequena cidade do interior paulistano, que ela teve a ideia de fazer programas sexuais. “Eu queria um dinheiro rápido e fácil. Queria viver na capital e precisava levantar uma grana. Entrei em um anúncio de uma garota de programa da minha cidade e pedi para ela me dar algumas dicas de como começar. Por incrível que pareça, ela foi super solícita. Me deu muitas dicas e indicou meu primeiro cliente”.

Segundo ela, o primeiro programa foi  tranquilo. “O cliente foi atencioso, sabia que era meu primeiro e fez de tudo para que eu me sentisse à vontade. Dali em diante não parei mais de trabalhar como garota de programa e chegava a ganhar R$20 mil por mês”, diz ela, que cobra R$200 por hora de atendimento.

Bruninha afirma ter feito dezenas de amigos durante os programas. Um desses clientes se tornou seu marido. “Eu era solteira, ele também, acabamos nos apaixonando. Não terminou devido à minha profissão, porque ele já me conheceu assim e compreendia. Após 3 anos, éramos amigos, mas faltava paixão. Continuamos amigos, embora separados” ressaltou.

A paz na vida dupla teve dias curtos. “Um rapaz de minha cidade, que não sabia que eu era garota de programa, era absurdamente louco por mim. Ele, então, descobriu um dos meus anúncios na internet e, se sentindo rejeitado, quis se vingar. Encaminhou meu anúncio pelas redes sociais para todos da cidade, virei o grande assunto da semana, até que a notícia chegou aos meus pais. Na época, eu já vivia em São Paulo. Acordei com meus pais batendo na porta, desesperados, querendo me levar à força com eles. Não acredito que meus pais sentissem vergonha de mim. Eles tinham medo que eu sofresse alguma violência, que corresse riscos”, explica.

Bruninha, então, conversou com os pais e se manteve em São Paulo. Excluiu todos os anúncios da internet e passou a atender apenas os clientes que já havia recebido no passado. “Eu tinha medo daquele maluco da minha cidade me procurar. Precisava me sentir segura e deixar meus pais tranquilos também”, justifica.

Ela explica que, em 6 anos, passou por uma única situação problemática. “Escolho meus clientes, não saio com qualquer um. Certo dia, fui atender um desembargador de justiça. Acreditei que seria um homem sério e confiável. Chegando lá, ele começou a usar crack na minha frente. Senti muito medo, ele ficou transformado. Embora não tenha feito nada contra mim, sabia que estava correndo risco e encerrei o programa antes do combinado”, relembra.

A situação fez com que ela procurasse outras formas mais seguras de se sustentar. Fez um book profissional de modelo plus size e conquistou os primeiros trabalhos na área. “Lucro muito mais como garota de programa do que como modelo. Ser modelo não é um disfarce, é uma profissão que eu amo, mas é insuficiente para custear meu estilo de vida”, conta.

Com o tempo, fez um novo perfil como garota de programa na internet, com um novo número de telefone e se especializou em atender clientes obcecados por gordas: “A maioria é casado, com mulheres magras, mas tem fetiche por gordas. Faço o estilo “namoradinha”, então a maioria dos meus clientes quer carinho, atenção, conversar, o sexo não é o foco principal do negócio.”

“A maioria é casado, com mulheres magras, mas tem fetiche por gordas" explica
“A maioria é casado, com mulheres magras, mas tem fetiche por gordas" explica
Foto: Reprodução/iStock

Ela diz não se surpreender com o fato deles casarem com magras, mas terem fetiche por gordas, “Normalmente são homens inseguros, que se preocupam muito com a opinião alheia. Têm medo de se casar com uma mulher gorda e se tornarem alvo de piadas. Mas acredito que entre meus clientes também há aqueles que fazem piada com os outros, sabe? Para disfarçar seus reais desejos”, argumenta.

E esta é também a opinião de Barbara Bastos, terapeuta sexual e sexóloga: “Este tipo de homem tem medo de julgamento, já que, infelizmente, ainda existe preconceito na sociedade com mulheres gordas. Se não existisse esse medo, o fato dela ser gorda não teria importância”, esclarece.

Bruninha não se importa em fazer parte da vida dupla desses homens. “Eu ganho para isso. E muito bem. Hoje posso escolher quem atendo ou deixo de atender. Meus clientes dizem que tenho um perfil diferenciado e espero o mesmo deles. É ótimo saber que alguém me quer tanto a ponto de pagar por mim”, explica.

Segundo a sexóloga, seres humanos gostam e buscam ser desejados e o sexo já é um jogo de sedução por si só. “Para muitas mulheres, estar nessa posição em que o outro a remunera, traz uma sensação de poder e de estar no controle, porque ela foi a escolhida para viver essas experiências de prazer”, enfatiza.

Bruninha pretende trabalhar mais 2 anos como garota de programa, depois quer abrir um negócio próprio na área de moda ou beleza. “Vou sentir saudade dessa vida”, conclui.

*A  entrevistada preferiu usar um nome fictício

Blog Mulherão
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