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Consciência Negra: veja 6 histórias de jovens modelos em alta

Muitas delas vêm da periferia, da favela e até de casas de pau a pique e já atuaram em outras áreas

18 nov 2022 - 11h01
(atualizado às 19h59)
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Neste domingo (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra, em homenagem à morte de Zumbi dos Palmares. Para lembrar a data e mostrar que as vozes negras devem ser cada vez mais ouvidas em todos os cantos e em meio ao São Paulo Fashion Week, que termina justamente dia 20, separamos 6 modelos negras que estão se destacando no cenário fashion nacional e internacional.

Ana Barbosa
Ana Barbosa
Foto: Another Agency/Divulgação / Elas no Tapete Vermelho

Muitas delas vêm da periferia, da favela e até de casas de pau a pique; já atuaram em outras áreas, como enfermeira, babá, trancista ou passaram por traumas familiares como feminicídio da própria mãe, morta pelo pai.

Modelos negras em ascensão (Fotos; Divulgação)
Modelos negras em ascensão (Fotos; Divulgação)
Foto: Elas no Tapete Vermelho

As histórias de cada uma delas representa a realidade de muitas brasileiras e brasileiros, por vezes, sumetidos a racismo e outros tipos de preconceitos. Que a trajetória de vida de Ana Barbosa, Graziella Curvel, Nathália Garcia, Samara Silva, Sara Felipe e Tauana Andrade sirva de exemplo de resistência e resiliência.

Ana Barbosa

Ana Barbosa
Ana Barbosa
Foto: Another Agency/Divulgação / Elas no Tapete Vermelho

Ana Barbosa superou obstáculos até despontar entre as mais prestigiadas modelos da atualidade. Após presenciar a própria mãe ser vítima de feminicídio, a jovem venceu o luto, consagrou-se em disputadas passarelas e ingressou na lista de destaques na disputada lista "Top Newcomers", do Models.com. Nascida em Uberaba, Minas Gerais, já desfilou com exclusividade para a Prada, abriu o fashion show de Elie Saab e fechou a apresentação de alta-costura da Dior. Também atuou Fendi, Miu Miu, Marc Jacobs, Loewe e Dolce & Gabbana, entre infindáveis - a brasileira fincou o pé no pódio da moda internacional.

A trajetória, porém, foi repleta de desafios: aos 15 anos, Ana presenciou o pai assassinar sua própria mãe. O episódio, que marcou a jovem para sempre, a fez batalhar ainda mais para ultrapassar barreiras e conquistar sonhos e objetivos. Em 2017, a reviravolta profissional trouxe novos horizontes à jovem: revelada pela Another Agency, de Anderson Meyer e Luiz Pretti, Ana vem consolidando desde então uma carreira notável na moda.

A bela coleciona ainda capas de publicações renomadas como Vogue, Harper's Bazaar, Numéro, Grazia e The Sunday Times. No Brasil, foi destaque em diversos desfiles da São Paulo Fashion Week.

"Comecei a me interessar pela carreira de modelo quando frequentava um curso de moda na minha cidade. Assim que terminei o ensino médio, decidi me mudar para São Paulo e tentar ingressar no mercado", relembra. Atualmente dividindo-se entre Londres, Paris e Nova York, Ana Barbosa concilia a atuação na moda com ações que causem impacto na sociedade, como a realização da "sopa solidária" que ajuda a viabilizar mensalmente, alimentando pessoas em situação de vulnerabilidade."Quando a pessoa que eu via com mais alegria na vida se foi, tive que tirar algum aprendizado disso tudo. A dor nos ensina muitas coisas. Hoje, busco usar a carreira como plataforma para trazer representatividade e para compartilhar histórias de superação que possam inspirar", finaliza.

Graziella Curvel

Graziella Curvel
Graziella Curvel
Foto: Joy Model/Divulgação / Elas no Tapete Vermelho

Nascida e criada na favela, Graziella Curvel, de 20 anos, foi eleita para integrar a nova lista de apostas da moda internacional, a "MDC Selects", do site Models.com, que reúne os nomes que irão despontar no mercado mundial. Antes do sucesso no universo fashion, a jovem residia na comunidade P Sul, na cidade de Ceilândia, Distritro Federal, em companhia dos pais e das duas irmãs.

Revelada em 2019, a bela consagrou-se vencedora do The Look of The Year, concurso de modelos realizado pela JOY Model, de Liliana Gomes e Marcelo Fonseca, quando desbancou mais de 20 mil inscritos na edição. Desde então, coleciona no currículo feitos importantes como desfiles na semana de moda de Milão e trabalhos para grifes como Calvin Klein, Forever 21, Avon e Riachuelo.

