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Comprar roupa, fazer a higiene, pagar contas: como é rotina de uma pessoa cega

No Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual, adultos e crianças cegos respondem as dúvidas mais comuns sobre seu dia a dia

13 dez 2022 - 05h00
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Artur, 11 anos: acesso a jogos no celular, mas não aos favoritos da criançada
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Foto: Divulgação / Divulgação

Disponível, por enquanto, apenas no Globoplay, a novela "Todas as Flores" tem revelado ao público um pouco do funcionamento da rotina de deficientes visuais através da personagem Maíra (Sophie Charlotte). No entanto, as cenas da mocinha da trama são apenas um recorte - e fictício, vale lembrar - sobre como é viver sem enxergar 24 horas por dia, algo que gera curiosidade principalmente em relação às ações mais simples do cotidiano, como escolher uma roupa ou pagar uma conta.

Hoje celebra-se o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual e, para fortalecer a relevância da data, o Terra NÓS pediu que adultos e crianças cegos respondessem as dúvidas mais comuns que costumam ouvir sobre seu dia a dia. Compilamos as principais:

É verdade que os outros sentidos, como a audição, são mais aflorados?

"É um mito achar que a nossa sensibilidade auditiva é acima da média", conta Andressa Batista, 32 anos, de Luiziana (PR). "O que acontece é que nós temos uma espécie de 'treinamento' para identificar os sons e nos guiar por eles", diz ela, que compartilha suas vivências no perfil @eucegaeautista no Instagram. "Cada cego é único e cada um vai se descobrindo do seu jeito. Eu, por exemplo, ainda não consegui aprender o braille", relata a catarinense Ana Souto, 34 anos, do canal Cegamente Incrível.

Fábio e Ana nasceram com visão, mas há dez anos precisaram reaprender a viver como deficientes visuais
Fábio e Ana nasceram com visão, mas há dez anos precisaram reaprender a viver como deficientes visuais
Foto: Reprodução/Instagram / Reprodução/Instagram

Como saber se a higiene corporal foi feita adequadamente?

Ana, deficiente visual há dez anos, diferencia xampu e condicionador pelo modelo da embalagem. Caso sejam iguais, testa o produto numa mecha: o que faz espuma é o xampu. "No banheiro, após as necessidades, sei que estou limpa porque percebo que a textura do papel higiêncio vai mudando conforme vou realizando a higiene", explica.

O que uma criança com deficiência visual gosta de fazer?

"Ah, eu adoro mexer no celular como todo mundo da minha idade", diz Artur de Mari, 11 anos, semifinalista do "The Voice Kids 2022" (TV Globo). Apesar do celular ter configurações de voz, ele reclama que são poucos os jogos que oferecem acessibilidade. "Free Fire e Roblox, por exemplo, não dá pra jogar. Crianças com deficiência visual também deveriam poder experimentar e conhecer tudo aquilo que está na moda e que só ouvem os amigos falarem."

Como você lida com o dinheiro? Como sabe se passou o caixa passou o valor certo e como identifica as notas e moedas?

Essa é uma das maiores vulnerabilidades pelas quais passa uma pessoa com deficiência visual. "Eu aposto na honestidade das pessoas, pois não conheço as cédulas. Não tenho como conferir o troco ou o valor debitado no meu cartão", fala Ednilson Sacramento, 61 anos, ativista de Acessibilidade e Direitos Humanos de Salvador (BA).

Noivo de Ana, o carioca Fábio Sauzza, 42 anos, perdeu a visão por problemas de saúde em 2012. Embora tenha a lembrança de como é uma cédula de dinheiro, as mudanças de formato e a criação de novos valores - como a nota de R$ 200 reais - podem causar confusão. "Existem aplicativos que fazem a leitura das cédulas. Basta apontar a câmera do telefone para a nota e o app faz o rastreamento e informa qual é o valor, mas é trabalhoso e demorado", explica. Por causa da espessura, dos detalhes e do tamanho, as moedas são mais fáceis de identificar. Fábio costuma usar dinheiro virtual e, assim como Ednilson, contar com a honestidade alheia. "Outro dia, minha noiva e eu fizemos uma compra grande no supermercado e calculamos o total por volta de 500 reais. Deu mais de 600, mas como conferir?", indaga. "`As vezes é bom que tenha uma pessoa que enxerga com a gente."

