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"Comecei na internet porque achava que estava sozinha, foi um grito de socorro", diz Beta Boechat

Em entrevista ao Terra NÓS, criadora de conteúdo trans contou que já construiu uma imagem "masculina" para sobreviver

3 out 2024 - 05h03
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Resumo
Roberta Boechat é uma mulher trans e ativista que luta por liberdade corporal e aborda questões como transfobia e gordofobia nas redes sociais.
Beta Boechat se entendeu como mulher trans já na fase adulta
Beta Boechat se entendeu como mulher trans já na fase adulta
Foto: Reprodução: Instagram/betaboechat

Roberta Boechat, ou apenas Beta, 35 anos, só passou a se identificar como uma mulher trans já na fase adulta, mas sempre se entendeu como alguém que era um pouco alheia às outras crianças. Ela olhava para os meninos e para as meninas e não conseguia se identificar naqueles lugares.

Segundo Beta, as pessoas têm uma expectativa de que a pessoa trans tenha aquela história que a criadora de conteúdo define como "atrás do fantástico". "É a história da menina que foi designada como menino [ao nascer], que desde sempre brincava com as maquiagens da mãe, usava vestido e fingia calçar os sapatos altos dela. Chega um momento em que ela diz: 'Mãe, eu sou uma menina'", contou ao Terra NÓS.

"Mas essa não foi a minha história, e também não é a de muitas outras pessoas trans que não se identificam com esse universo. Gênero é uma coisa que a gente vai construindo com o tempo, e comigo não foi diferente", afirma Beta, que usa pronomes femininos.

A criadora de conteúdo sempre foi uma criança artística, mas a mudança para um colégio "tradicional" no Rio de Janeiro intensificou suas dificuldades sociais. Por volta dos 15 anos, Beta começou a construir uma imagem mais "masculina", acreditando que isso era necessário para sua sobrevivência na sociedade. Ela, que desenvolveu fobia social, percebeu depois que aquilo não podia continuar. 

"Por isso, eu digo que a Roberta sempre existiu. Eu nasci Beta, sabe?", explicou ela, que passou por um processo de transição público, uma vez que está na internet desde 2016. "Foi muito difícil, mas ao mesmo tempo muito libertador", refletiu. 

Mulher trans

Segundo Beta Boechat, ela está cansada de ouvir que precisa performar uma feminilidade específica para ser considerada mulher
Segundo Beta Boechat, ela está cansada de ouvir que precisa performar uma feminilidade específica para ser considerada mulher
Foto: Reprodução: Instagram/betaboechat

Inicialmente, Beta se identificou como uma pessoa não-binária antes de se entender como uma mulher trans, e havia uma razão para isso. "Eu não me autorizava a me dizer mulher", relembra.

Ela chegou a recusar convites para campanhas publicitárias do Dia da Mulher por não querer ocupar esse espaço, e depois percebeu que não era por não se identificar assim. "Eu achava que não me encaixava dentro do estereótipo do que é ser mulher", disse. Beta sentia que, se acordasse sem nenhuma produção, não poderia se afirmar como mulher.

"Não era sobre eu me identificar [como mulher trans], mas, sim, ter medo de falar sobre isso e as pessoas não me identificarem dessa forma. Depois que passei a me afirmar mulher, entendi que o universo da mulheridade é muito maior do que o que vemos na televisão."

Hoje, um dos maiores preconceitos que enfrenta está relacionado à sua voz, que não é tão fina quanto as pessoas esperam. Ela também menciona o fato de ser uma pessoa gorda. "Sabemos que pessoas trans são invalidadas o tempo todo. Demorei para não aceitar esse tipo de situação, de estar em um espaço público, ser chamada de forma inadequada e corrigir a pessoa."

Beta reconhece, no entanto, seus privilégios como uma mulher branca de classe média alta. "Tenho muito privilégio de estar nesse espaço onde minha vida talvez não seja tão ameaçada. Eu também perco direitos, mas não podemos ignorar que existem outras mulheres enfrentando situações muito piores", destacou, lembrando que o Brasil é um país violento para pessoas trans e travestis.

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Ativismo e criação de conteúdo

Beta também é ativista e luta para que as pessoas se sintam bem consigo mesmas e possam viver plenamente. "Comecei na internet porque eu achava que eu estava sozinha, foi como um grito de socorro. E, então, percebi que outras pessoas também passavam por coisas muito parecidas. Isso foi o que me fez começar a trazer um pouco disso para as redes", revelou.

Cofundadora do Movimento Corpo Livre, que produz conteúdos sobre liberdade corporal, ela defende a importância de se sentir confortável. "A gente está sempre tão preocupado com pressões externas e com o que as pessoas vão pensar, que a gente esquece de se construir dentro desse lugar que seja confortável para a gente", disse ao Terra NÓS.

Nas redes sociais, Beta aborda temas como transfobia e gordofobia, buscando fazer com que pessoas que nunca se debruçaram sobre isso comecem a refletir e, ao mesmo tempo, criando conexões com quem nunca questionou seu próprio corpo ou identidade de gênero.

 "Precisamos continuar trabalhando, falando sobre isso e sensibilizando as pessoas", afirmou. Beta acredita que, mesmo diante de desafios, não há como retroceder. "As coisas só tendem a melhorar. Eu acho que esse processo não tem como ir para trás".

Fonte: Redação Nós
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