"Eu vim da favela, vim de baixo, onde as oportunidades são poucas. Não dá para descrever meus sentimentos e minha alegria", comemorou. Despontando no cenário internacional, a brasileira de traços marcantes já atuou em mercados disputados como Inglaterra, Alemanha, Grécia, Itália e Dinamarca, além de ter conquistado contratos com grandes agências de Nova Iorque, Londres e Hamburgo.

Do alto de seus 1,77m, Graziella chegou a cursar Veterinária na Universidade Federal de Uberlândia, além de frequentar aulas de libras e braille, mas a necessidade de arrumar um trabalho falou mais alto: filha de mãe e pai que trabalham como porteiros, a beldade ingressou na moda em busca de novas oportunidades e de um futuro melhor. "Quero alcançar meu sonhos e, principalmente, mostrar que as pessoas que vêm de baixo, como eu, podem conquistar o mundo e realizar sonhos."

Nathália Garcia

Nathália Garcia
Nathália Garcia
Foto: Aro Model/Divulgação / Elas no Tapete Vermelho

A catarinense Nathália Garcia, de 21 anos, foi revelada há pouco mais de um ano e já coleciona no currículo desfiles na São Paulo Fashion Week, trabalhos para marcas prestigiadas como Ara Vartanian, além de editorial em publicações como Elle.

Aposta da ARO Model, de Claudio Mignoni, Nathália divide-se entre a Enfermagem, as campanhas e as passarelas. Única enfermeira da família, tem na faculdade a realização de uma missão pessoal: "Sempre gostei de cuidar das pessoas. Quando eu tinha 12 anos, minha avó ficou debilitada após uma cirurgia e fiz todo o pós-cirúrgico. Minha admiração pela profissão vem desde pequena. Eu não escolhi a enfermagem, ela que me escolheu", contou

Cursando a quinta fase na Estácio de Sá, de São José (SC), a modelo também dedica-se às pautas que promovam igualdade racial: "Estudei a vida toda em escola particular e, por muito tempo, fui a única negra da sala. Já me calei diante do preconceito, mas as pessoas são todas iguais, independentemente da cor da pele, por isso busco usar a moda e a minha trajetória como plataformas para combater qualquer tipo de preconceito", finaliza.

Samara Silva

Samara Silva
Samara Silva
Foto: Way Model/Divulgação / Elas no Tapete Vermelho

Nascida no Ceará, Samara Silva, de 17 anos, vem realizando o grande sonho de infância: trabalhar como modelo. Há pouco mais de um ano, deixou o pequeno município de Maranguape, para mudar-se para a capital paulista e consagrar-se aposta na moda nacional. Da rotina no campo, leva as saudades da casa onde morava com a mãe e os dois irmãos, além do refúgio rural onde passava dias em companhia do pai, na singela construção de "pau a pique", onde divertia-se colhendo frutas e cuidando de animais. "Tenho muito orgulho de onde vim, amo meu lugarzinho no 'meio do mato'. Tenho muitas saudades! Lá, a gente tem a riqueza da simplicidade", reflete.

Depois de chegar à "cidade grande", Samara desfilou no último São Paulo Fashion Week e vem estrelando importantes campanhas e editoriais de moda. "Chegar até aqui foi uma grande batalha. Eu faço pinturas e vendia meus quadros tentando juntar dinheiro, pra poder viajar pra alguma cidade maior. Não foi fácil. Então, fui vender empadinhas na escola. Era um sucesso, mas veio a pandemia - e a escola fechou. Comecei então a vender as empadinhas nas ruas, sempre focada em poder viajar e realizar meus sonhos. E hoje aqui estou eu", comemora.

Em 2021, Samara foi vista por olheiros, participou de concurso de modelos em seu estado natal, onde saiu vitoriosa e, desde então, vem chamando atenção do mercado. Recentemente, assinou com a WAY Model, de Anderson Baumgartner - uma das líderes no ramo e responsável por tops consagradas como Sasha Meneghel, Carol Trentini, Candice Swanepoel e Alessandra Ambrósio. "Estou vivendo um sonho trabalhando como modelo", afirma.