"Eu consigo fazer tudinho, mesmo com dificuldades, como jogar xadrez adaptado e ler livros", destaca Pedro
"Eu consigo fazer tudinho, mesmo com dificuldades, como jogar xadrez adaptado e ler livros", destaca Pedro
Foto: Acervo pessoal / Acervo pessoal

Como você escolhe as suas roupas?

"Quando saio para comprar, busco escolher um modelo que não tenho em casa. Busco um detalhe, um aplicação de strass ou um tipo de costura diferente. Como já enxerguei antes, isso ajuda com as cores. Eu tiro uma foto da peça e um aplicativo 'fala' qual é a cor", diz Ana, de 34 anos e que perdeu a visão aos 24. Quem nasceu deficiente visual costuma ter uma visão mais abstrata das cores e, em geral, conta com auxílio para a combinação de tons.

Criança com deficiência visual acompanha desenhos animados? 

"Eu acompanho, sim, mas acho que todos deveriam ter audiodescrição em todos os idiomas, assim seria mais fácil ter uma noção sobre como os personagens são", observa Pedro Maron, de 11 anos, que viralizou nas redes sociais ao produzir um álbum de figurinhas da Copa do Mundo em braille. Louco por futebol, ele prefere escutar as partidas transmitidas no rádio. "As jogadas são mais detalhadas", argumenta o garoto, que vivem em Brasília (DF).

Já Artur de Mari, cego desde bebê, adora as aventuras de Lady Bug e dos Detetives do Prédio Azul porque "têm bastante diálogos". "Eu decoro as vozes e a música de fundo também me ajuda a identificar as situações", relata.

Andressa: audição mais aguçada é questão de treinamento
Andressa: audição mais aguçada é questão de treinamento
Foto: Reprodução/Instagram / Reprodução/Instagram

O que ajuda mais: cão-guia ou bengala? Ou um complementa o outro?

Segundo Ana, um complementa o outro. Ela avisa que deficientes visuais só podem ter acesso a cão-guia após desenvolverem a prática de andar sozinhos com a bengala na rua. "As instituições que fornecem o cão-guia pedem vídeos para checar o senso de orientação pelo ouvido e a mobilidade. Afinal, o cego tem que ter habilidade para se proteger e proteger o cão também", explica.

Na escola, como você se vira?

Pedro usa uma máquina de escrever em braille em vez de escrever à mão. Se a professora manda acompanhar alguma página no livro, a máquina transcrever o texto para braille e ela consegue ver tudo o que ele está fazendo. "Eu consigo fazer tudinho, mesmo com dificuldades, como jogar xadrez adaptado e ler livros", garante.

É possível usar WhatsApp?

"Sim, acesso as redes sociais com programas leitores de tela tanto para celular quanto para computador", conta Andressa. No WhatsApp, as conversas são transcritas com um voz robotizada. "Em vez de eu ouvir 'sua mãe vai demorar', o app me diz 'vou demorar' do jeito que a minha mãe escreveu", esclarece.

Em quais aspectos você precisa de ajuda de outras pessoas?

"Principalmente na audiodescrição de imagens", conta Ednilson. "Por não terem acessbilidade, muitas das atividades realizadas na internet me levam a solicitar ajuda, como fazer uma compra ou inscrição em algum evento. Atravessar a rua ou ler um documento que é apenas disposto na forma impressa também exige apoio", conta. Frequentador de teatros, shows e exposições, Ednilson lamenta a escassez de livros acessíveis. "Muitos dos que gostaria de ler não têm versão em braille ou em áudio", fala.

Ednilson: deficiência visual não impede de frequentar shows e teatros
Ednilson: deficiência visual não impede de frequentar shows e teatros
Foto: Reprodução/Instagram / Reprodução/Instagram
Fonte: Redação Nós
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