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Como o romantismo pode servir de terreno para violência contra a mulher

O Golpista do Tinder escancara como ideais amorosos alimentados desde a infância podem servir como terreno para relações abusivas

20 mar 2022 - 08h00
(atualizado em 13/4/2022 às 15h02)
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Na vida real, a crença inabalável em heróis apaixonados é a pontinha de um iceberg que, numa camada mais profunda, revela uma sociedade machista
Na vida real, a crença inabalável em heróis apaixonados é a pontinha de um iceberg que, numa camada mais profunda, revela uma sociedade machista
Foto: Reprodução

Logo no início do documentário O Golpista do Tinder, sucesso recente da Netflix, somos apresentados à norueguesa Cecilie Fjellhøy, hoje com 33 anos. Ela confessa saber de cor todos os diálogos da animação A Bela e a Fera, da Disney, e comenta que desde criança se encanta com as fantasias propagadas pelos contos de fadas. Nas quase duas horas seguintes, descobrimos como Cecilie foi enganada por Simon Leviev, nome falso usado pelo israelense Shimon Hayut para se passar por bilionário no aplicativo de relacionamentos. Com suas atitudes românticas, o estelionatário fez com que a moça contraísse uma dívida de 250 mil dólares e entregasse todo o dinheiro a ele.

O quanto os ideias românticos que vemos na TV, nos filmes, nos romances e nas séries em geral criam um terreno fértil para atos de violência contra a mulher, seja ela física, psicológica ou patrimonial? Enquanto Shimon ficou apenas cinco meses na prisão — por crimes cometidos em seu país e não por lesar financeira e emocionalmente diversas mulheres —, Cecilie ainda não conseguiu pagar o que deve e não retornou à sua terra natal por medo dos credores.

Cecilie Fjellhøy é uma das vítimas de Leviev que aparece no documentário da Netflix
Cecilie Fjellhøy é uma das vítimas de Leviev que aparece no documentário da Netflix
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Na vida real, a crença inabalável em heróis apaixonados é a pontinha de um iceberg que, numa camada mais profunda, revela uma sociedade machista e pontuada por interesses patriarcais que aprisionam e maltratam as mulheres. Para Paula Land Curi, docente do Departamento de Psicologia e coordenadora do Programa Mulherio da UFF (Universidade Federal Fluminense), o documentário O Golpista do Tinder escancara como as mulheres são socializadas para operar sempre em prol da manutenção da dominação masculina.

“Neste sistema, homens e mulheres são socializados, desde muito cedo, para o cumprimento de determinados papéis sociais ditos masculinos e femininos e, dentre eles, para as mulheres aparece o papel de cuidadora", aponta.

Ou seja, a mulher acaba entendendo que é sua função — e uma espécie de "prova de amor" — resolver os problemas do parceiro, inclusive os financeiros. Essa percepção de 'cuidar' como obrigação feminina é pautada por valores aprendidos na família, na escola e na igreja e através de costumes sociais e culturais.

Segundo Lígia Baruch de Figueiredo, mestre em Psicologia pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e autora de Tinderellas — O amor na era digital (Ema Livros), o amor romântico segue internalizado pelas mulheres por ser uma construção social que privilegia o conceito de casamento e família tradicionais.

"Elas procuram ser amadas de um jeito infantil, entregando seu poder em prol da relação, porque é isso que ficou assimilado por meio de séculos de amor romântico", afirma. Dessa forma, não percebem que estão emaranhadas em relacionamentos abusivos por acharem que não estão se esforçando o bastante. "E acreditam que podem salvar ou educar seu ogro para transformá-lo em príncipe e que eles serão gratos eternamente, porque acreditam que precisam ter uma relação para terem autoestima", completa Lígia.

É preciso romper com esses ideais e acabar com a ideia de que a mulher precisa de uma relação afetiva para se sentir validada, algo que só será possível através da conscientização e informação, de escancarar e reconhecer a violência contra a mulher como tal e de uma educação mais equitativa para meninos e meninas sem reforçar as diferenças de gênero que reproduzem as limitações e mantêm o machismo estrutural da sociedade.

Documentário mostra como as mulheres são socializadas para operar sempre em prol da manutenção da dominação masculina
Documentário mostra como as mulheres são socializadas para operar sempre em prol da manutenção da dominação masculina
Foto: fdr

Aqui cabe lembrar que Cecilie Fjellhøy, em sua última fala no documentário, afirma que continua buscando o amor — ou melhor, a ideia de amor perseguida por ela — no aplicativo de relacionamento.

E você? Já viveu alguma história envolvendo golpe no Tinder? Conte para Nós nos comentários ou em nossas redes sociais.

Fonte: Redação Nós
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