Como bandeira LGBT no crachá mudou atendimento de psiquiatra
A partir de uma pequena atitude, o médico Reynaldo Estevez fez muito; ele conta ao Terra NÓS como abriu conversas usando seu crachá.
O médico residente em Psiquiatria Reynaldo Estevez Júnior resolveu, de uma forma simples, sinalizar que, estava aberto a falar e ouvir sobre questões de diversidade em seu consutório e viu a iniciativa dar frutos já nos primeiros dias. "No hospital utilizamos crachás diariamente, e cada especialidade tem um cordão de identificação. Já havia reparado que muitas pessoas colocavam broches (pins) nesses cordões e que, por muitas vezes, esses pins representavam gostos, características pessoais ou alguma representação para aquela pessoa", explica o profissional.
"Percebi que aqueles broches serviam quase que como um identificador e, por vezes, um convite a uma aproximação ou a uma conversa. Diante disso, pensei: 'Não existe algo que mais me represente e que mais me incite a iniciar uma conversa do que uma bandeira do orgulho gay. E tão logo fiz isso, coloquei a bandeira no meu cordão, carregando-a pra cima e pra baixo e o impacto foi quase que imediato", relata Reynaldo, que é médico residente em Psiquiatria pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público de São Paulo (IAMSPE).
O psiquiatra conta que, em uma semana, duas pacientes, mães de filhos LGBTQIAPN+, o abordaram em suas consultas para tirar dúvidas e pedir orientações de como deveriam se portar com seus filhos. "Claramente, a bandeira serviu de conforto e convite para uma conversa. Deixei-as confortáveis para que pudessem falar e refletir, comigo, sobre o assunto. Além disso, tantas e tantos outros pacientes sorriam com os olhos ao verem a representatividade exposta no meu pescoço. Sentia maior leveza, maior conforto e maior segurança nas consultas. Quase que um abraço dado de longe", contou ele ao Terra NÓS.
Residente da cidade de São Paulo, Reynaldo conta que, tanto no atendimento no hospital quanto em consultório, muitos e muitas pacientes traziam questões de identidades de gênero e orientações afetivas sexuais, o que o levou a se dedicar ao atendimento da população LGBTQIAPN+, do qual também faz parte. Há quase dois anos na área, atua ainda de forma voluntária na Casa Florescer, uma ONG que acolhe mulheres trans em situação de vulnerabilidade social na região central da cidade, onde realiza psicoterapia individual e terapias em grupo.
Sobre a profissão e a relação com a comunidade LGBTQIAPN+, Reynaldo explica quais são os passos para, o que considera, um bom atendimento. "Primeiramente, profissionais da área da saúde como um todo, assim como das demais áreas, devem se informar. Aprender, estudar, compreender as demandas dessa população. Principalmente aos profissionais da área da saúde – como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem – é mandatório que saibamos respeitar a identidade de gênero, que saibamos respeitar o uso adequado dos pronomes, que saibamos, acima de tudo, criar uma atmosfera confortável de atendimento, uma vez que dentro de um consultório, por vezes, é um dos poucos locais que essa população consegue se sentir segura, entendida e respeitada", explica.
Ele ressalta ainda que tudo isso seja feito com respeito, coragem e orgulho. "É nosso dever acolher, compreender e ter empatia. E toda essa movimentação começa com a informação. No momento em que coloquei a bandeira do orgulho gay em meu peito, eu temi. Temi sofrer alguma represália de colegas médicos e, até mesmo, dos meus pacientes. E é justamente por isso que eu mantive essa bandeira exposta comigo, porque eu não quero que um paciente entre no meu consultório e sinta esse medo, esse medo que vem lá de fora, que vem de anos", finaliza.