Caso MC Mirella: conteúdo adulto torna a mulher menos respeitável?
Sexóloga Cida Lopes fala sobre rivalidade feminina e como prioridades femininas devem mudar para que homem deixe de ser o ponto central
Uma usuária do Twitter achou justo publicar que jamais namoraria alguém que fosse seguidor da funkeira MC Mirella, de 23 anos. Questionada pela própria cantora, a mulher disse que até gosta dela, mas...
"Não ia achar legal estar com alguém que fica vendo o conteúdos como o 'fixado'", acrescentou.
Eu gosto de ti, te sigo, te acompanho a mto tempo e tá dboa... Não é como se tu fosse pegar meu namorado e sim pelo fato de EU não ia achar legal alguém que está comigo ficar vendo conteúdos como o teu fixado.
— Clara🍊 (@1909Barbosa) May 6, 2022
O conteúdo ao qual ela se refere são fotos e vídeos sensuais, disponibilizados na íntegra por Mirella em uma plataforma de conteúdo adulto, privada para assinantes. Chateada, a cantora desabafoi nas redes sociais e justificou que produz o conteúdo pelo dinheiro, que é usado para investir em sua carreira musical.
"É um trabalho honesto como todo e qualquer outro", defendeu.
Por qual motivo, então, ela acaba sendo vista como menos respeitável ou como ameaça às outras mulheres?
Rivalidade feminina
Segundo a sexóloga e educadora sexual Cida Lopes, que também é autora de livros sobre sexualidade e relações humanas, a cultura machista em que estamos inseridos é a resposta. Nesse modelo, é identitário para a mulher ter um homem e a maternidade; e para o homem, ter bom desempenho produtivo e sexual.
Isso implica dizer que as mulheres são ensinadas a se relacionar pela rivalidade, embora nem todas sigam essa convenção.
"Nossa maior preocupação é quem é que vai ser escolhida. Qualquer mulher que sobressaia e ameace esse nosso objetivo é condenada, reprovada, criticada, enquanto o homem é visto como alguém que não tem controle sobre suas próprias ações", explica.
Cida defende a mudança de comportamento geral como caminho para modificar a forma como essas mulheres são vistas socialmente. Uma das iniciativas é educar as meninas a desenvolverem objetivos e projetos de vida fora da maternidade e dos relacionamentos.
"Os homens aprendem a amar várias coisas, enquanto as mulheres aprendem a amar os homens. Enquanto esses objetivos forem tão desiguais, nós mulheres continuaremos sendo ameaças para nós mesmas", aponta a sexóloga.
Prejuízos por causa do machismo
Muitas vezes, a mulher até pode ter prejuízos em sua vida por causa do machismo que gira em torno da produção de conteúdo adulto. É o que aconteceu com a gamer Aline Farias, de 26 anos, que perdeu contratos após começar a investir conteúdo sensual para uma plataforma por assinatura.
"Existem empresas que são mais modernas e não se importam com isso, mas não são todas", relata.
Quando passou a alimentar essa plataforma, uma parcela de suas seguidoras também não reagiu bem e, a princípio, ela sentiu o impacto em seus números. Apesar da reação, Aline parece não se incomodar com o que as outras pessoas estão pensando sobre suas escolhas.
"O corpo é meu. Penso que sou uma mulher empreendedora e sonhadora. Se eu posso ganhar dinheiro com isso, por que não? Não estou prejudicando nem fazendo mal a ninguém", se defende.