Além da promissora atuação na moda, Samara investe o tempo na arte: "Também sonho ser pintora. Transformo tudo em arte. Pude ir à exposição do Van Gogh quando vim para São Paulo - e foi a realização de um grande sonho. Foi inacreditável! Sempre fui muito ligada à arte. Eu fazia bonecos de garrafa, arte com barro…a arte teve um significado muito importante na minha vida, era o meu refúgio, a minha paz, onde eu podia expor tudo que eu estava sentindo. A pintura me salvou, a arte me salvou e me ajudou a chegar aqui", afirmou.

Sara Felipe

Sara Felipe
Sara Felipe
Foto: Tato Belline/Mix Model/Divulgação / Elas no Tapete Vermelho

A jovem Sara Felipe, de 23 anos, comemora a reviravolta que tem vivido: de babá a a despontar como modelo de atuação internacional, com editoriais para publicações como Dazed, Vogue e O Globo - Ela, além de trabalhos para grifes como Lenny Niemeyer, Fabiana Milazzo e A.Brand. Nascida em Cordeiro, no Rio de Janeiro, Sara já trabalhou na Alemanha e tem buscado usar a moda como ferramenta para representatividade.

"É de suma importância que eu esteja no lugar que estou hoje, mas muito além disso, é relevante que eu possa ser um espelho para juventude preta e periférica que têm o sonho de modelar. Eu venho do interior, onde jovens não tem a oportunidade de crescer ocupando lugares de destaque nacional ou internacional. Hoje, ocupo lugares e luto para que outros jovens como eu possam ocupar também", afirma.

Sara começou a carreira na moda em 2018. Antes do sucesso nas passarelas,  trabalhava como babá, tomando conta de crianças e auxiliando nos afazeres gerais, por mais de dois anos, em sua cidade natal - até ser revelada pela Mix Models, de Pedro Bellver e Wellington Vieira, e despontar na nova profissão.

Tauana Andrade

Tauana Andrade (Fotos: Thi Martini/Leandro Ramos/Way Model/Divulgação)
Tauana Andrade (Fotos: Thi Martini/Leandro Ramos/Way Model/Divulgação)
Foto: Elas no Tapete Vermelho

Nascida em Salvador, a modelo Tauana Andrade é o novo nome que vem despontando na moda nacional: aos 19 anos, coleciona trabalhos para grifes importantes e caiu nas graças de poderosos da indústria fashion. E está cruzando as passarelas do SPFW, que acontece até domingo (20). Antes do sucesso nas passarelas e campanhas, a bela trabalhava como trancista: por mais de dois anos, visitava domicílios e recebia a clientela na varanda de casa, onde morava com a família, no pequeno município de Camaçari.

Fazendo "trança-raiz", ajudava a mãe a manter a casa: "A gente morava em uma comunidade que era apelidada de 'invasão', no bairro da Calçada, em Salvador. Moramos lá por três anos: eu, minha irmã e minha mãe, dividindo o mesmo cômodo. Lá na comunidade, viviam mais parentes também - e muitas outras famílias carentes. Infelizmente, não tinha nenhuma estrutura básica", relembra.

"As tranças eu passei a fazer quando nos mudamos pra Camaçari. Eu aprendi sozinha, praticando. Treinava bastante no meu cabelo e no de amigas. Quando criança, minha vó fazia em mim e eu ficava apaixonada", recorda.

Recentemente, Tauana mudou-se para São Paulo, onde vem realizando o sonho de infância: trabalhar como modelo. "Desde muito nova eu ficava me imaginando em desfiles, brincava com os sapatos de salto-alto e as roupas da minha mãe", revelou.

"Além do trabalho de trancista, eu estudava e fazia muitos projetos na escola, com dança, teatro e capoeira. Também cheguei a trabalhar com atendimento ao cliente. Eu achava que trabalhar como modelo era um sonho muito distante de alcançar. A partir de 2018, comecei a fazer alguns ensaios fotográficos, sem muita pretensão, pra postar nas redes sociais - e foi assim que tudo começou!", relembra.

Descoberta por profissionais da moda, Tauana vem despontando desde então: em 2020, ficou entre as finalistas do concurso Beleza Black, na Bahia e, em 2021, virou aposta da WAY Model. Tauana também já estrelou trabalhos para grifes renomadas como Animale, David Lee e Torino, além de desfile no Dragão Fashion. "Hoje estou vivendo esse sonho que eu achava tão distante. Quero representar pessoas como eu, negra, de família humilde, vinda de uma comunidade, onde todos aprendem com pouco. De lugares que não tem muitos recursos e que buscam oportunidade. Mostrar que somos capazes de encontrar luz, apesar de todas as dificuldades", finaliza.

Elas no Tapete Vermelho
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