Como o pagode 90 mudou a forma de representar a negritude no Brasil
Homens negros passaram a ser retratados como pessoas sensíveis, se afastando de estereótipos que os associam à violência e sexualização
O movimento do pagode nos anos 1990 teve um papel fundamental na valorização e exaltação da negritude no contexto musical brasileiro. Diversas bandas surgiram nessa época, trazendo letras que celebravam a comunidade negra e mudavam a imagem estereotipada de homens negros. As músicas também passavam mensagens de autoafirmação.
Raça Negra
-1iykjvu7pzmt2.jpg "Grupo exalta a valorização da identidade negra")
A escolha dos nomes das bandas reflete uma consciência racial crescente entre os artistas. No grupo paulistano Raça Negra, que inicialmente se chamava "A Cor do Samba", essa escolha mostra a valorização da identidade negra e a busca por representatividade e pertencimento.
Muitas vezes associado a estereótipos de violência, o homem negro é retratado como uma pessoa sensível que sofre por amor nas músicas do grupo. "E agora o que eu faço sem você, minha vida não é nada sem você", diz a letra de "Estou Mal".
Negritude Júnior
Dando o recado logo de cara com a palavra "negritude" no nome, o grupo simboliza o orgulho negro.
Em “Você Faz Falta”, o grupo apresenta o homem negro como um romântico que sofre por amor. “Falta alguma coisa no ar; faz tempo que não vejo brilhar a lua de prata; falta alguma coisa em mim; você me faz falta”.
Grupo raça
O nome do grupo remete à diferença de tratamento dado aos brancos, que muitas vezes são vistos como pessoas "desracializadas". A raça não é usada para diferenciar e identificar os brancos, mas, sim, os negros.
Ainda focando na descontrução de estereótipos, as cançoes do grupo mostram que o homem negro pode ser carinhoso e cuidadoso. Na música “Minha Morada”, o grupo fala sobre não saber viver sem seu amor. “Sem você eu não sou nada amor; és o chão da minha estrada; eu não sei viver longe de você; és minha eterna morada”.
Os Morenos
Apesar de utilizar uma expressão que nega a negritude, como uma tentativa de se afastar da identificação racial negra, o grupo "Os Morenos" aborda de forma positiva o romance entre pessoas negras em sua música "Marrom Bombom", que exalta a beleza de um casal negro. "A gente tem tudo pra dar certo; fica comigo; com você por perto, é tudo tão bonito", diz a letra da música.
Só Preto Sem Preconceito
O nome do grupo carrega uma mensagem mais profunda, destacando que ele é formado apenas por pessoas pretas. Ele ainda tem o propósito de denúncia, chamando a atenção para a discriminação racial e buscando promover igualdade e respeito.
O grupo traz a mensagem em suas músicas que todos são vencedores e têm valor. "Pra Deus: não há distinção cada ser tem o mesmo valor; só Deus: é quem pode julgar com justiça quem é pecador; com Deus: sou uma fortaleza e tenho a certeza que sou um vencedor; um vencedor eu sei que sou", diz a letra de "Um Vencedor".
Soweto
Uma referência à região de mesmo nome em Joanesburgo, na África do Sul, que foi um símbolo importante do regime apartheid, um sistema de segregação racial institucionalizado, o grupo de pagode tem em seu nome a conexão com a luta pelos direitos civis dos africanos.
Em suas músicas, o grupo de pagode romântico faz questão de exaltar o amor, mostrando que homens negros também morrem de amor. “Se o brilho da nossa verdade; durar para a eternidade; a estrela da felicidade encontrei”, diz a letra de “Farol das Estrelas”.
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