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Conhecer nossa história é essencial na luta contra o racismo

Regina Lúcia dos Santos e Milton Barbosa, coordenadores do Movimento Negro Unificado (MNU), debatem a importância da população negra conhecer sua própria história

30 ago 2022 - 16h42
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Imagem mostra mulher negra gritando em manifestação.
Imagem mostra mulher negra gritando em manifestação.
Foto: Imagem: Carl de Souza/AFP / Alma Preta

As relações sociais no Brasil são atravessadas pelo racismo e pela discriminação racial contra negros e indígenas, e é esta realidade responsável pela perpetuação do racismo. A persistência desta realidade se deve a um ideário extremamente articulado, que dá suporte ao racismo que estrutura esta sociedade. Este ideário tem muitos pontos, mas um dos mais importantes é o apagamento, encobrimento, distorção da história, da contribuição negra para o processo civilizatório da humanidade e do Brasil.

Este fator colabora em diversas frentes: na baixa auto-estima da população negra, por desconhecer as lutas de resistência à escravização, por desconhecer a elaboração intelectual de negros, por desconhecer ícones negros nas diversas áreas de produção de conhecimento.

A população negra em geral compra pra si a idéia de que é menos, de que não é capaz, de que não merece outro lugar a não ser o que a branquitude lhe destinou. Também colabora para o que costumamos chamar de racismo por ignorância, que é a pessoa que é racista sem ser beneficiário direto do racismo, simplesmente por ter introjetado em si esteriótipos racistas por desconhecimento desta construção imensa de negras e negros na história da humanidade, além de empobrecer as relações sociais roubando-lhe uma enriquecedora diversidade.

Já passamos na militância por episódios que demonstram que conhecer nossa história muda tanto o comportamento de negras e negros, quanto de operadores de saúde, do direito, da educação, gestores públicos em geral. Ter o conhecimento da história negra implica em ter sensibilidade, empatia com as mazelas que o racismo coloca cotidianamente nas relações sociais que foram estabelecidas secularmente. Por isso tarefa que se impõe ao movimento negro neste momento é imprimir um ritmo de informação que leve letramento racial a toda sociedade brasileira, negros e não negros.

Temos certeza que faz muita diferença às crianças o acesso a contos e histórias da literatura negra africana ou brasileira. Que estudantes do ensino médio teriam outra visão sobre a estética negra se tivessem informação nas aulas de biologia sobre a existência de poros que fazem serem diferentes cabelos lisos e crespos ou porque do nariz largo em países quentes. Estudantes de psiquiatria ou psicologia se beneficiariam imensamente conhecendo Juliano Moreira, Frantz Fanon, Virgínia Bicudo ou mesmo a contribuição de Dona Ivone Lara, isso mesmo, a sambista, para as terapias alternativas no tratamento de doenças mentais. Para estudantes de direito também seria um ganho imenso conhecer a produção de Luiz Gama ou de outros tantos nas diversas áreas de produção cultural.

Enfim é imensa a contribuição, a produção negra que pode ser trazida para o conhecimento geral que poderiam provocar mudanças substantivas nas relações sociais estabelecidas.

*Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa é um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU.

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Alma Preta
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