Com dois episódios de racismo em jogos de vôlei, atletas se posicionam e cobram confederação
As atletas Dani, Camilly e Thaís sofreram com insultos de torcedores em Curitiba. Em Goiânia, o técnico Alessandro Fadul também foi vítima
Com vídeo postado no Instagram, três atletas de vôlei do Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro, relataram um episódio de racismo que teria acontecido durante o jogo de sexta-feira, 26, em Curitiba.
O jogo da Superliga B feminina ocorreu no ginásio do Círculo Militar do Paraná e segundo as jogadoras Dani Suco, Camilly Ornellas e Thaís Oliveira, foram ouvidos sons de macaco vindos da torcida do Curitiba Vôlei presente nas arquibancadas.
“No segundo set, teve um rally, nós ganhamos, e eu fui para o saque e no momento em que eu estava batendo a bola, eu escutei, em alto e bom som, barulhos de macaco mesmo. Imediatamente ali eu não acreditei, olhei para trás e vi que eram muitas pessoas, mas não consegui identificar ninguém. Quando eu saí da quadra fui perguntar para as meninas se elas tinham escutado e elas realmente tinham escutado”, relatou Dani.
Thaís explicou que levou um tempo para entender a situação e que até ouviu pessoas gritando “macaca”. No entanto, apesar de Dani ter conversado sobre o ocorrido com os responsáveis pela partida, o jogo seguiu normalmente.
“É uma coisa inadmissível, porque é uma coisa que se a gente não falar, vai acontecer de novo. Dói na gente”, compartilhou Camilly.
Dani disse ainda que pediu para colocarem em súmula o que aconteceu, mas disseram que não, já que seria apenas para relatar algo em relação ao jogo. Contudo, a atleta disse que o ocorrido foi registrado no relatório do delegado e que ela conversou com um torcedor que afirmou ter ouvido os mesmos sons.
O Curitiba Vôlei divulgou em suas redes sociais uma declaração enfatizando seu repúdio ao racismo e a qualquer tipo de intimidação. Eles também informaram que entregaram todo o material da partida, como gravações vídeos e áudio para a Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos de Curitiba (DEMAFE). Solicitando ainda a abertura de um inquérito policial para investigar os acontecimentos.
Outra denúncia
No sábado, 27, em Goiânia, durante o jogo entre Goiás e América-RN, uma denúncia de racismo surgiu. O técnico da equipe de vôlei de Natal, Alessandro Fadul, parou uma partida para denunciar que foi alvo de ofensas racistas por parte de um torcedor, que o chamou de macaco.
Porém, a ação não agradou o árbitro, resultando em um cartão vermelho para o técnico, uma punição que concede um ponto à equipe adversária. Mesmo com a acusação, o homem denunciado por Fadul não foi retirado do local.
No Instagram, Alessandro compartilhou mensagens de apoio de amigos e torcedores. “Diga não ao racismo”, disse um apoiador,
Manifestações
Diante desses eventos, membros da comunidade do vôlei, sobretudo os atletas negros, expressaram suas preocupações, levantando questionamentos e cobrando um posicionamento da Confederação Brasileira de Voleibol
“Mais um caso de racismo no vôlei! Mais uma vez acontece um CRIME e ninguém fez nada”, escreveu a bicampeã olímpica de voleibol, Fabi Claudino. “Estamos cansadas de notas de esclarecimento no dia seguinte e mais ainda, de um crime não ter a devida importância e investigação”, continuou.
“Não dá para aceitar mais, se não isso não vai parar. Então não tente duvidar quando uma pessoa chegar e falar que está sofrendo um crime, porque racismo é crime. CBV, acorda e dá um jeito nisso aí. A gente precisa se proteger”, declarou Fabi.
Fernanda Garay, atleta de voleibol e medalhista olímpica, também comentou sobre a situação.”Impressionante como a impunidade faz com que essas atitudes criminosas aconteçam”, escreveu em postagem de Dani Suco.
O Terra Nós entrou em contato com a Confederação e eventuais atualizações serão adicionadas à nota.
Racismo é crime. Saiba como denunciar
Racismo é crime, com pena de prisão prevista em lei. Ao presenciar qualquer episódio de racismo, denuncie. Você pode fazer isso por telefone, ligando 190 (em caso de flagrante) ou 100 a qualquer horário; pessoalmente ou online, abrindo um boletim de ocorrência em qualquer delegacia ou em delegacias especializadas.
Saiba mais sobre como denunciar aqui.