Conheça a trajetória dos irmãos Rebouças, os primeiros engenheiros negros do Brasil
Com influência na Corte Imperial, a dupla deu origem a obras importantes no Sul e Sudeste do Brasil, além de traçarem uma trajetória de luta abolicionista
Homenageados em túneis, avenidas e até um bairro inteiro, Antônio Rebouças (1839) e André Rebouças (1838) foram responsáveis por obras memoráveis do século XIX e estão entre os mais importantes engenheiros do país, além de aliados a causas abolicionistas.
Nascidos em Cachoeira, na Bahia, os irmãos eram netos de uma escravizada alforriada e um alfaiate português, além de filhos de Antônio Pereira Rebouças — um advogado autodidata, deputado e conselheiro de Dom Pedro II — e Carolina Pinto Rebouças, mulher negra livre.
Ainda adolescentes, em 1854, os irmãos ingressaram juntos no curso de engenharia da Escola Militar do Rio de Janeiro e se destacaram nos exames da Escola Politécnica para o curso de engenharia. Sete anos mais tarde, viajaram por dois anos para a França e Inglaterra, onde se especializaram em construção de portos, estradas e ferrovias.
Em 1862, de volta ao Brasil, foram contratados pela Corte Imperial para supervisionar obras de fortificação de Santos (SP), Paranaguá (PR) e Santa Catarina.
Antônio faleceu em 1874, aos 35 anos, em São Paulo, vítima de febre tifóide, depois de entrar na mata para inspecionar obras do Caminho de Ferro de Campinas-Limeira-São João do Rio Claro, e não viu seu principal projeto, a Ferrovia Curitiba-Paranaguá, que tem 110 km de extensão, ser concluído em 1885. A ferrovia passa por 14 túneis que perfuram montanhas e é considerada a maior obra da engenharia férrea nacional. Antônio Rebouças também responsável por outras 450 obras, entre pontes e viadutos.
Já André serviu na Guerra do Paraguai (1864-1870) e após a morte do irmão, passou a morar no Rio de Janeiro. Ao lado de Machado de Assis e Olavo Bilac, foi um dos representantes da classe média brasileira com ascendência africana em prol da abolição da escravidão no Brasil. Ainda participou de campanhas e manifestações, além de ter escrito mais de 100 artigos sobre o tema.
Participou também da fundação de organizações como a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, em colaboração com Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, e a Sociedade Abolicionista. Aos 60 anos, foi encontrado morto em um rochedo à beira do mar.
Por suas obras importantes, os irmãos foram homenageados com o Túnel Rebouças, que liga a Zona Sul à Zona Norte do Rio de Janeiro, a Avenida Rebouças, uma das principais em São Paulo, e o bairro Rebouças, um dos mais valorizados de Curitiba, que fica ao lado de uma estação de trem projetada por eles.
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