Conheça Elvis Stronger e sua família LGBT+ de 300 pessoas
Ativista fala ao Nós sobre movimento, periferias e seu livro recém-lançado
Se você já foi à alguma manifestação LGBTQIA+ em São Paulo, seja um pequeno ato, seja na Parada do Orgulho LGBT+, você provavelmente já cruzou com o Elvis Justino de Souza. Formado em Gestão Pública, o ativista é presidente da Associação Brasileira de Diversidades Periféricas e diretor adjunto da Parada de São Paulo, além de membro de uma das maiores famílias LGBT+ do país. E é dessa família que vem o sobrenome pelo qual é mais conhecido Stronger.
Integrante de movimentos organizados há cerca de 10 anos, Elvis conta que foi, com o tempo, entendendo a importância de integrar grupos. "Quando passo a fazer parte de instituições e coletivos, começo a pensar as problemáticas com outras pessoas e a entender a complexidade das questões. E, principalmente, entender que a solução nunca é tão fácil", conta em entrevista para o Nós.
O primeiro grupo do qual fez parte é o que integra até hoje: a Família Stronger. Criada por Roberto Stronger, o pai, que vive em São Caetano do Sul (SP), e Talita Teles, a mãe, que mora no Itaim Paulista, a família conta hoje com cerca de 300 "parentes" e recebeu Elvis em 2012.
"No Brasil as famílias LGBT+ funcionam como uma rede e tem toda uma estrutura de pai, mãe, madrinha, padrinho, etc. e são compostas em sua grande maioria por jovens negros das periferias da cidade", explica Elvis. O papel dessa rede é acolher, dar suporte e criar estratégias para que os filhos sejam independentes. "Quando as pessoas chegam à família LGBT não sabem direito quem são, aí é um trabalho para que elas tenham orgulho, para que se entendam. Trabalhamos inicialmente o emocional e o psicológico, depois vamos para outras áreas para que tenham emprego e consigam ter suas vidas", conta.
Aos 35 anos e mergulhado na realidade da comunidade LGBTQIA+ do país, Elvis acumula conquistas. Uma delas é a realização da Parada da Cidade Tiradentes, Zona Leste de São Paulo. "Há 10, 15 anos, pessoas LGBT+ não andavam de mão dadas ou se beijavam no bairro, hoje tá todo mundo no baile, no bar, nas ruas. A Parada ajudou a criar um sentimento de pertencimento naquele território", aponta.
Além do evento, o gestor público explica que a juventude também começou um movimento de criar seus espaços próximos de casa, uma vez que é a região central que concentra grande parte dos espaços de sociabilidade LGBT+. "O valor de duas, quatro ou seis conduções paga um vinho, uma cerveja. A galera prefere comprar e curtir no próprio bairro", diz, explicando ainda a questão de segurança: "Como as famílias se dividem em bairros, se algo acontece rapidamente tem um grupo de familiares que se une para ajudar e resolver, isso traz uma proteção", fala o ativista.
E foi com esse conhecimento todo que Elvis decidiu registrar a tragetória e a importância das famílias LGBT+ no Brasil no livro "Quem Manda na Noite", recém-lançado pela Editora Palavra, Expressões e Letras, trazendo ainda a trajetória de figuras importantes da comunidade como Andreia de Maio, Cris Negão e Brenda Lee.