Cinco coisas que você não sabia sobre Maria Firmina dos Reis
A autora do primeiro romance escrito por uma mulher negra no Brasil se alfabetizou sozinha e seu verdadeiro rosto permanece um mistério
Em 1859, auge do romantismo no país, "Úrsula" foi tema das rodas literárias, não só por abordar a escravidão sob uma perspectiva realista e humanizada, mas pelo desfecho regado a sofrimento. A narrativa, primeira a dar voz aos escravizados, ganhou elogios nos jornais da época, que não pouparam os leitores de serem informados de que o livro havia sido escrito por uma mulher — ou melhor, "uma maranhense", como a autora Maria Firmina dos Reis (1825-1917) fez questão de frisar na folha de rosto da obra.
A vida da primeira romancista afrodescendente do Brasil foi permeada por muita luta e atitudes de empoderamento num momento em que o conceito de feminismo ainda não era disseminado por aqui.
Na 20ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Maria Firmina é a autora homenageada do evento, que acontece entre os dias 23 a 27 de novembro, com debates que visam discutir a importância de Maria e sua história com a literatura brasileira.
Conheça 5 fatos curiosos da vida dessa mulher singular:
1. Ninguém sabe como era a cara de Maria Firmina. Não há nenhuma pintura ou fotografia que nos mostre como era Maria Firmina dos Reis. A imagem atribuída a ela é um retrato da escritora gaúcha Maria Benedita Câmara Bormann (1853–1895), assim como o busto no Museu Histórico e Artístico do Maranhão, que ostenta traços de uma mulher branca. Alguns relatos dizem que era negra, outros, que era parda. Tinha cabelos crespos e olhos escuros.
2. Ela aprendeu a ler sozinha. Maria Firmina dos Reis amava os livros e se alfabetizou sozinha. Também aprendeu francês por conta própria. Formou-se professora e, em 1880, fundou a primeira escola mista do Maranhão por não concordar com um sistema educacional calcado na desigualdade de gêneros, que priorizava os meninos e deixava as meninas à margem da sociedade.
3. Foi uma abolicionista ativa. A partir da década de 1880, a escritora buscou marcar sua posição na luta antiescravagista em seus textos. Um exemplo é o conto "A Escrava", publicado em 1887.
4. Viveu longamente, mas teve um fim triste. Maria Firmina morreu aos 92 anos, pobre, cega e sem ter sua contribuição literária reconhecida.
5. Quase 200 anos depois, foi parar no Google. Em 1973, o historiador José Nascimento Morais Filho começou a resgatar a obra de Maria Firmina. Em 2019, o doodle do Google fez uma homenagem ao seu nascimento considerando a data — hoje historicamente corrigida — de 11 de outubro. O avanço dos estudos de gênero e a quarta onda do feminismo no Brasil têm feito de "Úrsula" e Maria Firmina objeto de estudo acadêmico, novas edições e reconhecimento.
Fontes: "Extraordinárias - Mulheres que revolucionaram o Brasil" (Ed. Seguinte), de Duda Porto de Souza e Aryane Cararo, e “Úrsula" (Antofágica Editora), de Maria Firmina dos Reis.